Dizia-me a Autora deste belíssimo livro, escrito numa linguagem acessível, simples e cristalina, podendo afirmar-se mesmo, que perpassa a candura e a inocência poética da infância (que é o centro crucial do furacão da vida), e que vivamente recomendo, como quem me segreda sabiamente o silêncio das pedras que gritam e só o coração responde, que tinha de ser “eu” o prefaciador, assim mesmo como um pássaro que assobia aos seixos.
Obrigado digo eu vida que me trouxe aos meus sentidos!
Com uma sensibilidade à flor da pele, guiada pela lua, escreveu a história que dedica a filha que não teve. Não tenho dúvidas que se trata de uma poética “declaração” de amor incondicional à lua. A lua que cabe nas mãos do mundo que a abraça e ampara permanentemente, incondicionalmente.
Não falarei pois do Livro ou da história, mas irei deixando marcas nas águas índicas deste e da sua Autora, um pouco como os irmãos moçambicanos de etnia Makonde, que sabem que havendo uma aura de mistério e segredo rodeando a preparação das máscaras e a dança propriamente dita, sendo, por exemplo, importante que não se saiba a identidade do dançarino, todos querem ficar para descobri-lo.
Ela murmura esse segredo aos quatro ventos “lunares” e conta-nos como quem guarda muitas crianças dentro de si e precisa de respirá-las. Diga-se de passagem, que, sempre cúmplice, adormece ao colo da lua que a aconchega e serena. Há algo de mágico e revigorante neste “ritual”.
A lua faz parte desde sempre das mitologias das grandes civilizações antigas, mas também das contemporâneas e está presente em múltiplos aspectos e questões fundamentais das sociedades modernas, atravessando mares e oceanos, percorrendo continentes.
E quantas vezes não ouvimos falar dos mitos associados às noites de lua cheia?
O que dizer desta misteriosa relação de magnetismo puro que atrai amor, fascínio e medo em simultâneo, e que dominava N’WETI?
Esta menina que teve sempre o coração dividido entre a inocência pueril, a tradição mítica e a misteriosa, mágica, solitária e bela companhia amiga da lua, que nos ilumina e renova.
Mas quantas vezes não nos acontece desvalorizarmos o que temos por garantido e valorizarmos apenas o que não temos ou nos parece inacessível? E não é comum o temor ao desconhecido?
Só a vida e as circunstâncias ensinaram N’WETI que sentir a longa ausência da lua era como correr desesperadamente em volta de uma montanha e não encontrar a forma de lhe descobrir a passagem. E a planta da sua vida já não podia dispensar a presença e companhia reconfortante da lua.
Depois, dizem as lendas: «sempre que a lua nasce, nasce também algures um pequeno “princípe” ou “princesa” que iluminará o mundo com seu perfume singular».
A lua banha-nos a alma e a esperança adormecida.
Não nos esqueçamos nunca que as lendas são a poesia da história. Poderíamos viver sem elas?
Como dizia e bem KAHLIL GIBRAN , «existe um espaço entre a imaginação do homem e a sua realização, apenas transponível pelo seu desejo».
Oxalá, então, que sejam muitos os que querem embrenhar-se nesta história, com poesia da lua. E que fique eu definitivamente calado como um pássaro Xirico sentado aos pés de uma pedra, a ver entrar decidida e magicamente pelo ar dentro das pessoas esta história acetinada de sensibilidade da SÓNIA SULTUANE.
Karingana Ua Karingana…! Karingana!!!
Karingana Ua Karingana…! Karingana!!!
“A LUA DE N’WETI”
Este texto é o prefácio do livro de Sónia Sultuane “A Lua de N’WETI” (Editor: Editorial Novembro | 2014)
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.