“O fumo distingue-se do fogo que o causa”.
DMG
“Eu sou melhor do que eu”.
DMG
Sobre este livro de Luís Pedro Proença (o jurista poeta ou o poeta jurista?), direi em primeiro lugar que é intemporal.
Já o místico poeta indiano Rabindranath Tagore nos dizia “A vida renovada volta sempre a esse frágil vaso tantas e tantas vezes esvaziado. O tempo passa e tu continuas a fluir e há sempre espaço para receber as tuas dádivas”. A poesia é a dádiva maior.
Certo mesmo é que colhemos sempre o que plantamos e somos sem rebuço o que comemos.
Em segundo lugar, direi que as reflexões contidas neste livro zen sobre a verdadeira condição humana e a vida apesar de terem quatro mil anos de antiguidade, mantêm toda a actualidade. Sobre isso não tenho dúvidas.
São belíssimas reflexões pessoais sobre a forma zen de estar na vida e a visão sábia e útil desta via espiritual milenar sobre as relações pessoais, a felicidade, o ego, a fé e sobre a paz interior a que pode conduzir-nos.
Normalmente quando falamos de paz falamos da paz aparente, da paz “exterior”, da paz ilusória, da paz podre, de tão embrenhados que estamos na nossa vida material.
A iluminação espiritual tem algo a ver com o ponto do espírito onde o alto e o baixo, o interior e o exterior, o superior e o inferior, o sonho e a acção, a palavra e o acto, o real e o imaginário, deixam de ser percebidos contraditoriamente. Não há oposição, não há contradilção.
Assim que se começa a estudar o zen, uma árvore já não é uma árvore, um rio já não é um rio. Deixam de o ser. Assim que se atinge a iluminação espiritual, uma árvore é de novo uma árvore, um rio passa de novo a ser um rio que sempre foi. O método que consiste em não seguir nenhum método é desde sempre o método por excelência.
Alguém duvida? Eu não e jamais o poderia fazer.
O dia e a noite deixarão de opor-se. Na realidade, nunca se opuseram. Cria-se apenas uma ilusão de oposição que nunca existiu, não foi nem é.
A raiz comum na imaginação será reconhecida. Sendo o exterior à imagem do interior, a vida será uma autêntica obra de arte. Na verdade, uma obra-prima singular, única e inigualável.
O nosso intelecto é inegavelmente necessário e vital para compreender as próprias limitações.
Segundo a experiência e perspectiva zen, o verdadeiro conhecimento é inseparável da experiência vital imediata. És posto à prova sozinho para compreender o todo.
Mas se o homem olhar bem para dentro de si e estiver atento, adquire indubitavelmente a consciência superior da sua magnífica solidão, que o isola sim, mas não o separa do resto da existência. Torna visível esse cordão umbilical inseparável.
Aquele que é senhor de si mesmo, que é capaz de escutar, de ouvir o que os outros dizem e não dizem, penetrando na profundeza do pensamento com uma total,hábil e admirável agilidade mental, estará em condições indiscutíveis de compreender mil e uma coisas diferentes de uma realidade sem nome e sem forma definida, porque na verdade ilusória.
A definição, mais ou menos clássica ou mais ou menos académica e canónica, só satisfaz aqueles que querem rotular o conhecimento separado e separando-o da própria vida. O verdadeiro conhecimento não é rotulável nem hierarquizante e muito menos limitado. E nunca em momento algum deveria ser separado da vida.
O zen oferece-nos condições para que vivamos completamente livres do condicionamento das emoções em geral e das emoções negativas sempre nefastas, e da já quase eterna condição de alienados.
A humildade é portanto a condição número um para que tal suceda. Mas também não podemos esquecer a dedicação constante e diária para nos conhecermos e para vigiarmos o nosso comportamento inconstante e muitas vezes impulsivo e emotivo.
No que à grande quietude do poeta iluminado diz respeito, ele nunca está sereno por se dizer que a bendita serenidade é excelente. A serenidade não se finge. Ela vive em nós. Está sereno porque a enorme e gigantesca multidão de coisas não pode jamais perturbar a sua serenidade, jamais! Há portanto que cultivá-la e cantá-la.
As palavras fazem amor. As palavras-actos e não as que pressupõem actos.
Nós passamos a respirar as palavras – actos. Não há separação.
As palavras são actos e os actos são palavras.
E isto só é possível com o zen. Ou não? E o zen só pode ser vivido,vivenciado, não se fala.
Quando “trabalhamos” somos como flautas e no nosso coração o murmúrio das horas, do tempo soa como música. Uma música harmoniosa, com simetrias e geométrica.
E o que é trabalhar com amor? É tecer o nosso pano com os longos e esguios fios do coração, como se estivéssemos a tecer e moldar a roupa do nosso mais que bem amado universo em que vivemos e viveremos.
Recordando o grande e ascético poeta Rabindranath Tagore diremos então que: Sobre as tramas do nosso finito que é infinito e cuja tapeçaria bordamos quotidianamente nossas vidas, acaba sempre visível a mais ínfima nódoa!”
Por isso se torna vital a nossa harmonização interior para que expressemos um exterior muito mais transparente, mais sereno, sem a mácula da ilusão e encontremos finalmente a harmonia com o outro e o universo.
Perceber estas reflexões poderá decerto contribuir para conduzir e elevar o leitor a um patamar diferente do seu ser interior, a uma maior serenidade e paz interior, sem que, para isso, arrisque perder o seu lugar na sociedade de que faz parte integrante, de que é parte integrante. Sem que tenha de trocar esse lugar por um qualquer lugar de exílio, reclusão ou isolamento do mundo. O eremitismo é uma possibilidade livre mas não obrigatória.
E nós sabemos que o que vivemos é fruto do funcionamento fragmentado das sociedades actuais. Todos os dias reparamos e sentimos, mas não vemos cada vez mais pessoas tristes, isoladas, solitárias, carentes, desconfiadas, ansiosas e depressivas. Cabe-nos a nós sermos agentes de mudança. Assumamo-lo pois então!
Bayete poeta Luís Pedro Proença!
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