Depois de arrancar a liberdade de Lula, o Judiciário brasileiro arrancou-lhe os direitos políticos neste 31 de agosto.
É um golpe contra Lula, derrubando-o da Presidência diante de sua inevitável consagração nas urnas. É o segundo e mais importante ato do golpe contra a democracia brasileira, desfechado há exatos dois anos quando o Senado derrubou a presidenta eleita por 54 milhões de brasileiros e brasileiras. Quem imaginaria a coincidência macabra para o país? Exatos dois anos depois.
Maldito agosto para o Brasil! No 22º dia do mês, em 1954, as mesmas forças econômicas, sociais e políticas que desfecharam o golpe contra Dilma e Lula, levaram Getúlio Vargas ao suicídio depois de um cerco semelhante ao que sofreu o ex-presidente mais popular da história nos últimos quatro anos. No dia 25, em 1961, Jânio Quadros tentou dar um golpe contra o Congresso Nacional ao renunciar para ser reempossado com plenos poderes e lançou o país no redemoinho que tragou-o no golpe de 1964. No mesmo 22 de agosto, outra morte, em 1976. Juscelino Kubitschek morreu na Via Dutra numa colisão sobre a qual pairam suspeitas de assassinato por ordem dos militares até hoje.
Agosto das mortes, agosto dos golpes.
Uma afronta aos eleitores, que têm manifestado reiteradamente nas pesquisas seu desejo de levar Lula à Presidência já no primeiro turno. As elites alegam: mas as instituições, mas a lei, mas as condenações. Que instituições? Que lei? Que condenações? Se todo o processo contra Lula está baseado no rompimento das instituições, na transgressão da lei, numa condenação que se iguala em tudo à condenação de Nelson Mandela pelo regime do apartheid na África do Sul? Em 1964, outra coincidência temporal trágica, Mandela foi condenado à prisão perpétua, como Lula agora -não nos iludamos, a condenação de um homem de 72 anos como Lula a uma pena superior a 12 anos não têm outra intenção senão a que mantê-lo no cárcere até a morte, considerando-se que o regime do apartheid brasileiro tem outras condenações no forno para somarem-se à primeira.
Em 2015/2016, as elites romperam a institucionalidade do país ao derrubar a presidenta eleita. Uma vez rompida a institucionalidade, somaram-se os atos de arbítrio, os abusos, as prisões, as censuras, as punições, os cercos um depois do outro, numa escalada rumo ao Estado Policial. O povo brasileiro rejeitou o rompimento com a institucionalidade definida pela Constituição de 1988. Não é por outro motivo que os líderes visíveis do golpe, Michel Temer e Aécio Neves, e seus representantes no processo eleitoral Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles, são execrados, tidos como vis e desprezíveis, como atestam as pesquisa que se sucedem desde 2015.
O exílio de Lula em Curitiba, sua prisão política e agora a cassação de seus direitos políticos causa escândalo em todos os democratas no Brasil e ao redor do mundo. A tal ponto que as Organizações das Nações Unidas (ONU), num ato raro, excepcional em sua história, decidiu manifestar-se sobre a situação brasileira e conceder uma liminar ao ex-presidente para que ele possa participar do processo eleitoral.
Mas, não. As elites -um punhado de pessoas ricas, milionárias, não mais que 1% do país, algo como 2 milhões de pessoas, decidiram impor sua vontade aos restantes 99% do Brasil -205 milhões de seres humanos. Assaltaram o poder, tomaram para si do comando do Estado, nos três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, respaldados por uma rede de mídias sob seu controle que não tem paralelo no mundo.
Tomaram tudo para si.
Fizeram outro agosto.
Maldito agosto.
Por Mauro Lopes, Jornalista e editor do 247 e do blog Caminho pra casa | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial Brasil247 / Tornado
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