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Domingo, Dezembro 22, 2024

Eu, o grande Omar Sharif e o incrível mundo actual

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Sempre que vou viajar pela Europa, antes de chegar a qualquer sala de embarque dos aeroportos, passo sempre pela rotineira confirmação do check-in, verificação e embarque das bagagens de mão. E, invariavelmente, inicia-se o grande e indispensável ritual de segurança (fico simultaneamente sem o fio, pulseira, auriculares, cinto, relógio, sapatos, telemóvel, computador portátil, máquina fotográfica, garrafa de água, perfume, gilete e, quase surrealisticamente, sou bombardeado com perguntas indiscretas). Normalmente sobram-me apenas as calças, a camisa, as cuecas ou rabecas (depende da perspectiva) e as meias que, como é óbvio, com o calor e a transpiração já cheiram a chulé!

Depois, sou sempre invadido pelo segundo ritual, chamar-lhe-ei digamos assim, de apalpamento! E não me interpretem mal, por favor! É sempre cumprido religiosa e rigorosamente por um qualquer desconhecido marmanjo a quem chamam obviamente de senhor segurança. Tenho de agradecer aos generosos e sábios imãs, mullahs e ayatollahs das grandes fraternidades da Al-Qaeda e Isis, mais os seus aliados “naturais e anti-naturais” por esta redobrada prudência nos embarques, suponho.

Em certa ocasião, numa dessas viagens, em que eu não estava nos meus dias angelicais e serenos, saltou-me a tampa e soltei os meus cães negros disparando indignado com uma pergunta lógica no meu parco inglês macarrónico:

Porque me está este senhor a apalpar com tanto entusiasmo?”

Resposta pronta e seca da senhora observadora chefe de segurança do aeroporto:

Talvez seja porque o senhor é muito parecido com o Omar Sharif!”

É claro que não desarmei. Serenei e soltei um breve e leve sorriso. Finalmente, descobrira nesse dia que tenho semelhanças ainda que remotas, com este famoso galã romântico egípcio e árabe da década de 60 que fez carreira de sucesso em Hollywood.

E não pude deixar de pensar (cá para os meus botões), que hoje sou indiscutivelmente mais bonito do que ele (com a autoestima elevada, pois claro), mas não deixa de ser uma honra enorme ser comparado ao ícone egípcio e velho “leão” do deserto que conquistou a grande Hollywood. Só não tive a sorte de desposar a diva egípcia Faten Hamama, considerada um tesouro da terra dos faraós, com quem teve um filho Tarek el-Sharif, e que se recusou a regressar ao Egipto com Nasser no poder.

Objectivamente este episódio obriga-me a rever a minha árvore genealógica!!!

 

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