Em 29 de maio de 1919 os olhos do mundo científico estavam voltados para o Brasil, ou melhor, para o Ceará, mais precisamente para a cidade de Sobral. Era uma oportunidade ímpar para recolher dados que pudessem verificar experimentalmente a Teoria da Relatividade Geral proposta pelo físico alemão Albert Einstein usando para isso um dos mais lindos fenômenos astronômicos que podemos observar: um eclipse solar total.
Duas equipes de renomados cientistas foram então deslocadas, uma para a Ilha do Príncipe (na costa da África) e outra para Sobral (na América do Sul). Eis que o clima na ilha africana ficou fechado de nuvens enquanto que o clima do sertão cearense colaborou com a Ciência e as melhores fotografias do fenômeno foram ali tiradas sendo as revelações feitas apenas em novembro daquele mesmo ano.
Devido a essa importante contribuição anos depois Sobral ganhou um monumento em lembrança do que aconteceu em seu solo e depois foi inaugurado, na Praça do Patrocínio, o Museu do Eclipse que contém alguns equipamentos e um belo acervo de fotos daquele inesquecível dia para a história da Física. Mais recentemente foi instalado na mesma praça o Planetário de Sobral, o que faz do lugar um importante espaço para a divulgação científica contribuindo diretamente para atrair mais e mais jovens para a Ciência e combatendo assim o analfabetismo científico.
A constatação da previsão de Einstein sobre a mudança de posição de algumas estrelas devido à passagem de sua luz pelo campo gravitacional do Sol acabou projetando ainda mais esse brilhante cientista e talvez o tornou o físico mais conhecido de todos. Einstein já havia estremecido o mundo da Física anos antes do eclipse com a publicação de sua Teoria da Relatividade Restrita quando abordou a dilatação do tempo, a contração do espaço e a transformação da massa em energia e energia em massa, fenômenos que acontecem quando referenciais inerciais se movimentam com velocidade constante e de altíssimo valor (velocidade relativística como é dito em Física), além de propor a existência de partículas sem massa, os fótons da radiação eletromagnética.
Com a sua Teoria da Relatividade Geral Einstein expõe a gravidade de uma maneira bem diferente do que físicos dos séculos anteriores fizeram em especial o físico inglês Isaac Newton. Para Einstein o fato de, por exemplo, o Sol possuir uma massa muito grande, acaba deformando o tecido do espaço-tempo a sua volta o que faz com que os demais astros girem ao seu redor. Para efeitos de compreensão desse sistema, uma comparação pode ser estabelecida se colocarmos uma bola de boliche no centro de uma cama elástica e em seguida soltarmos algumas bolinhas nessa cama. As bolinhas irão cair em direção à bola de boliche, pois esta deforma o espaço ao seu redor com sua massa. Da mesma maneira os planetas, asteroides e cometas “caem” em direção ao Sol devido à deformação que o astro rei provoca no tecido do espaço-tempo, mas por possuírem uma velocidade muito elevada (a título de informação a velocidade de translação da Terra é em torno de 30 km/s) os corpos celestes do Sistema Solar conseguem estabelecer órbitas seguras.
No início todas as ideias propostas por Einstein não eram bem aceitas pela comunidade científica por estarem muito a frente do seu tempo. Mas hoje muitas das coisas que existem só foram possíveis graças às aplicações dessas ideias como, por exemplo, os aceleradores de partículas, a sincronização de relógios atômicos, o GPS, as portas automáticas que se abrem com a nossa chegada, dentre outras.
Esses exemplos só mostram o quanto é importante que se invista massivamente em educação cabendo as Universidades mostrarem para a sociedade que injetar dinheiro em educação não é um gasto para a nação e sim um investimento com retorno garantido. E é nessa atual conjuntura brasileira de cortes de verbas para a educação que irá ser comemorado o centenário do eclipse que mudou o mundo com um grandioso evento na cidade de Sobral nos dias 28, 29 e 30 de maio de 2019 onde diversas atividades estão planejadas (até uma estatua de Einstein já foi exposta na cidade).
Todos para Sobral!
por Michel Lopes Granjeiro, Prof. Dr. e Coordenador do curso de licenciatura em Física da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Líder do Grupo de Ensino, Pesquisa e Popularização da Astronomia e Astrofísica- GEPPAA e Diretor do Planetário Móvel Supernova | Texto em português do Brasil
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