Antes de nascer tinha feito um pedido profundo e sentido não sei bem a quem, mas falei sozinho, alto, talvez alguém me ouvisse. Queria ter mãe.
Antes de nascer tinha feito um pedido profundo e sentido não sei bem a quem, mas falei sozinho, alto, talvez alguém me ouvisse.
Queria ter mãe.
Tinha ouvido de tantos lados coisas horríveis de filhos sem mãe e mulheres que apenas produziam filhos e pronto, mas, como não sabia ler, ficava-me pelo que ouvia e hoje fico a saber que nem sempre do que se ouve vem verdade, é horrível inventar por inventar, mas porque fazem disto estes que apenas crescem ou nascem para inventar o mal?
Antes de nascer, havia feito um pedido a Deus:
que me dês uma mãe que me ame, que não me abandone e que me dê nome, coisa assim sei lá, daquelas que abraçam os filhos ao anoitecer e os fazem acordar pela manhã,
“acorda amor, aulas às oito!”
e assim se foi passando até que um dia enfim nasci, não vinha lá com muita vontade, pois, o que ouvia era tão ruim que temia mesmo nascer para nunca ter mãe, e o medo crescia em mim como o vento que me enfiaram no ventre da mãe para eu nascer, é que estava difícil nascer, verdade, tantas as coisas que ouvia que me atenoravam e assim nem nascer queria, mas, coisas do destino e com isso a gente não pode brincar, a hora lá chegou.
Fui sugado daquele lugar onde estava tão bem e feliz, é que lá nem precisava de chorar para comer ou beber, tudo acontecia porque estava no corpo de quem à partida eu pensava ser o amor da minha vida.
A minha mãe.
Nasci. Cresci. E agora, aqui estou, distante de tudo e de todos e indo como se nada acontecesse, pois, já nasci e aqui estou, mas antes, pedia tantas vezes:
Quero ter mãe, pode ser destino?
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