Nas questões do perdão, consideramo-nos (quase) todos na condição de ofendidos e incapazes de ofender.
Ao mesmo tempo que nos cremos seguros no trato para com os nossos semelhantes, incapazes de nos sujeitarmos a um franco e desapaixonado autoexame. Não vemos muitas das vezes que a reação surgida contra nós terá nascido de ações impensadas e desenvolvidas por nós mesmos. E quando essas ações se reiteram por diversas e insistentes vezes, com a desculpa de ofensas passadas e já resolvidas no tempo devido, é no balanço da consciência que devemos ter em atenção os débitos para com os outros. Tenhamos, assim, coragem e humildade suficientes de solicitar desculpas, diligenciando sanar a falta ou as faltas cometidas, e em simultâneo, articulando serviço que nos evidencie o intuito de reparação.
Se, pelo contrário, somos nós os injustiçados, esqueçamos todo o mal e reconheçamo-nos igualmente falíveis, oferecendo aos nossos ofensores imediatas possibilidades de reajuste. Do erro nasce a correção, porquanto quem compensa mal com mal atinge males maiores.
Pelo lado melhor, saibamos compreender e interpretar pessoas e situações a fim de, pelo lado de igual modo melhor, eles saibam também ver os nossos problemas e conflitos íntimos que nos levaram a lamentáveis e incompreensíveis atitudes e comportamentos. A tolerância e a compreensão pelos erros alheios deve acompanhar as tantas vezes que também nós fomos perdoados e compreendidos. Enquanto não soubermos perdoar – e esquecer – mesmo depois da autoaceitação dos próprios erros por parte do outro, não haverá equilíbrio e harmonia, tão indispensáveis a cada existência. Ponderemos nisso, e aprendamos que a verdadeira caridade se resume na compreensão para além das aparências, perdoando e correspondendo quem de nós se aproxima, esperando de nós a amizade e o convívio tão desinteressada e sinceramente nos pedem. Afinal, é no perdão que está sempre o nosso maior e melhor salvo-conduto.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90