Fui cásparo, indígena. Fui fim do mundo e mais, rato nas formigueiras a beber o salitre seco dos silêncios, dormi no chão dos infinitos e de tantos outros nadas, tantos foram as enzimas sobre a cabeça e o resto de mortais que não cabiam para mim. Fui catarato num beco ao fim da esquina onde só refugiados das falésias e monstros enfadados de sacerdotes fardados em bem fazer e consumido pelo vento vermo dos tudos, refinei a minha insânia passada para ultrapassar a barreira que a tarde sempre ali colocava, bastava pensar ou imaginar que pudesse eu um dia ali querer passar. Fui, enfim, todos os ruídos para o teu sossego.
E quem será então esse tu?
Se ao menos pudesse dizer que foi algo que me apeteceu inventar, despertaria olongos como as fraldas da minha filha enjauladas no estrepo intestinal da vida, glotizar de fezes este sonho será talvez pensar para acordar e a vida é isto, um encharcado repleto de ondas forasteiras na sala dos sossegos desarrumados dos que anseiam vida mesmo que na morte se sintam instigados para dela sair, sim, estive lá sei lá quantas vezes e emergi como um disfarce para uns quantos nadas numa fornalha de lenços molhados, as lágrimas sempre presentes ensinaram o significado delas, por isso, tantas vezes ouvia de bem longe, sei lá de onde nem imagino sequer, mesmo de rastos amigo, corre!
A casa é um lugar vazio, vozes e nada mais são o silêncio irritante contra as paredes que escurecem o labirinto como que de um refúgio, este abrigo sentado para conversas calados com o tempo e visitar memórias escritas em todos os lados do corpo. As palavras são assim o recôndito na alma que apenas flutua a sua solidão repleta de todas as felicidades que delas nos alimentamos, bebemos nelas todas as naturezas e nem os escuros nos infernizam como o sapo do prédio ao lado ou grilo repetitivo no andar de baixo mas aqui, é tudo uma sucumbência inebriada com os beijos adocicados pelas cabeças que ao longe me fazem chegar onde quiser sem que precise sequer de sair desta canto que me ilumina enquanto escrevo diásporas nesta vertigem criada para mim, talvez eu própria a tenha assim criado, coisas que às vezes e são tantas, me apetece alimentar. Ao som de qualquer melodia sem voz, irrita-me ouvir palavras disformes a confundirem-me, a melodia eloquente é a água quente para um duche de sabores e limão misturado, sorver o odor do sabão escorrer-me as têmporas e sucumbir depois na água levada, sim, hoje, e talvez como sempre tem sido, apetece-me escutar a minha sanidade para que me entenda cada vez mais. Adoro o grito das ondas de todos os mares que conheço e desconheço.
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