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Sábado, Julho 27, 2024

Aretha Franklin, a dama do soul que encantou o mundo

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

Nesta quarta-feira (16) o mundo da música ficou de luto, em memória de Aretha Franklin.A canção Respect, gravada por Aretha Franklin em 1967, foi reconhecida como um hino da campanha pelos direitos civis nos EUA – luta que estava no auge na década de 1960.

A cantora foi vencida pelo câncer que a acometeu desde 2010, e – nesta quarta-feira (16) – o mundo da música ficou de luto, com a despedida desta que foi a cantora dos direitos civis e da luta das mulheres.

Aretha Franklin, que se tornou conhecida desde o enorme sucesso daquela canção-hino, foi uma cantora solidamente enraizada na cultura de seu povo – os negros e os trabalhadores dos EUA.
Foi também a rainha do soul – palavra usada, comercialmente pelas gravadoras para designar a música dos negros estadunidenses.

Formada musicalmente na paróquia que seu pai, Clarence LaVaughn Franklin, um pregador da Igreja Batista, dirigia em Detroit – e que foi um dos companheiros de luta de Martin Luther King – ela beneficiou-se da larga tradição da música evangélica e da convivência com muitos dos gigantes desta tradição, com os quais conviveu desde menina, na casa de seu pai. Entre eles a cantora de porte extraordinário que é Mahalia Jackson. Foram influências decisivas para ela.

Nos anos 60, sem abrir mão da militância política e social (foi ela, por exemplo, que pagou uma fiança para tirar a líder Angela Davis da cadeia), tornou-se cantora profissional, ganhando rapidamente enorme prestígio e sucesso. De tal maneira que a revista Roling Stone a classificou como a maior cantora de todos os tempos. Com razão – sua voz de mezzo-soprano é inconfundível e, usada com a elegância de Aretha, justifica tal classificação.

Uma das canções que gravou nos anos 60 tem o título de Lady of soul (A dama do soul). É um título que define a própria Aretha Franklin. O soul surgiu nos EUA, na década de 1950, como designação comercial para a fusão entre o rhythm and blues e o gospel, um gênero em que os negros dos EUA adaptavam sua música aos ouvidos brancos e racistas. A palavra soul foi usada desde então como sinônimo de música negra, desde aquele período de luta antirrasista intensa.
Teve forte influência também sobre o rock and roll, que dava os primeiros passos no cenário musical.

A fonte comum destes gêneros é o blues (palavra que, entre os estadunidenses, é associada à melancolia) e está solidamente enraizado nas canções de trabalho e nas canções religiosas (os spiritual) dos negros escravizados, sobretudo nos estados do Sul dos EUA, onde as grandes plantações – principalmente de algodão- eram tocadas a trabalho escravo. O blues ali nascido refletia diretamente a melancolia e o sofrimento daqueles homens e mulheres submetidos ao estatuto vil da escravidão. E que, inspirados na tradição africana de relatos orais – muitas vezes através de canções – nos quais contavam suas histórias – e que ficaram registradas em canções que se conservaram através do tempo, tendo sido gravadas por gente do porte de Louis Armstrong (cujo disco The Good Book é um excelente repositório daquelas canções).

Esta tradição, de canções do trabalho, que refletem as angústias e esperanças dos trabalhadores , é o solo fértil em que estão fincadas as raízes das canções que, na voz de Aretha Franklin, encantam o mundo.

Texto original em português do Brasil

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