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Domingo, Dezembro 22, 2024

Gestão ruinosa da administração de Tomás Correia

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

Como a comunicação social divulgou, o Banco de Portugal aplicou pesadas coimas a Tomás Correia e aos restantes membros da sua administração devido à gestão da Caixa Económica, agora Banco Montepio.

Enquanto lá estiveram, Tomás Correia e os restantes membros da sua administração, causaram graves danos aos associados do Montepio cujas poupanças foram utilizadas depois para recapitalizar o banco, gestão esta ruinosa para a qual eu venho alertando os associados há vários anos, e que agora, embora tardiamente, o próprio supervisor me vem dar razão.

Neste estudo com o titulo “A gestão ruinosa da administração de Tomás Correia, a situação do Banco Montepio e a difícil situação da Associação Mutualista, e o Banco corre o risco de ter de pagar ainda as coimas aplicadas à administração de Tomás Correiaanaliso, utilizando dados dos relatórios e contas da Caixa Económica (agora Banco Montepio) e da Associação Mutualista, a dimensão da destruição levada a cabo pela administração de Tomás Correia, o risco que existe das coimas pessoais aplicadas aos membros  desta administração serem pagas pelo Banco Montepio, assim como a situação deste banco e a situação difícil em que se encontra a Associação Mutualista resultante do facto das aplicações das poupanças dos associados não estarem a gerar rendimento ou estarem a gerar rendimentos muito reduzidos, e a necessidade urgente de afastar Tomás Correia da Associação Mutualista para recuperar rapidamente a confiança dos associados e a própria Associação Mutualista.

Estudo

O Banco de Portugal, informado ao longo dos últimos anos por todos aqueles que tiveram a coragem de enfrentar Tomás Correia, e de denunciar e alertar para a gestão ruinosa da administração a que presidiu, acabou, embora tardiamente e de depois de muita destruição no Montepio, por aplicar coimas a Tomás Correia e aos outras membros da sua administração, e ao próprio banco (que não tem culpa), que somam cerca de 5 milhões €.

O que pode tornar esta situação um escândalo é que as despesas com os advogados que os vão defender e com os tribunais ser pagas pelo Banco Montepio, e ainda se correr o risco das coimas pessoais aplicadas a Tomás Correia (1,25 milhões €) e aos outros administradores (1,15 milhões €) também serem pagas pelo Banco Montepio.

E isto porque na assembleia geral da Caixa Económica, em que Tomás Correia era o único representante do accionista que é a Associação Mutualista (uma assembleia unipessoal “sui generis”), realizada em 16 de Março de 2018, em que foi destituída a administração de Félix Morgado e os restantes órgãos, foi aprovado o pagamento pelo Banco Montepio de todos os custos que podiam ter os actuais ou antigos administradores (o que inclui Tomás Correia => conflito de interesses, mas supervisores e governo ainda nada fizeram ) com processos resultantes da sua actividade na Caixa Económica que decorressem de decisões de entidades oficiais.

Nesta assembleia Tomás Correia também aprovou que os membros dos órgãos sociais destituídos para receberem as remunerações até ao fim do mandato, a que por lei tinham direito, teriam de assumir um compromisso escrito redigido por ele, o que não assinei. Contrariamente ao que sucede com as resoluções da assembleia geral da Caixa Económica anteriores que estão disponíveis no “site” do Banco Montepio, esta resolução não foi divulgada e compreende-se agora a razão.

A confirmar-se que será o Banco Montepio a suportar as coimas pessoais aplicadas pelo Banco de Portugal a Tomás Correia e aos outros administradores seria um escândalo, pois seriam os associados que teriam de pagar, com as suas poupanças aplicadas na CEMG, as coimas. É urgente que o Banco de Portugal, a ASF, e o governo, impeçam este escândalo. Se não o fizerem, e se continuar o triste espectáculo público de a ASF, em declarações do seu presidente, dizer que não avalia a idoneidade de Tomás Correia e o governo a afirmar, em comunicado público dos ministérios do Trabalho e das Finanças, que é a ASF que tem de fazer essa avaliação para retirar Tomás Coreia da Associação Mutualista já que a sua permanência afecta gravemente a reputação do Montepio e põe em perigo as poupanças dos associados, os associados não deixarão de responsabilizar estas três entidades (Banco de Portugal, ASF e governo) não só por serem coniventes com este escândalo mas também por tudo aquilo que acontecer no futuro no Montepio.

A dimensão da destruição causada pela Administração de Tomás Correia

Os dados do quadro 1, dos Relatórios e Contas do Banco Montepio, permitem fazer uma 1ª avaliação da dimensão da destruição causada pela administração de Tomás Correia


Quadro 1 – Dados das contas do Banco Montepio – destruição causada por Tomás Correia

FONTE: Relatórios e Contas da Caixa Económica, agora chamado Banco Montepio – de 2010 a Setembro de 2018

Entre 2011 e 2018, a Caixa Económica, agora o Banco Montepio teve de constituir imparidades de credito no montante 1.789 milhões € devido ao mau credito concedido, e teve de abater ao Activo, por ter sido considerado totalmente perdido, 1.570 milhões € de credito, muito dele concedido sem qualquer análise de risco, tal como aconteceu na CGD (era importante que fosse também feita uma auditoria semelhante na CEMMG para os associados saberem o que feito com as suas poupanças) pela administração de Tomás Correia.

Como consequência, durante o período 2011/2018, o Banco Montepio (antes Caixa Económica) acumulou 735 milhões € de prejuízos, sendo 681 milhões € entre 2011 e 2015, anos da administração de Tomás Correia. Para compensar esta destruição enorme de valor, a Associação Mutualista teve de recapitalizar o Banco Montepio, entre 2011 e 2018, com 1.620 milhões € de poupanças dos associados. Se somarmos este valor aos Capitais Próprios da Caixa Económica no início de 2011 – 800 milhões € – obtemos 2.420 milhões €. Seriam estes os Capitais Próprios que o Banco Montepio devia ter pelo menos em 30 set.2018.

No entanto de acordo com as Contas publicadas em Setembro de 2018, os seus Capitais Próprios eram apenas 1.616 milhões €. Isto significa que 804 milhões € de poupanças que pertenciam aos associados investidas no Capital social do Banco Montepio tinham “desaparecido” devido aos enormes prejuízos acumulados, consequência da gestão ruinosa da administração de Tomás Correia. É a realidade revelada pelos números das Contas do Banco Montepio.

A situação do Banco Montepio e a situação difícil da Associação Mutualista

O quadro 2, com os dados principais das Contas do Banco Montepio mostra que o ano de 2018 foi um ano totalmente perdido e mesmo de retrocesso para o Banco Montepio


Quadro 2 – Os resultados mais importantes das administrações de Tomás Correia, Félix Morgado e Carlos Tavares

FONTE: Contas anuais de 2016 e 2017, e contas Setembro de 2017 e de 2018 – Caixa Económica/Banco Montepio

Os dados do quadro 2 mostram que a administração de Carlos Tavares revelou-se incapaz de continuar a recuperação do banco que se tinha iniciado após a saída da administração de Tomás Correia.

Carlos Tavares, quando entrou teve a “habilidade” de alterar as Contas de 2017 apresentadas por Félix Morgado – aumentou as imparidades em 24 milhões € e reduziu os lucros em 22 milhões € – para assim poder ter menos imparidades em 2018 e apresentar um aumento de lucros mais elevado. Mas mesmos com essa “habilidade” e com a devolução de 11 milhões € pelo BCE por juros pagos a mais nos anos anteriores; repetindo, mesmo assim arrisca-se, de acordo com as estimativas que fizemos, a apresentar um resultado de “miséria” em 2018 (eventualmente menos de 20 milhões €, pois é no fim do ano que o auditor faz o cálculo mais rigoroso das imparidades a constituir), que revela que esta administração colocada por Tomás Correia e aceite pelo Banco de Portugal não consegue aumentar nem o negócio bancário nem os resultados.

Mas não são apenas os resultados de 2018 que são uma miséria, também a Margem Financeira e o Produto Bancário diminuíram e, desde Dezembro de 2017, o credito concedido e os depósitos captados aos clientes têm caído.

A administração de Carlos Tavares com o chamado “Plano de transformação” que deu origem a criação de 2 bancos – o Banco Montepio e o Banco de Empresas Montepio – para além de ser uma duplicação de custos pode levar à descapitalização da antiga Caixa Económica, pois uma parcela do credito concedido às empresas e do rendimento associado a ele passará para o novo Banco de Empresas Montepio.

É um modelo negócio infelizmente aceite pelo Banco de Portugal, que nenhum outro banco tem, onde o credito às empresas é apenas um direcção; repetindo, “entretida” com aquele “Plano” que dará origem a mais custos e a menos credito na Caixa Económica (espero que depois não sirva de pretexto para nova redução de trabalhadores) a rede comercial, que é a área “core” e mais importante do banco, ficou à deriva e sem qualquer orientação, eventualmente porque nenhum membro da actual administração parece ter grande experiência nesta área.

Uma situação grave para a Associação Mutualista e para os associados

A Associação Mutualista tem aplicado no capital do Banco do Montepio cerca de 2.000 milhões € das poupanças dos associados que há vários anos não rendem nada pois o banco não tem transferido quaisquer lucros para a Associação Mutualista (quando tem ficam retidos para compensar a delapidação de capital feita pela administração de Tomás Correia).

As poupanças dos associados que estão aplicadas em outras empresas do grupo Montepio não têm dado, na maioria dos casos, também quaisquer rendimentos ou rendimentos reduzidos (a Lusitânia SA só tem acumulado elevados prejuízos cuja recapitalização tem sido feita com poupanças dos associados), o que causa a insuficiência de rendimentos para pagar os juros do capital aos associados que levantam as suas poupanças da Associação Mutualista.

E para agravar toda esta situação, a partir de 2018, as saídas dinheiro na Associação Mutualista resultante de levantamentos de poupanças pelos associados têm sido sempre superiores às entradas como revela o quadro 3.


Quadro 3 – Nº de associados e dados dos Orçamentos e Contas da AMMG – 2016/2018

FONTE: Plano de Actividades e Orçamento de 2016/2019 e Contas consolidas 2012/2017 da Associação Mutualista Montepio Geral

Em 2016, 2017 e 2018, os levantamentos de poupanças pelos associados foram sempre superiores às entradas de dinheiro, respetivamente em 122,4 milhões €; em 373,9 milhões € e em 250,8 milhões €. A descapitalização crescente da Associação Mutualista é um facto confirmado pelos dados da própria Associação Mutualista motivada pela perda da confiança dos associados na administração de Tomás Correia.

A pergunta que se coloca e que se deixa para reflexão dos associados e do governo é a seguinte: Como é que a Associação Mutualista se poderá aguentar se a maioria das suas aplicações não geram rendimentos mas, apesar disso, ela tem de pagar juros aos associados pelas poupanças que eles têm nela? Até aqui pagava com o novo capital que entrava referente às novas aplicações de poupanças pelos associados na AMMG mas, a partir de 2016, as saídas de capital, resultante do levantamento das poupanças pelos associados, são maiores que as entradas? Como é possível aguentar por muito tempo esta situação? Não é preciso pensar muito para prever o resultado de tudo isto. E com a permanência de Tomás Correia tudo isto será mais rápido pois ele não gera qualquer confiança na esmagadora maioria dos associados o que foi agravado pelo facto de ter sido condenado pelo Banco de Portugal a acrescentar ser arguido em outros processos.

E como a experiência já mostrou ele é um “gestor” que delapida irresponsavelmente, porque o permitem, as poupanças dos associados. A diminuição continuada do número de associados (de 632.175 para 610.00); a redução da liquidez imediata que garante o reembolso imediato das poupanças aos associados (diminuiu de 1.510 milhões € para apenas 607 milhões, portanto para menos de metade em apenas 2 anos), são também indicadores seguros dessa perda de confiança que urge estancar para garantir a sustentabilidade e continuidade do Montepio.


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