Charlie Parker foi uma das figuras mais inovadoras do jazz e, em particular, do bebop. Tocando uma música mais introspetiva, os arranjos nunca foram para ele uma barreira e ficou conhecido como um dos expoentes máximos do improviso.
No entanto, foi sempre um homem perturbado, para quem o uso de drogas e o alcoolismo foram de longe o principal problema. Como músico era um génio, podendo-se afirmar que foi um dos nomes que mudou de forma mais robusta a da história do jazz.
Charles Parker Jr veio ao mundo no “caldeirão do jazz” que era Kansas City. Nascido a 29 de agosto de 1920, era filho de uma mãe adolescente e de um músico itinerante. Segundo os relatos conhecidos, teve uma infância normal, mas sempre distante do pai, mais interessado no jogo de apostas do que em ser pai. Aos 11 anos, Parker morava no”bairro do jazz” de Kansas City e seu pai já saíra de casa, deixando à sua mãe a tarefa de o educar. Charlie vivia obcecado com a música e a vida dos músicos,que ele via passar no cruzamento da Rua 12 com o Vine (On the corner of Twelfth Street and Vine, with my Kansas City baby anda bottle of Kansas City wine, como refere uma conhecida letra de Wilbert Harrison). Foi por essa altura que começou a tocar saxofone. A sua mãe era empregada de limpeza num edifício de escritórios e, quando ele fez 14 anos, conseguiu juntar dinheiro para lhe comprar um saxofone alto em segunda mão.
Aos 16 anos Charlie Parker já era casado com a sua namorada de infância, Rebecca Ruffine praticava intensamente saxofone, por vezes mais de 15 horas diárias. Tocava em bandas locais dos arredores de Kansas City, onde foi aperfeiçoando a sua técnica escutando orquestras como as de Count Basie e Bennie Moten. No final do verão de 1936, num espetáculo no Reno Club em Kansas City, uma altercação com o baterista de Count Basie, Jo Jones, levou Parker a abandonar o palco com um travo a humilhação. No entanto, apesar de ter abandonado os palcos durante um ano, este episódio acabou por ter um efeito seminal na sua carreira, dele tendo ficado a sua indómita vontade de ser alguém no jazz e algum ressentimento para com a orquestra de Count Basie.
No inverno de 1936 Parker conseguiu trabalho na Clarence Musser’s Tavern, um resort de férias em Eldon, nas Montanhas Ozark. Na viagem para Eldon com a sua nova banda, Parker teve um acidente de automóvel, no qual fraturou três costelas e a espinha. Deste acidente ficaram-lhe dores frequentes, que procurava minorar com analgésicos e opiáceos, como a heroína. Começou aqui o seu negro percurso com a droga, que havia de manter até ao final da vida. Foi nesta altura que melhorou significativamente a sua técnica e execução, com o apoio de Jay McShann, pianista da banda e que lhe havia de dar a alcunha de “Yardbird”, posteriormente encurtada para “Bird”, que o acompanhou até ao final da vida. Com Jim aprendeu tudo o que podia sobre harmonia, ouvindo até à exaustão solos famosos, que estudava e decorava. O jazz entrou definitivamente no seu ADN e Parker tornou-se um improvisador brilhante.
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