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Domingo, Dezembro 22, 2024

Partido da classe dominante, o Novo, quer o velho Brasil

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

O Partido Novo tem alardeado por aí que quer devolver para os cofres públicos os R$ 4,3 milhões que já recebeu do Fundo Partidário. Isso pode até parecer um desprendimento, uma atitude altruísta que só visa o bem comum. Mas, se olharmos direito veremos que a real intenção do Partido Novo com esse tipo de demagogia é destruir o Estado, destruir os partidos políticos e, com isso, destruir o bem comum.

Em primeiro lugar, ao mesmo tempo em que eles querem devolver o fundo partidário, eles também querem o retorno do financiamento de empresas em campanhas eleitorais. Não é preciso ser muito sábio para entender que, um partido formado por empresários, administradores e pessoas da classe dominante como o Novo seria muito beneficiado por doações de empresas. E, o que é um mero fundo partidário perto dos vultosos volumes de dinheiro advindos de uma grande empresa?

Quando o fundador e líder do Novo, João Amoedo, foi candidato à presidência, ele chocou o país ao declarar seu patrimônio pessoal: 425 milhões de reais. Segundo o site Infomoney, metade deste capital está aplicado em renda fixa e, levando em conta apenas o valor aplicado, a renda que ele pode conseguir com este investimento é superior a 1 milhão de reais mensais.

Ou seja, com a fantasia de quem “não quer ganhar dinheiro com a política” eles, na prática, agem para intervir na política em benefício do setor privado, ganhando muito mais dinheiro com isso.

Em segundo lugar, com essa pretensa aura de bondade, o Novo, partido da classe dominante, quer constranger outros partidos que precisam do fundo partidário para sobreviver. Partidos de esquerda como o PT, o PCdoB e o PDT, por exemplo, não vivem apenas para ganhar eleições. Muito mais que eleger candidatos, esses partidos tem um intenso trabalho de base, um trabalho de formação e de organização do povo, de conscientização, de reivindicação de direitos sociais. O fundo partidário é investido, desta forma, na construção orgânica dos partidos em contato com a base.

Em suma, o fundo partidário garante democraticamente que existam partidos de diversos matizes ideológicos e garante que qualquer pessoa possa se organizar politicamente. Nega-lo é uma pegadinha do Novo. O retorno que a sociedade terá, caso o Novo consiga devolver o dinheiro que recebeu por direito, será mínimo. Será uma migalha perto do que eles lucrarão e a sociedade perderá beneficiando o setor privado em detrimento dos serviços públicos. Aí é que mora o perigo. Destruir o Estado começa assim, com ações pretensamente inofensivas. E quem precisa de um Estado forte? Quem pode pagar por boas escolas, médicos, segurança, transporte e ainda moradia e alimentação com um salário de 998 reais mensais? O povo pobre, que trabalha muito e ganha pouco, é que precisa do Estado.

Demagogia e hipocrisia só obstruem o debate sobre o que é realmente importante e necessário para resolver problemas sociais profundos que desde sempre assolam o Brasil. O Novo faria muito melhor ao Brasil dedicando-se à temas como a valorização do salário mínimo, algo que as centrais sindicais conquistaram no governo Lula. Mas, com essa conversinha vemos que o que está por trás do novo é a permanência do velho abismo social brasileiro.


Texto em português do Brasil


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