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João de Sousa

Domingo, Dezembro 22, 2024

NATO, ainda atraente ao fim de 70 anos

João do Vale de Sousa
João do Vale de Sousa
Doutorando em História, Estudos de Segurança e Defesa num programa conjunto ISCTE-IUL/Academia Militar

Fundada pelo Tratado de Washington há 70 anos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) tem sido uma aliança de defesa que tem contribuído de um modo ímpar para a paz, a segurança e a estabilidade internacional, sobretudo no espaço euro-atlântico.

O seu sucesso tem atraído o interesse mesmo de países fora da sua área tradicional, tendo chegado à América do Sul. Um destes casos é o da Colômbia. Este país andino é desde 2017 o primeiro parceiro global da NATO oriundo da América Latina.

O crescimento das ameaças globais, que não respeitam fronteiras nacionais ou regionais, como o terrorismo, os ciberataques, a pirataria ou a proliferação de armas de destruição em massa, conduziram a NATO a procurar trabalhar com maior proximidade com estados de todo o planeta de modo a evitar ou gerir crises, através do diálogo e da colaboração bilateral.

O programa Parceiros Globais (Partners Across the Globe) surge para responder a esta necessidade. É constituído por países de diferentes partes do mundo que colaboram numa base individual com a NATO. Todavia, eles não são Aliados, com os direitos e deveres de defesa mútua consagrados no art.º 5 do Tratado, nem participam em outras estruturas regionais de cooperação com a Aliança. Pertencem a esta categoria estados da Ásia (Afeganistão, Coreia do Sul, Iraque, Japão, Mongólia e Paquistão) e da Oceânia (Austrália e Nova Zelândia). Cada um destes parceiros escolhe como quer envolver-se com a Aliança, baseado numa relação bilateral de reciprocidade e benefício mútuo. O Afeganistão tem sido um local onde a maior parte destes parceiros têm participado em missões e operações lideradas pela NATO.

A Colômbia e a NATO tem tido um envolvimento mais estreito a partir de 2013. Desde que aquele país da América do Sul formalizou o seu reconhecimento como um Parceiro Global, passou a ter acesso a todas as actividades de cooperação. Os interesses mútuos assentam na luta contra as ameaças globais à segurança, como a cibersegurança, a segurança marítima e o terrorismo e as suas ligações ao narcotráfico, e o reforço da segurança humana, em particular na proteção de crianças e não combatentes e respeito por temas de género.

Outro dos aspectos da colaboração, e certamente um dos mais importantes, é aperfeiçoar as capacidades e competências das Forças Armadas colombianas, acatando integralmente os Direitos Humanos e o Direito Internacional Humanitário. Isto torna-se mais relevante pois após mais de cinquenta anos de conflito armado entre o Estado colombiano e as FARC-EP, foi alcançado um Acordo de Paz entre as partes beligerantes em Novembro de 2016. Assim, as Forças Armadas da Colômbia têm vindo a transformarem-se de um instrumento de combate a um inimigo interno para outro adaptado às tarefas tradicionais atribuídas aos militares de uma Democracia Liberal, ou seja, principalmente à defesa do território nacional das ameaças externas. Doravante, os militares colombianos beneficiarão do treino, educação e exercícios com os Aliados, visando melhorar a sua interoperabilidade, procurando alcançar os mais altos padrões de excelência e de profissionalismo da sua actividade. Deste modo, ganharão um acréscimo de legitimidade e prestígio interno e externo.

De referir, ainda, que já desde 2013 o Ministério da Defesa da Colômbia participa no programa Building Integrity que tem como objectivo fornecer assistência e aconselhamento no fortalecimento da integridade, transparência e prestação de contas no sector da defesa e segurança, visando combater a corrupção e práticas perniciosas contrárias ao estado de Direito.

Fruto do longo conflito armado, a Colômbia tem para oferecer à Aliança conhecimento e experiência em áreas como a luta contra a subversão, o narcotráfico, o terrorismo e os engenhos explosivos improvisados. Aquele país da América do Sul é o segundo com maior número de minas no mundo. Assim, a sua prática e saber acumulado na desminagem humanitária é uma mais-valia que a Aliança acolhe com agrado. Como resultado o Centro Internacional de Desminagem da Colômbia (Cides) passou a pertencer à rede de centros parceiros de treino e educação da NATO. Finalmente, notar que a Colômbia começou a participar no programa Science for Peace and Security e que irá ter lugar no decurso deste ano, em Bogotá, um encontro de trabalho avançado centrado no esforço contra-terrorista.

Quando já muitos ditaram a sua morte e há muitos anos, a Aliança surge cada vez mais pujante. Continua não só a ser indispensável aos Aliados das duas margens do Atlântico Norte, e sobretudo aos Estados Unidos, como é um polo aglutinador e referente de paz, segurança e estabilidade para vários estados espalhados pelo mundo. Oxalá persista em ser o instrumento válido que tem sido nestes primeiros 70 anos. Parabéns, NATO!


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