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João de Sousa

Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Viver por viver

Já estava naquela fase em que viver para ele era uma mera formalidade, o trago já não sabia a arrebatamento e a beata do cigarro era um mero exercício de rotina.Todos os ganhos haviam se dissolvido no tempo e alguns até ele mesmo tinha se encarregado do esbanjamento. Com cerca de sessenta e tal anitos , não tinha nem casa, nem carro, nem cara… Sim já não tinha cara, pois as necessidades, doenças e vícios transfiguraram seu vaidoso rosto.

Considerava-se azarado, mas os contemporâneos apelidaram-lhe falhado. Porque tentou de tudo mas parecia que uma nuvem negra cobria todos os seue projectos

– Não será má gestão? Este gajo também nunca teve juízo… Abandonou os filhos, não deu nem atenção, nem formação, nunca teve coração é um autentico egoísta.

Mas hoje a vida lhe cobra com extremismo. Verdade, os filhos perderam o carinho por ele, sempre se viraram sozinhos, um até foi morto na delinquência.

E agora anda ai, contando os remendos da estrada, só não se mata por vergonha.Dizem que suicídio é pecado

Rega a sua subsistência com pequenos biscates que vai alinhavando cada dia, ansiando a hora da partida. A vida negou-lhe tudo, até a morte rejeita abraça-lo.

A cada por do sol inspira formalmente e na nostálgica baforada solta todas as preces de arrependimento.

A autora escreve em PT Angola

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