Há alterações de monta na paisagem política francesa, onde também floriram alguns paradoxos, após estas semanas de revolta dos Gilets Jaunes.
Sociólogos e especialistas de estudos de opinião, armados de dezenas de questionários, foram para as rotundas e outros pontos ocupados pelo movimento dos Gilets Jaunes para tentar perceber quem são aquelas pessoas, o que as move, o que pretendem e como se situam politicamente.
Primeiras conclusões:
- são as “classes populares e médias” que compõem o movimento;
- sobre o que as move e o que pretendem, três coisas se destacam, o poder de compra (citado por 53% dos interrogados), a baixa dos impostos (46%) e a desigualdade na distribuição da riqueza criada (20%);
- sobre a sua posição política, um 1/3 recusa qualquer posição política e dos restantes 2/3 há 46% a classificar-se de esquerda, 16% de extrema-esquerda, 13% de direita, 6% de centro e 5% de extrema-direita.
As sondagens eleitorais mais recentes destacam, entretanto, a afirmação do soberanismo e de líderes políticos exteriores ao “sistema”, o descalabro do partido de Macron, ‘La Republique en Marche’, e o acentuar do desaparecimento dos partidos da esquerda institucional.
Assim, o ‘Rassemblement National’ de Marine salta de 20% para 24%, a ‘La République en Marche’ cai abaixo dos 20%, os ‘Insoumis’ de Mélenchon caiem para 9%, o soberanista Nicolas Dupont-Aignan alcança os 8,5%, tanto como os ecologistas, o PS reduz-se a 4% e o seu dissidente Benoît Hamon a 3,5%…
Laurent Joffrin, director do Libération, pensa ver desenhar-se, no conjunto destes resultados, uma “tendência paradoxal”. Um movimento composto por gente que se define, maioritariamente, à esquerda dá uma clara dinâmica de vitória eleitoral… à direita.
Parece, realmente, paradoxal. Mas será que o é? Não será a miragem de um paradoxo? Para que fosse um paradoxo, as grelhas de leitura de há dois ou três anos teriam de continuar adequadamente operacionais… Mas será que continuam? Certamente que não…
Outro paradoxo (e este bem real): observadores e analistas continuam a olhar para a paisagem como se ela não tivesse mudado e continuam a “lê-la” com os instrumentos de um ‘ontem’ que pode ter sido há escassos anos mas, de facto, já é ‘pré-história’.
O movimento dos Gilets Jaunes merece mais capacidades de ‘leitura’. Exige-as, mesmo. As elites, porém, estão a falhar em toda linha essas (e outras…) exigências. E este fracasso é mais um paradoxo.
Exclusivo Tornado / IntelNomics
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