Pais, professores e alunos vão desfilar, este domingo, com ardósias, cartolinas, e desejos materializados em palavras. Às 15 horas, a hora agendada, decidiram percorrer as ruas de Lisboa para desafiarem outros tantos a questionarem o paradigma do Ensino em Portugal. Do Tivoli, na Avenida da Liberdade, até à Praça do Comércio, querem trazer mais para a luta.
Por considerarem que o modelo de Ensino tradicional está “desgastado, antiquado e obsoleto” e não vai ao encontro das necessidades dos alunos e do seu desenvolvimento integral, os organizadores deste movimento apartidário querem enraizar novas metodologias de aprendizagens.
A marcha expressa várias chamadas de atenção. E ambiciona dar visibilidade a um grupo cívico que tem por objectivo enriquecer a formação integral dos alunos. Mas também pretende contrariar o ensino expositivo, pouco participativo e nada experiencial. Sem dúvida, mobilizar a sociedade para a mudança.
Estes são os propósitos do MAPPE – Movimento Pais, Professores, Educadores e Alunos Unidos, que é seguido nas redes sociais por mais de 50 mil entusiastas. Na sua extensa cartilha defende “alterações nas metas curriculares (mais curtas mas mais profundas), avaliações qualitativas (não só focadas em testes), verdadeira inclusão (todos podem aprender), aprendizagem activa (com a participação dos alunos), existência de espaços exteriores escolares (menos cimento e mais árvores) e a disciplina positiva (autoridade sem autoritarismo)”.
Educar diferente e “sem umbiguismo”
Insatisfeito com o Ensino em Portugal, o MAPPE lançou em 2017 uma petição pública online. Os subscritores foram quase nove mil e registaram mais de uma dezena de vontades. Depois de subir às escadarias da Assembleia da República, em Maio passado, o documento aguarda agora pelos novos trilhos.
Na petição intitulada “Transformar a Educação em Portugal. De uma vez por todas” o movimento considerava que os métodos de ensino tradicionais “não vão ao encontro das necessidades das crianças e jovens nem respeitam o seu desenvolvimento integral.
Por considerar que currículo actual “é extenso”, “superficial” e “não desenvolve o potencial das crianças”, quer que as escolas e os professores tenham mais autonomia e liberdade. “Aprender a fazer, a pensar, a articular conhecimentos em vez de aprender a decorar e a memorizar com o consequente fácil e rápido esquecimento”, é uma das propostas.
O MAPPE quer que os espaços das salas de aulas “deixem de ser mesas e cadeiras alinhadas, viradas para um quadro onde o professor é acima de tudo um transmissor inquestionável de conhecimentos”, como foi durante décadas
O MAPPE quer também que os espaços das salas de aulas “deixem de ser mesas e cadeiras alinhadas, viradas para um quadro onde o professor é acima de tudo um transmissor inquestionável de conhecimentos”, defendendo avaliações qualitativas sem a “frenética procura” das melhores posições nos rankings…
… E não quer que se forme para a competição, nem para o “umbiguismo, nem para a acumulação de riqueza, nem para o fosso cada vez maior entre ricos e pobres”. Assim, os promotores deste movimento cívico, querem contrariar o insucesso interior, “a noção de que a felicidade está intimamente relacionada com bens materiais e estatuto social”, e querem colaborar para formar cidadãos “para a empatia, para a comunidade, para a honestidade social e empresarial”.
Petição entregue em Maio
O texto dirigido ao Presidente da Assembleia da República, que foi entregue em Maio passado, critica ainda os edifícios escolares rodeados de cimento, sem terra, árvores ou elementos naturais: “os recreios são pobres e cinzentos, sem riqueza de estímulos”, “as crianças, sobretudo as mais pequenas, precisam de estar em contacto diário com a natureza, precisam de se sujar, de saltar, de correr, de construir o seu faz de conta com paus, pedras, folhas ou areia e de ficarem com a roupa suja e as unhas pretas”.
As crianças, sobretudo as mais pequenas, precisam de estar em contacto diário com a natureza, precisam de se sujar, de saltar, de correr, de construir o seu faz de conta com paus, pedras, folhas ou areia e de ficarem com a roupa suja e as unhas pretas”, defende o movimento
Um maior envolvimento das famílias e da comunidade na escola; estabilidade profissional dos docentes; reforço das equipas multidisciplinares para as crianças com necessidades especiais ou com dificuldades de aprendizagem; cargas lectivas mais reduzidas. Estes são também outros anseios dos encarregados de educação, professores… e alunos
Acreditam que a escola faz realmente parte da comunidade e que os todos podem ser envolvidos em actividades do quotidiano.”Cada vez mais é prática comum que jardins-de-infância e escolas com alunos do 1.º ciclo não permitam a entrada dos pais, com crianças a serem entregues e recolhidas na recepção, como se de mercadoria se tratasse”, critica o MAPPE, ao sugerir que “com regras claras e definidas, respeitando os limites e funcionamento das escolas, é possível que todos os intervenientes na educação das crianças façam parte de um todo que visa um interesse comum”.
“As crianças do 1.º ciclo são as que têm mais tempo de aulas com o acrescento dos trabalhos de casa. Sobra muito pouco tempo para simplesmente serem crianças, o que aumenta problemas como a hiperactividade, o défice de atenção, a depressão ou a ansiedade infantil”, pode ler-se no texto.
“Como dizia Paulo Freire: ‘Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda’. Não podemos esperar que a sociedade mude, mas sim fazer com que as escolas mudem, tornando-se um exemplo para a sociedade e contribuindo para que esta também se transforme a pouco e pouco”, conclui.
Receba a nossa newsletter
Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.