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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Derrota da democracia abre nova etapa histórica para a resistência

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

Neste domingo (28), o Brasil foi às urnas, em segundo turno, para escolher o próximo presidente da República. A democracia foi derrotada.A eleição deste domingo mostrou, mais uma vez, as duas caras da brasilidade. Uma, civilizada, progressista e tolerante, votou pela democracia e escolheu a chapa Fernando Haddad/Manuela d’Ávila, não foi vitoriosa.

A outra face venceu, e elegeu o caminho da intolerância, do arbítrio e do conservadorismo, representados pela chapa de extrema direita encabeçada por Jair Bolsonaro.

Repetiu-se nas urnas a mesma encruzilhada histórica reiterada durante todo o período de independência, desde o Primeiro Reinado, de D. Pedro I, encruzilhada em se acentuou durante a República Velha, esteve no centro dos embates do período formalmente democrático da Constituição de 1946, e voltou à baila durante o regime discricionário de 1964 e a Nova República que o sucedeu: o choque entre o liberalismo contrário ao desenvolvimento social, político e econômico do Brasil, e o desenvolvimentismo cujo programa é o uso da força do Estado e do governo para fomentar o crescimento econômico do Brasil e garantir a democracia com ampla participação de todos. Dito de forma elementar, o conflito entre os interesses das camadas mais ricas da população e as demandas dos trabalhadores e empresários da produção, que estão no pólo oposto.

Este é o significado material e concreto do embate entre democracia e neoliberalismo. A democracia significa a defesa dos direitos do povo e dos trabalhadores, da soberania e independência nacional, da participação de todos na formulação de políticas adequadas ao interesse nacional. Ao contrário do neoliberalismo que, ao desprezar a participação popular mais ampla, preconiza o exclusivismo político apenas daqueles que, na escala social, estão nos andares cima.

O choque entre estes dois programas foi às urnas neste domingo. Muitos, temerosos da democracia mais ampla e de um suposto socialismo que ela poderia significar, acompanharam a pregação do candidato da direita. São aqueles que, mesmo muitas vezes aparentando – e declarando – uma opção pela democracia, temem a participação popular, medo que os levou a apoiar o discurso discricionário contra os direitos do povo, dos trabalhadores, das mulheres, negros, índios, LGBT etc., acenado à profusão durante a campanha eleitoral pelo direitista Jair Bolsonaro e seus acólitos.

Discurso baseado em mentiras e notícias falsas, que fomentam a violência, o ódio e a intolerância, e ameaça banir os “vermelhos”, socialistas, comunistas e progressistas da vida brasileira, num primeiro passo ditatorial que poderá se desdobrar, como sempre aconteceu, na perseguição implacável contra toda oposição e pensamento independente que venha a encontrar pela frente. No Brasil, foi o que aconteceu sobretudo nas ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e dos generais (1964-1985).

Ditaduras sob as quais inúmeros patriotas e democratas, de todos os matizes partidários, foram presos, perseguidos, torturados, mortos ou exilados, não importando se, no início daqueles regimes de força, tenham ou não apoiado aqueles que vieram a ocupar o governo.

A eleição deste domingo significa a abertura de uma nova etapa na vida política do país. A opção pela via do arbítrio e do atraso, da ameaça à democracia, da continência à bandeira dos EUA, que representa a prostração do Brasil perante o imperialismo.

O programa da direita, de Jair Bolsonaro, amplamente repudiado pela inteligência progressista de todas as cores políticas avançadas e democráticas no Brasil, configura a ameaça do pior ataque aos direitos do povo e dos trabalhadores, às conquistas civilizacionais alcançadas pelos brasileiros em décadas de luta. Que a direita vilipendia e ameaça romper em grau e profundidade maiores do que os próprios generais de 1964 ousaram fazer.

Programa direitista que só foi aprovado com base nas ilusões e mentiras de uma campanha eleitoral cuja lisura foi comprometida pelo enxame de notícias falsas contra a esquerda, a democracia e seus candidatos Fernando Haddad e Manuela d’Ávila, usando recursos das redes sociais à margem da lei que proíbe o financiamento empresarial de campanha, num crime eleitoral amplamente denunciado que maculou a campanha de 2018.

A resistência contra o autoritarismo que se avizinha desperta as forças democráticas e progressistas da nação, e junta mesmo aqueles que têm reservas quanto ao Partido dos Trabalhadores, mas rejeitam fundamentalmente o autoritarismo da direita. Convergência democrática que se configurou, ao final, no amplo movimento que uniu aqueles que não aceitam as consequências do golpe de 2016 que afastou a presidenta legítima, Dilma Rousseff, do governo e, nesta eleição, foi a matriz do retrocesso que tem em sua origem o traidor Michel Temer.

Amplo movimento democrático que, a partir de agora, será o grande estuário da resistência democrática, que prossegue, vai aprofundar a luta contra o fascismo e exigir a volta do Brasil aos rumos democráticos com desenvolvimento, direitos para todos, valorização do trabalho, distribuição de renda, inclusão social e valorização altiva da soberania nacional.

 

Texto em português do Brasil

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