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Segunda-feira, Novembro 4, 2024

António Guerra

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1913-1948)

Cidadão da Resistência que se bateu com extraordinária coragem contra o fascismo, sofrendo, por isso, a mais atroz repressão. Em 1934, liderou a Revolta da Marinha Grande e foi preso. Violentamente espancado e torturado, foi condenado a 20 anos de desterro em prisão. Esteve nas cadeias do Aljube, Caxias, Trafaria, Peniche, Angra do Heroísmo e no Campo da Morte Lenta, no Tarrafal. Morreu neste Campo de Concentração, em Cabo Verde, quando cumprira já 14 anos dos 20 a que fora condenado. Quase cego e muito doente, morre aos 35 anos[1].

Revolta de 18 de Janeiro de 1934, Marinha Grande

António Guerra nasceu na Marinha Grande a 23 de Junho de 1913, filho de António Guerra e Maria da Conceição. Residente no lugar de Salgueiro, Marinha Grande, fazia parte, com José Gregório, do grupo de vidreiros que construíram as estradas da mata, em 1929. Era empregado de escritório na fábrica de vidros Ricardo Santos Galo. Filiado no PCP, exerceu grandes responsabilidades na Região do Oeste tendo pertencido à direcção do comité da região.

Integrou um grupo que preparou, dinamizou e liderou a revolta de 18 de Janeiro de 1934[2]. Comandou a brigada que assaltou e tomou a estação de telégrafo e telefones da Marinha Grande e que negociou a rendição do posto da GNR.

Na sequência desses acontecimentos, foi preso a 27 de Janeiro de 1934 e iria ser acusado de chefiar a revolta e de ser detentor de bombas de dinamite (que utilizara para tomar a Estação de telégrafo-postal). Enviado para Lisboa (PVDE) pelo Comando da Polícia de Segurança Pública de Leiria, foi aí violentamente espancado e torturado e, de seguida, julgado em Tribunal Militar. Em 19 de Fevereiro de 1934 viu ser-lhe atribuída a pena de 20 anos de degredo com prisão e a uma multa avultadíssima[3]. Poucos meses depois, seguiu de barco (com outros condenados ao degredo) para a prisão de Angra do Heroísmo, onde ficou até 23 de Outubro de 1936. Nesta data foi transferido para o Tarrafal. No Campo de Concentração sofreu as mais brutais atrocidades. Tais que, em 27 de Janeiro de 1944, é trazido para Lisboa e mandado para o Hospital Psiquiátrico Júlio de Matos (Lisboa). Depois, passou pela Cadeia do Aljube (10/02/1944) e pelo Forte de Caxias – onde permaneceu, desde Março até Maio de 1944. Enviado para o Forte de Peniche em 23/05/1944, aí fica até 1948[4].

Em 1948 regressa a Cabo Verde, onde veio a morrer, aos 35 anos.

Morreu no Tarrafal, a 28 de Dezembro de 1948, tendo cumprido 14 anos de degredo, dos 20 a que tinha sido condenado.


Campo da Morte Lenta (Tarrafal)

 

António Guerra, falecido a 28 de Dezembro de 1948, no Campo de Concentração do Tarrafal

 

 

Sindicato dos vidreiros (foto da época).

 

Largo 18 de Janeiro, em Casal Galego, vendo-se as ruínas da casa que serviu de sede ao movimento e onde ocorreu a reunião preparatória na madrugada de 18 de Janeiro.

 

Familiares dos presos da Marinha Grande numa manifestação junto ao Governo Civil de Leiria, em 1935, pedindo a sua libertação.

 

Carta de António Guerra para sua sobrinha Ilda, datada de 20 de Julho de 1944, do Forte de Peniche, “carimbada” com o acintoso termo “Depósito de Presos de Peniche” sinal de ter sido sujeita á censura da direcção prisional. (Documento partilhado por Hermínio Nunes no grupo Fascismo Nunca Mais)

 

Em 1998, no cinquentenário da sua morte, Hermínio Nunes publicou uma obra biográfica (contendo também a sua correspondência com a sobrinha Ilda, ainda viva)

 

Jornal Avante! Noticia sobre a morte de António Guerra: “António Guerra assassinado no Tarrafal”

 

Cela disciplinar – Campo da Morte Lenta (Tarrafal)

 

 

[1] Um dos mais jovens e idealistas revolucionários que tomaram parte no movimento revolucionário de 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande, do qual foi o principal dirigente operacional, António Guerra sofreu a pesada pena de 20 anos de desterro, com duas idas ao Tarrafal, onde morreria, símbolo perene da motivação que presidiu e foi lema do “Campo da Morte Lenta” onde os prisioneiros iam para morrer.»

[2] Juntamente com José Gregório, Teotónio Martins, Manuel Baridó, Manuel Domingues, Pedro Amarante Mendes, Miguel Henrique e Manuel Esteves de Carvalho, reuniram numa casa em Casal Galego (hoje um museu), a partir da qual coordenaram as operações e a distribuição de tarefas.

[3] Multa de 20 000 escudos.

[4] A última carta de Peniche data de 1 de Março de 1948 e o jornal Avante de Junho informa do seu embarque para o Tarrafal.

 


Dados biográficos:

  • Ficha da Policia / Registo Geral de Presos (RGP)
  • Jornal Avante!: 18 de Janeiro de 1934 – Sementes de futuro

As fotografias do portal do PCP – Revolta da Marinha Grande – 18 Janeiro de 1934 – Uma Jornada Heróica

Biografia de Helena Pato, com a colaboração de Marília Tojeira Marques

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