Os espanhóis entregaram este domingo o destino do reino à Catalunha. Sem querer, porque votaram decerto em consciência, pulverizaram os votos de forma a ser necessário rapar o tacho dos grupos nacionalistas, para conseguir deputados suficientes no Congresso, para a soma de 176 lugares e consequente maioria.
Não é grave, mas coloca outra vez a questão da independência em cima da mesa. Artur Mas, o líder da revolta barcelonesa, deve estar a bater palmas sozinho, uma vez que a ele se deve esta cavalgada catalã e estes resultados de rapa-tacho. Os Socialistas Operários, de raízes republicanas esquecidas, e os republicanos do Podemos não conseguem chegar, sozinhos, à maioria. Ainda que se unam aos comunistas, reduzidos a um confeito.
À direita o PP, de Rajoy, também não singra nada, apesar de ser o mais votado. Mesmo com o murro do primo de Pontevedra, que um dia se perceberá, fica em lios nada recomendáveis. Se somarmos o PP ao coiso estranho que é o Cidadãos, uma espécie de PSD sem crença nem ideologia, também não chegamos a maioria nenhuma. Depois de esmifrar Espanha, de a desempregar e de a dividir, Mariano Rajoy tem um prémio. Pífio, porém.
A abstenção do PSOE e do Ciudadanos pode permitir investir o PP de Rajoy. No entanto o futuro líder do PSOE, a seguir ao jovem Pedro Sànchez, quererá endurecer a posição socialista e, acima de tudo, obreira (trabalhista) para recuperar a liderança da esquerda e atirar a matar ao jovem de rabo de cavalo, o Iglésias das manifs.
Espanha não tem mecanismos de garrote contra a democracia popular – o Rei não conta, como em Portugal o Presidente conta nestas coisas -, e todos os comentadores indicam novas eleições como caminho. Lá, como cá, esse será o caminho da birra dos partidos contra os eleitores.
A democracia, porém, é o contrário: o poder do povo apesar da vontade dos partidos. O PP, o PSOE, o Podemos e o Ciudadanos passaram, na noite de domingo, a fazer parte do sistema. Os eleitores sabem isso e estão prontos a explicar a todos que, se falharem em deixar o povo em paz, o povo votará, a seguir, no que tiver sido coerente, não competente em interesse próprio.
Lá, como cá.
Repito: lá, como cá.