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Sábado, Novembro 23, 2024

Feliciano Falcão

Helena Pato
Helena Pato
Antifascistas da Resistência

(1911 – 1988)

Personalidade íntegra de republicano, médico de profissão, era muito respeitado no concelho de Portalegre, onde nasceu e onde viveu grande parte da sua vida.

Figura destacada da Resistência e do meio intelectual portalegrense, é lembrado por muitos que o conheceram pessoalmente e outros, que aprenderam a respeitar o seu nome pelo que dele ouviram contar. Participou activamente em todas as campanhas eleitorais pela Oposição, fossem legislativas ou presidenciais, desde 1947 até 1974.

Formação pessoal e académica

Nasceu na Ribeira de Nisa, Portalegre, a 7 de Setembro de 1911 e faleceu na Alemanha a 17 de Agosto de 1988.

Aos 15 anos entrou para Escola Industrial de Portalegre, a fim de fazer o curso de serralheiro mecânico e, no ano seguinte, foi eleito secretário do conselho fiscal da Liga da Mocidade Republicana, agrupamento cultural e político criado por Jaime Cortesão. Em 1928 foi indicado para representar a escola numa recepção ao general Carmona, mas recusou e só acabou por aceitar por ser ameaçado de expulsão. Completou nesse ano o 5.º ano do liceu e o curso de serralheiro mecânico e, depois, prosseguiu os estudos em Santarém. Completado o curso liceal, matriculou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, mas decidiu prosseguir o curso no Porto e, a partir do 3.º ano, em Lisboa, onde se formou. Fez também o curso de Medicina Sanitária no Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge. Depois, fixou-se em Castelo de Vide, onde foi médico municipal. 

Professor na Escola Industrial de Portalegre, foi médico municipal no concelho de Portalegre, entre 1939 e 1944, e médico da Casa do Povo de Alegrete entre 1942 e 1944). Depois, pediu licença ilimitada para se dedicar ao laboratório de análises clínicas que montara em Portalegre, para o que se especializara no Hospital de Santa Marta (1944-1946).

Activa participação cívica

Aderiu ao MUD em 1947 e a sua actividade política fez com que fosse excluído do concurso para assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa e não tivesse sido aceite no Hospital da Misericórdia de Portalegre. Foi um dos fundadores do Cineclube de Portalegre e proferiu diversas conferências sobre temas culturais. 

Participou activamente em todas as campanhas eleitorais pela Oposição, fossem legislativas ou presidenciais, desde 1947. Nos anos 60 fez parte da Acção Democrato-Social. Foi candidato suplente da CDE, por Portalegre, nas eleições de 1969. 


Cartazes das eleições presidenciais, 1949


Colaborou na organização do 3º Congresso da Oposição Democrática, que se realizou em Aveiro, em 1973. 

Em Novembro de 1973, foi director-interino e director do semanário A Rabeca, onde colaboram nomes como Nuno Teotónio Pereira e Fernando Mascarenhas. Chegou a militar no PCP. 

“A pessoa mais culta de Portalegre”

Frequentava a Tertúlia do Central, em Portalegre, onde, em torno de José Régio, confraternizavam personalidades de reconhecido valor no campo da cultura, como Arsénio da Ressurreição, Firmino Crespo, Renato Torres, João Tavares, Ventura Reis, entre muitos outros e por onde passaram David Mourão Ferreira, Eugénio Lisboa, Ruy Serrão, quando aqui prestaram serviço militar e José Maria Rodrigues da Silva que aqui foi subdelegado do INTP. Feliciano Falcão era então considerado por muitos como “a pessoa mais culta de Portalegre, com uma bagagem cultural muito vasta, abrangendo os ramos mais diversificados, que abordava com fluência de linguagem, capacidade de expressão, e exprimindo sempre profundos conhecimentos”.

Depois do 25 de Abril afastou-se da actividade política partidária.
Em Portalegre foi atribuído o seu nome a uma rua.

Feliciano Falcão, Memória Viva

E o meu pai sorria e o seu sorriso era sempre doce. As suas sobrancelhas grossas e despenteadas elevavam-se ligeiramente, na face direita surgia uma covinha prolongada e o seu riso era interrompido, mas ele continuava alegre. Gostava muito de o olhar, porque, mesmo quando o meu pai estava sério, nunca tinha um ar sombrio ou impenetrável. Havia sempre uma luzinha a brilhar nos seus olhos, que nos incitava a falar, a fazer perguntas. E havia sempre tempo, disponibilidade e um gesto terno que nos arrastava na descoberta de um novo diálogo»

In Feliciano Falcão, Memória Viva, António Ventura, Edições Colibri, C. M. de Portalegre, 2003, ISBN 972-772-440-X


Dados biográficos


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