O jornalista e geógrafo Manlio Dinucci, colunista do jornal italiano Il Manifesto e da Página da Resistência no Brasil, mostra as razões geopolíticas e econômicas de fundo da ação das grandes potências ocidentais, principalmente os EUA, no Oriente Médio; a tradução é de José Reinaldo Carvalho.
Enquanto os Estados Unidos preparam uma nova escalada no Oriente Médio, acusando o Irã de atacar petroleiros no Golfo de Omã, o vice-premier Matteo Salvini encontra em Washington o secretário de Estado Mike Pompeo, um dos artífices de tal estratégia, assegurando-lhe que “a Itália volta a ser no continente europeu o primeiro parceiro da maior democracia ocidental”. Desse modo, ele amarra a Itália nas operações lançadas por Washington.
O “incidente do Golfo de Omã”, casus belli contra o Irã, é uma cópia do “incidente do Golfo de Tonquim” de 4 de agosto de 1964, usado como casus belli para bombardear o Vietnã do Norte, acusado de ter atacado um caça-torpedeiros estadunidense (acusação que ficou demonstrado depois que era falsa).
Hoje, um vídeo difundido por Washington mostra a tripulação de um suposto barco de patrulha iraniano que, em pleno dia, remove uma mina não explodida do lado de um petroleiro para cancelar sua origem (porque a mina supostamente teria a inscrição “made in Irã”).
Com esta “prova”, que constitui um verdadeiro insulto à inteligência, Washington busca camuflar o escopo da operação, a qual entra na estratégia pelo controle das reservas mundiais de petróleo e gás natural e dos correspondentes corredores energéticos.
Não por acaso estão na mira dos Estados Unidos, o Irã e o Iraque, cujas reservas petrolíferas somadas superam as da Arábia Saudita e são cinco vezes maiores do que as dos Estados Unidos.. As reservas iranianas de gás natural são cerca de duas vezes e meia as estadunidenses.
Pela mesma razão está na mira dos Estados Unidos a Venezuela, o país com as maiores reservas petrolíferas do mundo. É de importância primordial o controle dos corredores energéticos. Acusando o Irã de querer “interromper o fluxo de petróleo através do Estreito de Hormuz”, Mike Pompeo anuncia que “os Estados Unidos defenderão a liberdade de navegação”.
Em outras palavras, anuncia que os Estados Unidos querem controlar militarmente esta zona chave para o abastecimento energético também da Europa, impedindo antes de tudo o trânsito do petróleo iraniano (ao qual a a Itália e outros países europeus não podem ter acesso livre devido ao veto dos EUA). Poderia chegar à Europa, proveniente do Irã também o gás natural a baixo preço por meio de um gasoduto através do Iraque e da Síria, mas o projeto, lançado em 2011, foi suspenso após a operação dos EUA / OTAN para demolir o Estado sírio.
Da Rússia teria podido chegar diretamente à Itália, e da Itália ser distribuído a outros países europeus, com notáveis vantagens econômicas, o gás natural por meio do South Stream através do Mar Negro, mas o gasoduto, já em fase avançada, foi bloqueado em 2014 sob pressão dos Estados Unidos e da própria União Europeia com grandes prejuízos para a Itália.
Em vez disso, avançou a duplicação do Nord Stream, que faz da Alemanha o centro de distribuição do gás russo. Com base no acordo de “cooperação estratégica EUA-UE no campo energético” estipulado em julho de 2018, as exportações estadunidenses de gás natural liquefeito para a UE triplicaram. O centro de distribuição é a Polônia, de onde o “gás da liberdade” chegará também à Ucrânia. O objetivo de Washington é estratégico: golpear a Rússia substituindo na Europa o gás russo pelo estadunidense.
Não há, porém, nenhuma garantia sobre o preço nem sobre a duração do fornecimento estadunidense de gás, extraído do xisto betuminoso ambientalmente desastrosa.
O que diz de tudo isto Matteo Salvini que, chegado na “maior democracia ocidental”, declarou “faço parte de um governo que na Europa não se contenta mais com migalhas”?
por Manlio Dinucci, Jornalista e geógrafo, com tradução de José Reinaldo Carvalho | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial Brasil247 (Resistência)/ Tornado
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