A comunidade do Sobral de Monte Agraço reuniu-se para celebrar e homenagear uma figura muito conhecida daquele concelho, José Vieira, que completou no dia 30 de Junho cem anos de vida.
Desde a Câmara Municipal à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, todos se juntaram à celebração de centenário de um homem cuja existência se confunde com alguns acontecimentos do próprio concelho. Desde logo a própria criação do município, já que José Vieira nasceu em Mouguelas, uma aldeia próxima da vila, apenas 28 anos após a criação do concelho do Sobral. Também os bombeiros e a festa de verão são pouco mais antigos que o aniversariante.
Os bombeiros foram, aliás, a sua segunda casa ao longo da vida, tanto que ainda hoje é tratado por “chefe José Vieira”, graças ao posto que alcançou no corpo daquela corporação, à qual dedicou 78 anos, 44 dos quais no quatro activo. Ainda hoje veste a farda em ocasiões especiais, como a do seu 100.º aniversário, sendo certamente um dos bombeiros mais antigos do país.
Chefe José Vieira
José Vieira frequentou o ensino primário na vila do Sobral de Monte Agraço e na escola de Almargem. Mas os tempos eram outros e a educação não era propriamente uma prioridade do Estado Português. De modo que acabou por concluir a terceira classe aos 14 anos, ao mesmo tempo que, em conjunto com o seu irmão, ajudava a mãe na casa de pasto que possuía. Também ia buscar peixe para vender no mercado do Sobral e ajudava o pai na propriedade que cultivava.
No entanto, a profissão que viria a exercer o resto da vida até se reformar, e pela qual ainda hoje é conhecido no Sobral e arredores, foi a de barbeiro. Aprendeu com o cunhado, na Barbearia Serreira, no centro da vila do Sobral. Casou depois da tropa e teve um filho, mas hoje é viúvo e o filho faleceu ainda novo.
Ao longo da sua vida também jogou futebol, no Monte Agraço Futebol Clube e em Alcobaça, e foi músico durante vários anos na primeira Banda Filarmónica do Sobral.
Uma história curiosa que José Vieira conta de antigamente, recuperada da sua ainda bem conservada memória, é o facto de ter pertencido a um grupo denominado “trinta e um”, que nessa altura servia para ajudar quem necessitava, antes do aparecimento dos atuais meios de ajuda social.
Era um grupo de 31 homens que se uniam por um acordo de cavalheiros e se comprometiam a ajudar-se mutuamente em caso de doença ou outra calamidade. Por exemplo, se algum dos do grupo adoecia e não podia ganhar para sustentar a família, os outros 30 estavam obrigados a dar ao necessitado um escudo por semana, enquanto durasse a doença”.
E adianta que não sabe explicar o motivo para o número de “sócios” ser de 31, mas era essa a prática. Que me lembre e tenha sabido, havia um outro ‘trinta e um’ aqui no Sobral, mais velho que o nosso. A contribuição de cada um só era dada quando havia doença, não havendo doença não se contribuía, não se juntava. Havia uma escala e um dos não doentes percorria todos os elementos do grupo, recolhia o dinheiro e entregava-o em casa do necessitado, enquanto a necessidade se verificasse. Claro que se verificava se a necessidade era mesmo real e não inventada. Este era, na altura, o único apoio que as pessoas tinham se estavam doentes”.
Foto: Maria Edite Gitinha
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