“Somos todos filhos da mesma história.”
DMG
De Moçambique surge-nos uma voz literária humilde, fresca, intensa, jovem, nova, apaixonada e promissora, que promete agitar e sublimar o microcosmo moçambicano da palavra: Manuel Chionga. É abençoado por Mandimba na província do Niassa.
Um vate inconformado da nova geração que nasceu na novel nação moçambicana em construção, onde campeiam ninhos de corrupção num processo complexo que em pirâmide começam muitas vezes nas cúpulas e terminam nas bases. Daí o apelo desafiador, perturbador, esclarecido e sereno de Chionga quando diz:
Tu que dormes alma inábil
colocada à sombra da corrupção,
Acorda ! Perante este tempo útil
Já é a altura de estares em acção.”
Até porque…, acrescenta luminoso:
…Ninguém é dono de tudo…”.Ele que sonha pacificamente mundos novos“…com um país sem distinção social,
…
onde o povo possa ser colocado em primeiro lugar
…
onde a riqueza possa ser distribuída pedaço por pedaço.”
E os gritos e prantos de revolta ecoam e ecoam sem fim , mas sempre com um inconformismo sereno e deveras sábio, não vá o diabo tecê-las! Sim, porque é possível a mudança, é possível cantar a beleza da mulher, da cidade, do campo, das árvores, das flores, do mar, dos peixes, do verde da paisagem, dos rios, dos vales, dos mangais e de tudo o que na poesia habita e que é livre, desejável e possível de ser cantado.
Para que o discurso de um país tão jovem em crise (ainda que momentaneamente), possa ter de facto retrocesso e se passe a cantar a esperança e a crença num novo homem que precede o homem novo prometido e conspurcado e ainda o antigo homem colonizado.
Moçambique, mais do que nunca , precisa fatalmente deste inconformismo, desta inquietude dos poetas para sair do marasmo em que caiu, apesar da ilusão da riqueza aparente ,dos mercados, das gigantescas pontes, das estradas circulares e dos arranha-céus. Não nos esqueçamos que são os homens que fazem uma nação grande ou pequena, independentemente do seu tamanho territorial ou da sua riqueza em recursos naturais. Como diz Delmar Maia Gonçalves “A inteligência dos poetas e escritores precisa de viver num mundo mais amplo do que esse a que as sociedades em que vivemos traçaram tão mesquinhos limites.”
Só poetas “descomprometidos” com os poderes vigentes e “comprometidos” com o povo anónimo, com a pátria, podem denunciar e alertar consciências distraídas e desalmadas de prosseguirem por estes caminhos obscuros e desviantes da viagem da vida. Poesia é vida! Mas que seja vida com esperança; sempre com esperança!
Bem haja poeta Manuel Chionga, pela coragem, pela poesia que nos impele e incita.
Bayete também pela opção do porvir contra o medo e a cobardia que nos domina!
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