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Domingo, Dezembro 22, 2024

Acusações de Di Maio contra França levantam poeira

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Luigi Di Maio, vice-primeiro-ministro italiano acusou França de continuar a colonizar e explorar África e contribuir para a imigração em grandes números para a Europa.

A UE deveria impor sanções à França e a todos os países como a França, que empobrecem a África e fazem com que essas pessoas saiam, porque os africanos deveriam estar na África, e não no fundo do Mediterrâneo”

“Se as pessoas estão a sair hoje, é porque os países europeus, a França acima de tudo, nunca pararam de colonizar dezenas de países africanos”, disse Di Maio e afirmou que se não fosse pela África, a França seria a 15ª entre as economias mundiais, e não estaria entre as seis primeiras.

As declarações de Luigi Di Maio, no passado domingo, eleito pelo “Movimento 5 estrelas”, não foram bem-recebidas por Paris e despoletaram uma crise diplomática entre os dois países.

Apesar do primeiro-ministro Giuseppe Conte ter tentado acalmar a disputa na terça-feira, destacando a “sólida amizade” dos dois países, o ministro do Interior, Matteo Salvini, não hesitou em agravar a situação classificando o presidente francês Emmanuel Macron de “presidente terrível”.

O vice primeiro ministro Di Maio, que também é ministro do trabalho e da economia, acusou ainda a França de manipular as economias dos países africanos que usam o franco CFA, uma moeda da era colonial apoiada pelo tesouro francês.

“A França é um desses países que, imprimindo dinheiro para 14 estados africanos, impede o seu desenvolvimento económico e contribui para o facto de os refugiados partirem e depois morrerem no mar ou chegarem às nossas costas”, disse.

Se a Europa quiser ser corajosa, deve ter a coragem de enfrentar a questão da descolonização em África.”

Di Maio não levantou uma questão nova, a controvérsia sobre o controlo e exploração económica de França sobre os 14 países que têm o CFA (Franco Africano) é antiga mas recentemente encontra cada vez mais resistência nos países Francófonos.

Vários activistas e lideres de países africanos francófonos já fizeram declarações explosivas sobre o CFA (moeda usada em Senegal Mali, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Benin, Togo, Camarões, Chade, Gabão, Republica do Congo, Republica Centro Africana, na Guiné-Bissau e na Guiné Equatorial) e que é um dos factores apontados que impede o desenvolvimento e crescimento destes países.

Em verde o franco CFA ocidental, em vermelho o franco CFA central (Fonte:Wikipédia)

Em 2017, Kémi Séba, foi expulso do Senegal depois de ter queimado uma nota de 5.000 CFA num protesto público.

Em 2015 nas comemorações do 55º aniversário da independência do Chade, o presidente Idriss Deby declarou: “devemos ter a coragem de dizer que há um cordão que impede o desenvolvimento na África que deve ser cortado referindo-se ao CFA.

Segundo declarações de Guy Marius Sagna, activista senegalês, “debater os méritos do franco CFA é como discutir as vantagens e desvantagens da escravidão”. 

No livro “Tirar África da servidão monetária. Quem beneficia do franco CFA?” os autores explicam a história e o funcionamento do CFA e realçam que ao contrário da crença popular, a paridade CFA – euro dificulta a unificação dos mercados africanos, abordando ainda as consequências sociais sentidos na África francófona, que são multiplicadas pela desigualdade do comércio.

O CFA é emitido desde 1945 e indexado ao franco francês, o franco CFA desde 1999 está indexado ao euro. Actualmente, um euro vale 656 francos CFA.

Enquanto o banco central francês garante a moeda, os 14 países que o utilizam têm que depositar metade de suas reservas cambiais numa conta do tesouro francês.

Os 8 países donde chegam a grande maioria dos refugiados à Europa são originários da Guine Conacri, Marrocos, Mali, Síria, Afeganistão, Iraque, Argélia, Costa do Marfim e Tunísia. Sendo que o Mali e a Costa do Marfim têm o CFA e apenas o Afeganistão e o Iraque não foram colónias francesas.

Os ataques de Di Maio à França tiveram o mérito de por a imprensa “mainstream” a analisar, embora de forma tímida e superficial, as ingerências europeias em África.


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