Falta pouco mais de um mês para a data da saída britânica quando parece cada vez mais possível que esta ocorra de uma forma que no início poucos antecipariam e que se constituirá um rude golpe na economia britânica.
A pouco mais de três meses das próximas eleições europeias, eleições que assumem uma importância bem maior que a maioria dos políticos nacionais persiste em lhes atribuir e que uma certa desinformação continua a denegrir a pretexto dum contínuo divórcio entre eleitores e eleitos enquanto as forças neoconservadoras parecem cada vez mais apostadas numa estratégia de cavalo de Tróia e numa possível implosão do projecto europeu a partir do seu interior, outro acontecimento – a falta de acordo para o Brexit – ameaça varrer uma Europa cada vez mais à deriva de si própria e dos seus princípios fundadores.
Falta pouco mais de um mês para a data da saída britânica quando parece cada vez mais possível que esta ocorra de uma forma que no início poucos antecipariam e que se constituirá um rude golpe na economia britânica (algo de que ninguém de bom senso duvidaria e que já custou uma queda no PIB da ordem dos 2%, ou dito de outra forma o Brexit custa à economia britânica 906 milhões de euros por semana) não será indolor para os restantes, como o demonstra um recente estudo do germânico Instituto Halle de Pesquisa Económica (IWH) quando conclui que só a sua economia perderá mais de 100.000 postos de trabalho.
O estudo, que toma por base uma simples redução de 25% nas importações do Reino Unido com origem na UE, mostra que além de global (a segunda economia mais afectada é a da China) o efeito não é de todo proporcional, pois a Irlanda com uma perda de menos de 20.000 postos de trabalho verá colocado em risco mais de 1% do seu emprego. Os dados a que tive acesso não referem números para a economia portuguesa, mas admitindo que o efeito sobre o emprego nacional possa andar pelos 10.000 empregos ameaçados (cerca de metade do montante estimado para a Irlanda) isso representará percentagens de desemprego idênticas às estimadas para a França, Itália ou Espanha com uma subida na taxa de desemprego da ordem das duas décimas. Estimativa confirmada no relatório do IWH quando mede os efeitos directos e indirectos sobre o número de postos de trabalho em valor absoluto…
Efeito potencial sobre o Emprego de uma redução de 25% nas Importações Inglesas
Número de postos de trabalho em valor absoluto
…ou em termos relativos.
Efeito potencial sobre o Emprego de uma redução de 25% nas Importações Inglesas
em percentagem
E se este último evidencia a maior vulnerabilidade das economias de menor dimensão, deixa em aberto a fundada dúvida sobre qual o efeito real, o que foi ensaiado foi uma mera redução de 25% das importações do Reino Unido quando é do conhecimento público que continuam por assinar a maioria dos acordos com países terceiros, seja na retracção das economias insulares seja no efeito cruzado que esta terá sobre os seus principais parceiros na UE ou fora dela.
Igualmente fora do cenário avaliado ficam os efeitos colaterais gerados pela delicada conjuntura política e social ampliada pelos resultados do referendo que não separaram apenas defensores e opositores do Brexit – a opção mais votada – mas igualmente escoceses e irlandeses, que votaram maioritariamente contra a saída, contra os ingleses que votaram maioritariamente a favor da saída da UE e marcaram entre estes a separação entre as zonas rurais, maioritariamente pró-Brexit, e as urbanas.
Quando já são públicos alguns dados que apontam para uma previsão de redução no PIB britânico da ordem dos 5%, contra 7% para uma Irlanda cuja economia mais aberta é também mais dependente e em especial na vertente alimentar. Esta situação já levou até à sugestão que fosse usada a prevista contracção da economia irlandesa como argumento para forçar um novo acordo, o que para os brexiteers significa simplesmente a eliminação da cláusula de backstop (que impede a formação duma fronteira física entre as duas Irlandas, a que fica na UE e a que sairá juntamente com o Reino Unido).
Desde a primeira hora que era evidente que os estragos provocados pelo Brexit, no Reino Unido ou na UE, seriam assinaláveis para ambas as partes e não a delicodoce versão vendida pelos brexiteers que prometiam um divórcio indolor e altamente benéfico. Mesmo que não se venham a cumprir os piores cenários e que a Comissão Europeia acabe por suavizar alguma coisa no processo (o que para já parece pouco provável) as previsões que de quando em vez vão surgindo estão apenas a confirmar aquela expectativa e a desmentir a idealizada por quem lançou os europeus neste processo de loucura mais ou menos colectiva.