A mobilidade, quando pretendida em urbanização já existente e que não foi devidamente planeada aquando da sua projeção e respetiva construção, ou, se o foi, foi-o para a época tendo em atenção a realidade conjuntural existente, – e só essa – , só é possível de concretizar se os índices de construção e a dimensão das suas infraestruturas viárias o permitirem.
Se o não permitirem, não adianta rigorosamente nada andar a inventar soluções quando as não há, para solução nenhuma, como aconteceu recentemente nas obras realizadas na Rua Nova de Santa Cruz e parte da Rua da Fábrica aonde se manteve a cegueira política de empurrar o transito para uma saída de perigo extremo e sem visibilidade no caso da Rua da Fábrica sobre a rotunda existente e de alta densidade de tráfego e, a saída da Rua Nova de Santa Cruz para o sentido Norte. Assim como o parqueamento de automóveis que colide com o espaço destinado ao peão e em completo desacordo com as regras do bom senso e do direito de deslocação de cidadãos com mobilidade reduzida.
O desnivelamento para seguimento alinhado da citada Rua Nova de Santa Cruz para a Rua de D. Pedro V ficou para as calendas mais por falta de engenho e arte do que por falta de dinheiro uma vez que o montante do investimento feito na cosmética com que o município premiou o traçado visado, presumo, foi superior à construção de uma passagem desnivelada para automóveis e peões e respetivos acessos laterais rodoviários e pedonais.
O Urbanismo de hoje é uma solução completa e sem qualquer complexidade.
Depende exclusivamente da forma como se “leem” os indicadores da localidade aonde se vai intervir tendo em atenção:
- o espaço;
- as necessidades físicas e sociais;
- o ambiente e a biodiversidade;
- as infraestruturas;
- os equipamentos;
- o património;
- outros;
A monitorização inteligente de todas as suas redes:
- viária;
- rodoviária;
- transportes;
- água;
- resíduos;
- energias;
- outros;
A fluência efetiva de todas as suas malhas de forma a que tudo seja mais célere na eficácia e no resultado.
Só assim as cidades responderão fisicamente às necessidades das pessoas e estarão preparadas para os embates do futuro.
As cidades de construção a pedido, de forma avulsa, para beneficiar alguém, sem critérios de sensibilidade e inteligência política a que se deve acrescer a responsabilidade para com os seus eleitores, serão sempre cidades sem qualquer qualidade de vida e que não reunirão condições para fixar as populações do futuro.
Ora, a cidade de Braga, começa a raiar o limite daquilo que não deve ser uma cidade que se autoproclama como sendo uma cidade virada para o futuro, física e socialmente. E que nesse sentido o seu edil anda a promover além-fronteiras.
O seu urbanismo é desconexo e a mobilidade dentro do seu espaço é a possível num cenário de completo desajustamento às necessidades atuais dos seus cidadãos tendo em atenção a sua dimensão e a dispersão da localização dos seus equipamentos.
Sendo que, ambos, urbanismo e mobilidade, deveriam objetivar a qualidade de vida do cidadão assim como promover a harmonia entre o Homem e o seu habitat. Coisa que não acontece.
Assim sendo, penso que, um urbanismo que não contemple a mobilidade como elemento fulcral aquando da sua implantação, resultará sempre num emaranhado de betão e demais materiais cuja demolição a prazo é a única solução inteligente a tomar, por única, uma vez que os remedeio nada resolvem, ficam demasiado caros, e os cidadãos já não contemporizam com esse tipo de medidas políticas que não evidenciam capacidade governativa.
Penso também que a linearidade técnica dos atos sempre foi a mais discutível por falta de articulação política clarividente em todos os domínios.
A atrofia derivada complica os objetivos fundados do senso comum e coletivo em proveito de objetivos individuais ou de grupo, o que origina a sinuosidade dos processos e, por arrastamento, o comprometimento de soluções futuras num quadro em que a demolição é solução impossível por atentar contra o direito e, sobra por isso o remedeio como sendo a única alternativa.
Um remedeio que tem tido, na cidade, um custo social acrescido inverso ao prometido por quem a governa aquando da campanha eleitoral autárquica de 2013.
“Custo” esse que uns consideram: “violação do PDM”. Outros “ocupação de zonas de equipamentos”. E outros, fazer “jeitos” a privados em detrimento do interesse público.
Talvez por isso mesmo, o esforço que se exige aos técnicos intervenientes na malha urbana da cidade seja de enorme capacidade criativa a que só uma formação intelectual adequada consegue responder:
- na implementação das novas soluções no âmbito das “cidades inteligentes”;
- na reformulação da malha urbana do edificado existente;
- na implantação de novo edificado;
- na resolução dos problemas existentes com soluções de continuidade futura;
Todos sabemos que não é fácil conjugar interesses antagónicos resultantes de carga ideológica de quem exerce o poder autárquico entre aquilo que é o interesse publico e aquilo que é o interesse privado.
Mas também sabemos que o poder de onde emerge essa carga ideológica, é efémero.
Aquilo que não é efémero é a cidade que fica para uso das gerações do futuro e para os desafios a enfrentar em que a sua versatilidade será posta em causa, geração a geração, acompanhando a evolução global dos povos e das civilizações.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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