Seria um sorriso aquele abraço matinal. Esvoaça a alegria neste pasto de tantos a festejarem a existência, encontro de cânticos apenas entre nós, que somos todos.
O amor é uma ideia ampliada de esforços e vontades, gestos nobres espelhados na alma superam assim o cansaço ao fim do dia e vamos, que destino?, pensar num belo mar e voar, navegar sobre que ondas o barco flutua descansado e nobre criando uma espuma de bradar, dedos içados e mergulhos entre todos na mesma caserna de tropas vencedores, vestir a farda da vitória onde o rumo se interiorize na nossa casa vespertina, diariamente, o som dos olás por todos os cantos sem pensar mais.
Sentimos a inércia divagar longe, projectar o tempo nas almas que refutam vontades sérias, sinto a brisa sonolenta abeirar-se da distância onde nela as jaulas fogem, abrem-se devagar num ritmo sem tempo limite e tudo é ira da satisfação. Breves olhares tresmalham o silêncio que somos, a erma estrada por que passamos longos períodos da vida, a cama conselheira e a almoçada para que a cabeça sobressaia de si mesma voando a vida por entre verdades descansadas, sim, a gente percebe que em cada toque, cada abraço, um conselho profundo nos fazem orar sem credos mas com ânsias e voltar à manhã seguinte como se nada tivesse acontecido, sermos o mesmo de ontem com mais um dia de vida e saber, esse saber que a vida ensina, o limiar dos anos repletos preenchendo cada passo com saudades, sabes, a saudade é um resquício da vaidade, um pouco do que ansiamos e isso faz-nos percorrer o ar profundo do saber, do amor, sim, amor mesmo, esse de que falo e que me entendam os amantes, somos fardos nunca fartos de nós mesmos por isso o amor por nós mesmos nos faz sentir, mesmo que de longe ou longe, o calor e os afectos de que tanto precisamos. O amor esvoaça tresmalhado de belo, verde como as profundezas da saudade, o sentido das coisas e as palavras distantes, próximas, ouvidas em ruído ou na sala de todos, uma família sentada na plateia da verdade, da vida.
Sabes, nós aqui, sentados neste jardim da infância saboreando a brisa, entrelacemos as mãos, decora cada taco do banco que nos acolhe e sorri, esquece a maresia agora, tudo te parecerá tão diferente, esquecemos que a morte existe, esquecemos as guerras e sentimos apenas aquela viagem no mesmo lugar sorrindo sem vaidade. A noite promete o seu ofício, o escuro aproxima-se a que velocidade, tudo se torna real nesta plateia de actores do real sem rodeios.
Sabes, a vida faz-me sentir em viagens permanentes, incursões belas do que acontecer nestas mãos dadas à realidade dos que nos surgir, sejamos amantes eternos dormindo enfim, quando o relógio nos destinar a um sono repleto. Durmamos então.
do livro Reflexões Profundas,
Vítor Burity da Silva
Crónicas