De um Brasil que não existe mais. O Brasil de Tom Jobim, Vinicius, Toquinho, ou de Chico Buarque, Caetano Veloso, de Roberto Carlos. O Brasil de Jorge Amado, de Graciliano Ramos, de Machado de Assis.
De Ariano Suassuna, na sua obra mais famosa adaptada brilhantemente, de uma forma ímpar para o cinema e para a televisão do seu “Auto da Compadecida”, com as prestações inigualáveis e singulares do grande Marco Nanini, de Matheus Nachtergale e de Selton Melo. Ou de Roberto Drummond, no seu mais do que excelente romance “Hilda Furacão”, mais tarde igualmente adaptado para a TV em irrepreensível minissérie. E quem conhece a obra e dos homens mais extraordinários, dotado de uma intelectualidade e de uma acuidade deslumbrantes que já alguma vez existiu – Darcy Ribeiro. Quem o conheceu, ou quem o lê, facilmente chega à conclusão que um ser assim, só podia ter sido brasileiro. Há nacionalidades e pertenças assim. Onde nascem e se criam personagens que mais parecem saídas de algum imaginário, tal a sua originalidade e capacidade de ser tudo numa vida só.
“Acho que sempre tive consciência clara de mim. Clara e contente, até alegre. Não me arrependo de nada do que fiz. Arrependo-me, isto sim, de alguns malfeitos que não fiz. Tenho um sentido agudo do Brasil como desafio posto a todos, mas principalmente a mim. Como promessa de uma civilização ecuménica e feliz. Vejo-me como servidor público, o estadista que nasceu para forçar o Brasil a dar certo.”,
são algumas das inumeráveis frases sobre o amantíssimo Brasil de Darcy Ribeiro.
Violência assustadora
Caminhar hoje tranquilamente em Copacabana, Ipanema, ir até à Barra (da Tijuca) ou até Santa Teresa é hoje uma aventura das mais temerárias. Longe vai o tempo em que se passeava a qualquer hora do dia ou da noite sem se pensar em ser-se assaltado ou ter a vida em risco. E se a violência fazia parte das grandes cidades como Rio, S. Paulo ou Salvador, hoje ela está por todo o lado e por todo o Brasil. Cidades médias, pequenas, nos Estados do Sul – menos Brasil, mas Estados também fascinantes pela ascendência mais acentuadamente europeia. Quem viveu no Brasil – o meu caso – sente uma nostalgia e um profundo lamento. Um país admirável, que se basta a si próprio, de potencialidades sem fim, com todos os seus problemas e embates, tão maravilhoso seria se esta violência simplesmente inexistisse. Para quando uma solução que acabe com ela – e que todas as desigualdades sociais, educacionais e económicas em nada a justificam, pois que para isso temos os exemplos de outros países mais pobres e mais desiguais onde ela não se faz sentir – é a questão a colocar. Até lá, mal se vive com saudades do Brasil.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90