E Se Angola Tivesse Proclamado a Independência em 1959? | Guerra e Paz
Jonuel (José Manuel) Gonçalves
Lutou pela independência e democratização de Angola, teve a maior parte da existência dividida entre o combate clandestino e os exílios. Agora dedica-se à docência e a escrever coisas diferentes das que escrevia nos anos de chumbo e a nomadizar entre África, Brasil e Portugal. (Wook)
Como lhe surgiu a ideia de escrever este livro?
As nossas intenções clandestinas da época nunca me saíram da cabeça e acredito que de outros também não, tanto que mesmo mais tarde, quando já estávamos envolvidos no processo de luta pós 1961, fazíamos por vezes adaptação dessas intenções às novas conjunturas. Por exemplo, lembro-me de algumas observações nesse sentido que pusemos num pequeno boletim de debate, no final dos anos 60 ou começo de 70, em Dakar, onde alguns de nós estávamos exilados ou era a “nossa retaguarda”. Em parte do exílio, estudei na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, (Paris) e fiquei em contacto com as atividades da Escola. Há cerca de dois anos soube que um professor da mesma tinha dirigido um livro coletivo com base no método “what if” e isso motivou-me a retomar aquelas ideias como base para um livro sobre Angola.
Com o método «E Se…» conseguiu ir mais longe na investigação ou deixou que alguma ficção tomasse conta do livro?
O esforço de memória, entrevistas e consulta de jornais da época, permitiram situar um bloco de possibilidades e constrangimentos. De facto, as forças militares e policiais do antigo regime eram fracas naquele momento e atuavam muito através da intimidação. Superando os medos e constatando os inúmeros pontos fracos, era possível beneficiar do efeito de surpresa, provocar o colapso da maior parte do dispositivo da repressão, libertar a maior parte do território, criando, portanto, condições favoráveis a negociações ou a guerra mais curta. O cenário “e se” elaborado, evita otimismo excessivo ou a visão de “isto vai ser muito fácil”. Conduz é à localização de elementos históricos cruciais. Ficou patente também a diferença de apreciação e julgamentos sobre a oportunidade, entre gerações, até porque parte dos ” mais velhos” estavam presos e a ligação com eles muito aleatória. Também não quis deixar de lado aspetos afetivos e amorosos muito marcantes na vida de protagonistas centrais. Não sei se entrou alguma ficção, mas os desafios do texto revelam como a capacidade de decisão e a avaliação sem preconceitos do quadro em que se vive, são elementos capitais nos processos de mudança. É a velha afirmação: “as decisões têm consequências, as indecisões também”. Assim, acho que muitas coisas efetivamente ocorridas depois, ganham novas informações e perfis. É bom não esquecer que entre o ponto central da ação descrita no livro e o 4 de fevereiro, passam-se apenas 14 meses.
Agora, quase 60 anos depois desse ano chave de 1959, podemos concluir que o rumo de Angola podia mesmo ter sido completamente diferente e para melhor?
Muito diferente seria sem dúvida e provavelmente para melhor. Muito dependeria de Salazar se manter no poder em Lisboa ou não. Igualmente qual seria a reação da África do Sul. As grandes potências europeias estavam a descolonizar e os Estados Unidos apoiavam esse processo com intensidade. Internamente, quem lutava ou ansiava pela independência, ligava esta à democracia e tinha uma visão socio-cultural muito inclusiva. São indicadores positivos e é isso que podemos hoje dizer com segurança.
Jonuel Gonçalves
E Se Angola Tivesse Proclamado a Independência em 1959?
Guerra e Paz 15,50€
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