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João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

O anticomunismo. O PS. O futuro.

O anticomunismo é um ritual de conduta política de combate a um modelo social de organização social em defesa de um outro modelo de organização social em que os argumentos são inócuos por desconhecimento filosófico dos conteúdos de vinculo em discurso comparativo em que as diversas fases da evolução da organização e de estádios das civilizações são desconhecidos e, por isso, não comparáveis.

O anticomunismo primário é grave. Tanto na apreciação como na conclusão e, superiormente em análise da política social. Nesse sentido, em pleno século XXI, não perceber as movimentações de contestação popular e sindical consegue, no panorama das dinâmicas sociais, ser pior.

Olhemos o passado recente para não recuar muito na História. Basta um simples olhar ao período dos ano setenta, nomeadamente ao período designado por PREC-Período Revolucionário Em Curso, um período conturbado pós Revolução de Abril de 1974, para perceber porque é que Mário Soares se posicionou politicamente tão à esquerda muitos anos mais tarde.

É que, a razão política de um povo na complexidade dos seus segmentos sociais, Historicamente, tem sempre maior aderência e projeção quando existem condições políticas para isso. O período “Gonçalvista” em que o primeiro ministro era o general Vasco Gonçalves, foi o período em que a movimentação popular grevista mais se fez sentir e, dizem, era comunista. Nesse tempo, o Partido Socialista encetou e encabeçou um forte movimento pela liberdade e contra a possibilidade de uma ditadura do proletariado o que coloca uma questão curiosa:

  • então, se eram os operários que assumiam as lutas pelas nacionalizações e pela reforma agrária, porque carga de água haviam tantas greves?
  • Coisa estranha… ou, talvez não…

A questão é simples. Os movimentos populares só acontecem quando têm liberdade para isso. Que é o que atualmente existe. Liberdade!

No tempo do Passos Coelho, não havia essa liberdade. Não perceber estas dinâmicas empurra os partidos para posições totalitárias e por isso Mário Soares ficou mais desperto na sua fase pós atividade política.

Outra questão de fundo é o colapso da classe média que enfrenta níveis de perda de qualidade de vida impensáveis. Um sério risco social mas também político porque se o populismo a conquista o próximo governo da Nação será inquestionavelmente de direita. Por isso, o PS, se não tiver capacidade política em gerir o estado da Nação, pulveriza e, em vez de uma maioria, perderá votos para a direita neoliberal e para a esquerda que defende os valores.

Foi a percepção dessa alteração conjuntural da relação social no mundo laboral que levou a que políticos com a lucidez visionária de Mário Soares e outros militantes de relevo, onde incluo António Costa, Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno dos Santos e outros e excluo proeminentes dirigentes folclóricos, tenham mudado o PS no sentido da sua real fundamentação. A esquerda democrática.

Temos por isso uma luta ideológica interna instalada entre os que ainda pensam o Partido à luz do capitalismo liberal e os que defendem o Partido no espaço ideológico do socialismo democrático. Este é o problema interno do PS que urge resolver sendo que a revolução nas mentalidades não é uma tarefa fácil. Antes pelo contrário, É uma tarefa árdua e demorada porque mexe com toda a estrutura formativa do intelecto individual. Nesse sentido devia ser a regeneração gestacional a obreira desse trabalho, o que não acontece.

As novas gerações. As gerações do conhecimento e da inovação tecnológica. Tem dado mostras de completo alheamento da vida cívica e de atividade política. Condição que alteram quando entram no mercado do trabalho ou se defrontam com as dificuldades em nele entrarem. O PS não tem conseguido também, cativar para a sua militância este segmento social, a juventude, como o comprovam as associações em geral e as estudantis em particular.

Um trabalho a levar a cabo porque as práticas passadas já não surtem efeito em função da alteração de toda a estrutura social capaz de por si só e em função de contradições de interesse e de relação interativa gerar motivos.  Uma evidência clara que questiona já, a necessidade da existência dos partidos políticos no quadro da organização política e social das Nações e dos Estados. E, se para uns é óbvio que sim. Para a maioria não o é como indiciam a abstenção mais o protesto traduzido em votos nulos e em branco.

Hoje, a consciência política é um ato de formação e não de necessidade conjuntural e muito menos de raiz anticomunista ou anti o que quer que seja. A consciência política deve ser um ato de convicção existencial. O futuro dirá se o PS venceu esta batalha ou, perdeu.

Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

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