O dia 28 de junho de 1969 está para a história da resistência LGBT ao preconceito e à violência como a atitude de Rosa Parks está para a luta antirracista nos Estados Unidos e no mundo. No dia 1º de dezembro de 1955, a costureira negra se negou a ceder lugar no ônibus a um branco, sendo presa por infringir uma lei que obrigava os negros dar o assento aos brancos.
A atitude de Rosa detonou um boicote da população negra aos ônibus da cidade de Montgomery, no estado de Missouri, Estados Unidos. A partir dessa desobediência civil solitária, Rosa se tornou um dos principais símbolos da luta pelos direitos civis da população negra nos Estados Unidos.
Da mesma forma, a Revolta de Stonewall tornou-se um marco na luta por respeito aos LGBTs nos Estados Unidos, espalhando-se pelo mundo, tanto que o 28 de junho foi instituído como o Dia Internacional do Orgulho LGBT.
“Há 50 anos, um grupo de pessoas lideradas por travestis, mulheres lésbicas, drag queens e gays se rebelou contra o autoritarismo e a ausência de liberdade a que estavam submetidas num gueto onde a população LGBT frequentava; Os espaços eram extorquidos e comandados por grupos que exploravam esse sentimento”, diz Andrey Roosewelt Chagas Lemos, especialista em História, mestre em Políticas Públicas e presidente nacional da UNALGBT.
Para ele, os efeitos da resistência LGBT em Nova York “nestas cinco décadas se espalharam pelo mundo estimulando o surgimento de muitas organizações sociais e manifestações de rua como as paradas de Orgulho LGBT”.
Aliás, a primeira Parada do Orgulho LGBT ocorreu em 1970 em Nova York como resultado direto da Revolta de Stonewall. “E se a história moderna das paradas gays e da própria luta pelos direitos LGBTs possui um início formal, esse início aconteceu na madrugada do dia 28 de junho de 1969, em um bar no bairro do Greenwich Village, em Nova York, chamado Stonewall Inn”, explica o ativista Vitor Paiva.
Depois desse dia, vários levantes se sucederam com grande repressão policial, mas a resistência saiu vitoriosa por sua atitude de enfrentamento à violência e à discriminação. “Não foi fácil dar visibilidade a essa população no campo dos direitos humanos. Porém, hoje percebemos que muita coisa mudou, alcançamos muitas vitórias, mas a luta não acabou”, complementa Andrey.
Ele explica que, em pleno século 21, existem “mais de 60 países que violentam e violam os direitos da nossa comunidade. Seis países ainda condenam à morte pessoas por causa de sua orientação sexual”.
O Brasil permanece como o país mais violento contra os LGBTs. Somente de janeiro a 15 de maio deste ano, 141 pessoas foram mortas no país por sua orientação sexual, revela o Grupo Gay Bahia. Foram 126 homicídios e 15 suicídios causados pela discriminação e perseguição – uma média de uma morte a cada 23 horas. Alarmante.
Por isso, é essencial que a sociedade civil organizada acorde para a necessidade de defender a população LGBT, acredita Silvana Conti, vice-presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, seção Rio Grande do Sul (CTB-RS) e dirigente do PCdoB-RS.
Para ela, é necessário “elevar a consciência política da classe trabalhadora sobre a necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho, direitos sociais e enfrentamento ao machismo, ao racismo e à LGBTfobia”.
Os ativistas brasileiros lembram que a comunidade LGBT teve uma significativa vitória com a aprovação da criminalização da LGBTfobia pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 13 de junho deste ano, igualando ao crime de racismo, que é inafiançável. E isso apesar de, “no Brasil, na América Latina e em outros países, vivermos momentos de avanço do conservadorismo com muitos retrocessos em relação à nossa luta”, realça Andrey. “O Brasil coloca quase 4 milhões de pessoas na Parada LGBT de São Paulo, a maior do mundo, mas elege um governo que persegue nossos direitos e legitima a LGBTfobia”.
Como diz o pesquisador Daniel Borillo, no livro Homofobia: História e Crítica de um Preconceito, a violência contra a população LGBT “constitui uma ameaça aos valores democráticos de compreensão e respeito por outrem, no sentido em que ela promove a desigualdade entre os indivíduos em função de seus simples desejos, incentiva a rigidez dos gêneros e favorece a hostilidade contra o outro”.
Como Paiva explica, imediatamente à chegada da polícia, as luzes foram acesas no Stone Inn e, como de costume, as saídas foram fechadas, os clientes alinhados e os que estavam vestidos de mulher separados para as policiais femininas conferirem seus sexos. Teve início a rebelião, com a recusa dos frequentadores do bar gay de se submeterem a esse vexame. O movimento ganhou repercussão, pessoas foram presas, mas a reação à ação policial gerou o início de uma revolta que não pararia mais.
O ativista Paiva lembra a definição dos historiadores Dudley Clendinen e Adam Nagourney para a madrugada de 28 de junho de 1969 como um marco fundamental para o movimento LGBT porque a partir daquela data “as pessoas passaram a aparecer em público como homossexuais, exigindo respeito”.
Enquanto Andrey conclui que neste dia “devemos celebrar as conquistas, mas sobretudo nos mantermos unidas firmes na trincheira de lutas em defesa das nossas vidas, dos nossos direitos e da liberdade de ser, existir, resistir e amar”.
Veja abaixo o documentário A Revolta de Stonewall
por Marcos Aurélio Ruy | Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
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