Depois de ter conquistado o prémio maior do Festival de San Sebastián em 2011, o catalão Isaki Lacuesta voltou a vencer o certame “donostiarra”, agora com “Entre dos aguas” um filme que, doze anos depois, segue a história dos dois irmãos ciganos protagonistas de “La Leyenda del Tiempo”, película realizada em 2006.
Isra e Cheíto, adolescentes no filme anterior, são agora um tipo que acaba de cumprir uma pena de prisão por tráfico de drogas e um outro que se alistou na Marinha. Regressam à ilha de San Fernando e o reencontro fá-los reviver a morte violenta do pai quando ainda eram crianças. Uma história de personagens que procuram redimir-se, refazer as suas vidas e reconciliar-se. Isto num cenário hostil já que no sítio em que vivem a vida não é fácil e a taxa de desemprego é elevadíssima.
Desta vez, o júri oficial esteve de acordo com os painéis de críticos dos principais jornais espanhóis que apontavam o filme de Lacuesta como o principal favorito ao galardão máximo do festival.
Prémios oficiais
Outro grande vencedor foi “Rojo”, filme argentino com co-produção com Bélgica, Brasil, Alemanha, França e Suíça. Obteve os prémios de melhor realizador (Benjamín Naishtat), melhor actor (Dario Grandinetti) e melhor fotografia (Pedro Sotero). A acção de “Rojo” decorre em meados dos anos 70 quando um homem estranho chega a uma pequena cidade de província e, sem motivo aparente, começa a agredir um conceituado advogado da terra. Um filme de mistério e vingança, em algumas partes um pouco monótono, mas com representações de bom nível.
O Prémio Especial do Júri foi para um excelente filme filipino, “Alpha, The Right to Kill” de Brillante Mendoza, retrato duro e contundente de uma sociedade marcada pela pobreza, pela marginalidade e pela corrupção policial.
A distinção para a Melhor Actriz foi atribuída a Pia Tjelta pelo seu desempenho em “Blind Spot”, filme norueguês de Tuva Novotny. Este é um filme muito curioso, feito num único plano-sequência (portanto sem montagem) e que conta um drama familiar que explode quando uma jovem adolescente tenta suicidar-se. Uma história de grande tensão, com uma construção invulgar e uma representação notável da mãe da jovem.
No que respeita às distinções do júri oficial a referência ao prémio para o melhor guião que foi atribuído ex-aequo a Paul Laverty, o habitual argumentista de Ken Loach, por “Yuli” e a Louis Garrel e ao veterano Jean-Claude Carrière, que muito escreveu para Buñuel, por “L’ Homme Fidèle”.
“Yuli”, realizado por Iciar Bollain, é a biografia romanceada do bailarino cubano Carlos Acosta (que se interpreta a si mesmo), o primeiro bailarino negro a fazer o papel de ‘Romeu’ no Royal Ballet de Londres. Desde a infância num bairro pobre de Havana até se tornar numa estrela do mundo do ballet, o filme não se limita a dar a imagem de alguém que vai ultrapassando as dificuldades e escreve o seu próprio sucesso mas retrata, ao mesmo tempo, a sociedade cubana. “L’ Homme Fidèle”, um filme francês com vastas influências da “nouvelle vague”, realizado e interpretado por Louis Garrel. Uma história de amores e desamores, ciúmes e traições por onde perpassa um humor refinado.
Pelo que até agora se disse o leitor ficará a pensar que a secção oficial de San sebastián/2018 foi muito boa. Nem tanto… De facto pareceu-nos melhor do que em alguns anos anteriores, mas continuamos a achá-la demasiado extensa (18 filmes em competição) e com alguns títulos perfeitamente dispensáveis. Vá lá que o júri desta feita não pregou grandes partidas e, globalmente, parece-nos ter premiado os melhores.
Outros prémios
De seguida referimos outros filmes que foram premiados no Festival.
- Prémio Novos Realizadores – “Jesus” de Hiroshi Okuyama (Japão)
- Menção especial na secção Novos Realizadores – “Viaje al cuarto de una madre” de Celia Rico Clavellino (Espanha/França)
- Prémio Horizontes – “Familia Sumergida” de Maria Alché (Argentina/Brasil/Alemanha/Noruega)
- Prémio do Público – “Un dia más con vida” de Raul de la Fuente e Damian Nenow (Espanha/Polónia/Bélgica/Alemanha)
- Prémio do Público / Filme Europeu – “Girl” de Lukas Dhont (Bélgica/Holanda)
- Prémio da Juventude – “Viaje al cuarto de una madre” de Celia Rico Clavellino (Espanha/França)
- Prémio Irizar (Cinema Basco) – “Oreina” de Koldo Almandoz (Espanha)
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