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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

As mentiras do Estadão sobre o incêndio do Museu Nacional

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

Como diz o povo, o vetusto jornalão do bairro do Limão, em São Paulo, perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. No editorial intitulado Os donos do incêndio, publicado nesta quarta-feira (5), o jornal O Estado de São Paulo trata da lamentável tragédia do Museu Nacional e, a pretexto do apoio à assim chamada “responsabilidade fiscal”, defende incondicionalmente os cortes nas verbas da educação feitos pelo ilegítimo Michel Temer e acusa, como responsáveis pelo fogo, os dirigentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O flerte com o fascismo trai os farrapos de tradição democrática que o jornal ainda tinha, e condena aqueles dirigentes universitários por exercerem seu legitimo direito de opção partidária. No afã acusatório que está de volta no Brasil do golpe de 2016, atribui também a seus partidos a responsabilidade pelo incêndio. E lamenta a autonomia universitária que dá à entidade acadêmica o direito de gerir livremente os recursos que obrigatoriamente o governo federal lhe repassa. “A responsabilidade pela manutenção e conservação do Museu Nacional cabe, portanto, à UFRJ” diz, abstraindo o fato de que o dinheiro repassado é mesmo escasso. Mal dá para pagar os salários de professores e funcionários, como o próprio editorial reconhece. Em 2014, a universidade recebeu R$ 2,6 bilhões. Em 2017, foram R$ 3,1 bilhões. O problema é que, nesse período, o valor gasto pela UFRJ com pagamento de pessoal saltou de R$ 2,1 bilhões para R$ 2,6 bilhões. O aumento de R$ 500 milhões foi para o funcionalismo”.

Mas a queda no repasse de verbas do governo federal para o Museu Nacional é real e está na origem da incúria cujo resultado foi a tragédia de domingo. Em 2011, o Museu recebeu, do governo federal, mais de um milhão de reais (R$ 1.053.000,00); em 2017, caiu para 643 mil – quase um terço a menos; em 2018, até agosto, diminuiu ainda mais: foram 98,3 mil reais, menos de 10% do que recebeu em 2011. Este é o retrato frio do descaso do governo federal, que está de costas para o país, desmonta o estado nacional, a cultura, a ciência e a pesquisa, e que o editorial do Estadão quer esconder, atribuindo, falsamente, a responsabilidade pelo incêndio aos partidos de esquerda aos quais os dirigentes da UFRJ escolheram para se filiar. Partidos que prestam grandes serviços à cultura e a democracia no Brasil, e rejeitam e combatem a “democracia” meramente formal e postiça dos ultraliberais expressos no Estadão e demais veículos da imprensa patronal e hegemônica.

A crueza do credo neoliberal do Estadão está clara nesta afirmação que lamenta, sem esconder, o pagamento a funcionários e professores.

Nesta altura o argumento do jornal conservador e ultraliberal cruza o limite entre o debate de ideias e a mera acusação, sempre repetida, que nega àqueles funcionários públicos o direito de filiação partidária – ainda pior se for a partidos de esquerda! – do tal “aparelhamento” pelos partidos: “chama a atenção na atual reitoria da UFRJ o seu aparelhamento político”. E lista, impudicamente: o reitor da UFRJ, Roberto Leher, a vice-reitora, Denise Fernandes Lopez Nascimento, os pró-reitores Maria Mello de Malta e Agnaldo Fernandes, cometem o crime de serem filiados ao PSOL. E os pró-reitores Eduardo Gonçalves e Roberto Antonio Gambine Moreira são filiados ao PCdoB.

Considera isso “um acinte”, e diz que a maior universidade federal do país é “controlada por dois partidos políticos”, e alinha as costumeiras mentiras da direita contra o PSOL e o PCdoB: “como se sabe, difundem uma ideologia excludente, avessa ao diálogo e tantas vezes inimiga das liberdades e garantias fundamentais”. Era mesmo melhor ter ficado calado do que proferir tamanhas falsidades, contra aqueles dirigentes universitários e os partidos de esquerda a que são filiados.

 

Texto em português do Brasil

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