De 1920 a 1924, Gershwin contribuiu com músicas para vários shows e revistas da Broadway. Para a produção “Scandals” de 1922, Gershwin convenceu o produtor a incluir uma ópera de jazz num ato. Esse trabalho, denominado “Blue Monday”, foi mal recebido e retirado logo após a primeira apresentação. No entanto o líder da orquestra, Paul Whiteman, ficou impressionado com a peça. Ele e Gershwin partilhavam o objetivo comum: tornar o jazz respeitável, pois em 1922 este estilo musical ainda era considerado como “música degradante, patológica, irritante aos nervos e excitante ao sexo”. No final de 1923, Whiteman pediu a Gershwin que compusesse uma peça para um concerto no Aeolian Concert Hall de Nova Iorque. Diz-se que Gershwin se esqueceu do pedido até janeiro de 1924, quando leu uma notícia anunciando que o concerto de Whiteman em 12 de fevereiro apresentaria uma nova composição de Gershwin. Escrevendo a um ritmo furioso para cumprir o prazo, Gershwin compôs “Rhapsody in Blue” em três semanas.
A pressão foi de tal ordem que “Rhapsody in Blue” estreou ainda por acabar, tendo Gershwin improvisado grande parte do solo de piano e avisado o maestro da entrada da orquestra no final do solo. No entanto, a peça foi um enorme sucesso e trouxe fama mundial a Gershwin. A obra foi sobretudo revolucionária, pois incluiu caraterísticas do idioma jazz num contexto sinfónico (notas azuis, ritmos sincopados, efeitos instrumentais onomatopaicos). O próprio Gershwin disse posteriormente sobre o tema: “Não tive em mente nenhum plano definido, nenhuma estrutura musical predefinida. A Rapsódia começou como um objetivo, não como um plano.” O tema foi depois orquestrado por Ferde Grofé (compositor de “Grand Canyon Suite”) para orquestra sinfónica ou banda de jazz, sendo provavelmente a composição orquestral mais executada e gravada na história da música. Curiosamente, é o único dos principais trabalhos de Gershwin que o próprio Gershwin não orquestrou.
Ao longo de sua carreira, Gershwin teve grandes sucessos na Broadway. Ironicamente, o seu melhor trabalho na Meca dos musicais nova-iorquinos, “Porgy and Bess”, foi recebido com forte indiferença em 1935. A ópera foi inspirada no romance “Porgy”, escrito em 1925 por DuBose Heyward, com libreto de Ira Gershwin e do casal Dorothy e DuBose Heyward. Para escrever a partitura, Gershwin passou algum tempo em zonas rurais do sul dos Estados Unidos, estudando a música e o estilo de vida dos negros pobres. Os críticos de teatro receberam entusiasticamente a produção na sua estreia, mas os críticos de música foram irónicos, não aceitando que um estilo musical popular e humilde fosse incorporado numa estrutura de ópera. Por outro lado, o público negro sempre criticou a obra, pela sua representação condescendente de personagens estereotipados e pela utilização por Gershwin de formas musicais negras. No entanto, a ópera, que incluiu standards como “Summertime”, “It Ain’t Necessarily So”, “Bess, You Is My Woman Now” e “I Got Plenty O ‘Nuttin’”, ultrapassou as críticas iniciais e alcançou um elevado nível de reconhecimento e prestígio no mundo musical, em grande parte porque combina com sucesso várias culturas musicais, para evocar algo exclusivamente americano e totalmente Gershwin.
“Porgy e Bess” recebeu reconhecimento tardio nos anos 50, quando o Departamento de Estado a selecionou para representar os Estados Unidos numa tournée internacional, durante a qual se tornou a primeira ópera de um compositor americano a ser apresentada na La Scala, de Milão. Apesar de ainda hoje levantar questões políticas e raciais, as atitudes em relação ao trabalho de Gershwin são bem refletidas nas palavras da soprano Grace Bumbry, que representou Bess na produção da Metropolitan Opera em 1985:
Eu fiquei inquieta com o papel no início, possivelmente porque não sabia a pontuação e também por causa do aspeto racial. Eu achava que que o papel estava abaixo do nosso trabalho, que regredíamos a 1935. Lidei com estes sentimentos ao perceber que estava a representar que um pedaço da história americana. Hoje considero a partitura de Porgy and Bess como a maior obra-prima de Gershwin.”
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Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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