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Domingo, Dezembro 22, 2024

Há sempre um paladar diferente

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Naquele almoço à beira-mar a tarde fluía nem mesmo assim devagar, a gente falava do tempo e a sombra parecia sublime sobre os troncos bem longe como aquele abraço, …

… sempre aquele abraço sabemos e que bem faz sentir sempre um abraço, é como que revivescer o planalto quando crianças ainda e o quintal pintava como escamas o pomar de frutas penduradas e olhando-nos sorriamos.

Sei que há sempre um paladar diferente saborear assim as coisas que conversamos quando viajamos e sempre acontece, basta estarmos mais uma vez frente a frente e logo os nossos olhos se estendem como acácias rubras no vaso mais colorido do quintal da tia Zefa sentada como sempre sozinha nas suas introspecções só dela sabemos como era coitada, como era bom sabermos nesse tempo e hoje sabemos ainda recordando como sempre acontece na vida, a gente distancia-se acompanhando os anos que se ultrapassava si mesmo mas a cabeça grava os silêncios que só gostar de alguém basta.

Inúmeros à mesa do quintal enorme no cheiro obtuso das galinhas espantadas o Domingos corria e se cansaço nunca o rapaz, trepava a árvore como crocodilo que voava baixinho até ao rés-do-chão da fantasia possível é sempre possível enquanto criança achar tudo possível basta recuar a memória ainda existe, essa nunca parte para lado nenhum a não ser permanecer nos recônditos momentos para tudo e nós naquele almoço sentados no tempo como a onda que brota espuma na areia plana daquela praia ali perto e o som soado como melodias a gente conversa, faz sempre falta ouvir o cântico quando o mais velho se senta a teu lado ouvindo-o numa voz de quem sabe mais que a vida que ainda desliza o corpo esbelto das árvores da nossa casa ainda plantada como um castelo para nós, escuto-te calado, tão bem me faz estar a teu lado ali, naquele almoço só para nós bebendo do tempo sem saudade um sorriso de boca aberta na plantação ainda de mangueiras repletas de alimento.

Ainda daquele quarto escuro com a janela para as traseiras o ruído de leões no zoo ao fim da rua, ouvir tudo aquilo ainda hoje, engraçado conseguir perpetuar quando já tudo é apenas isso mesmo, não, não se estiola a cabeça, vale sempre a pena encontrar o sujeito e largar o predicativo das saudades que acontecem sempre e que adianta disfarçar, somos assim feitos para escárnio como alimento para dias nesta praia ainda nossa na cabeça que ali mora e vive ou quem sabe reside com paciência.

Um esboço basta, partimos para dentro como sai dos tempos e revive como canforas as palavras que ainda permanecem neste vento saboroso ingerindo alguma coisa que faça a alma arrefecer, sei que ela se recorda de nós nem que seja ficarmos ali olhando-a como um pássaro que poisa e ingere uma formiga ou insecto que nem sequer nos apercebemos e ele encontra mesmo vindo de tão alto como se as nuvens lhe dessem a felicidade de ser livre espreitando-nos.

Verdade, há sempre um paladar onde se quiser, tudo possível sempre e as portas que abrem levam-nos como banhos de alma ressequida esfumando calores da tarde que nos enfeita de delícias do tempo das nossas vidas. Vamos então abrir a última garrafa se faz tarde, que sono este bem-vindo a este sono daquele abraço do começo, antes de nos sentarmos os dois à beira mar saborear saudades da vida.


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