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João de Sousa

Domingo, Novembro 24, 2024

Contar ou não contar, eis a questão

Ninguém gosta de ouvir o outro se queixando o tempo todo, se lamuriando dos filhos, do trabalho, das mazelas do corpo, da vida toda, como se nada houvesse de positivo ou de bom.

Há pessoas assim, que vivem se lamentando de tudo, mesmo de pequenas coisas, mas que para elas é o suficiente para a vida ser uma desgraça só, ou uma tragédia só. A queixa e a lamentação são o seu dia a dia. Não que não haja vidas de muita infelicidade. E quando assim é, fica difícil sorrir para o mundo e fazer um esforço que seja para se mostrar um pouco feliz.

Para pessoas assim, que vivem com o mínimo dos mínimos, o marido sem trabalho, um filho problemático, um teto mal amanhado em que habitam, como contar que se está feliz, que se acabou de marcar aquela viagem que tanto se queria, que o filho nos deu alegrias, que se está a pensar em mudar para uma casa maior e melhor porque o marido fora promovido, ou se recebeu um bom dinheiro extra que não se esperava? Convenhamos, fica até desumano, e não é humanamente possível essa pessoa ficar feliz por nós, por mais que ela goste de nós, ela que nada tem e vive com tantos problemas. O melhor mesmo é nada dizer, guardar os nossos sucessos só para nós, pois as nossas vitórias podem ferir e provocar sofrimento maior. E do que de nós depender, torcer e ajudar para minimizar os desaires com que ela diariamente se depara. 

Marcus Tullius Cícero

Para pessoas de bem com a vida, se sentirmos que há alegria com os nossos êxitos, a partilha deles nos faz até bem. Ou com aqueles que nem tudo corre tão bem assim, mas ficam felizes por nós. Há amigos e amizades assim. E quando tal acontece, nada é mais gratificante. Marcus Tullius Cícero, o grande estadista, orador e um dos maiores filósofos da Antiga Roma (106 – 43 a.C.), a propósito de amizade e de partilhas de vida, resumiu assim:

Que há de mais agradável do que ter alguém a quem se ousa contar tudo como a si mesmo? De que seria feita a graça de nossos sucessos, sem um ser para se alegrar com eles tanto quanto nós? E em relação aos nossos reveses, seriam mais difíceis de suportar sem essa pessoa, para quem eles são ainda mais penosos do que para nós.”


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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