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Sábado, Dezembro 21, 2024

George Gershwin | Um legado essencial

José Alberto Pereira
José Alberto Pereira
Professor Universitário, Formador Consultor e Mestre em Gestão

Gershwin era conhecido como um homem gregário, cujo ego enorme era temperado por uma personalidade genuinamente magnética. Ele amava seu trabalho e abordava cada tarefa com entusiasmo, nunca sofrendo o bloqueio do compositor. Durante o primeiro semestre de 1937, Gershwin começou a sentir fortes dores de cabeça e perdas de memória, embora os exames médicos indicassem que ele estava de boa saúde. No entanto, em julho desse ano Gershwin perdeu peso drasticamente e algumas capacidades motoras, começando a precisar de ajuda para caminhar. Gershwin entrou em coma a 9 de julho e uma punção lombar revelou um tumor no cérebro. Gershwin não voltou a recuperar a consciência e morreu durante a cirurgia dois dias depois. Estava no auge da sua criatividade, com vários projetos por realizar, entre eles esboços para um novo quarteto de cordas e uma nova sinfonia, um projeto de ballet e colaborações de comédia musical com George S. Kaufman e DuBose Heyward. A sua morte chocou a nação, cujo sentimento pode ser resumido numa famosa declaração do romancista John O’Hara: “George Gershwin morreu a 11 de julho de 1937, mas não preciso acreditar se não quiser.”

Ira Gershwin ficou tão devastado que não pôde trabalhar durante mais de um ano após a morte do irmão, tornando-se posteriormente o tutor do seu legado. Nesse âmbito, supervisionou o lançamento de várias composições inéditas de Gershwin, incluindo trabalhos para piano, o “Lullaby” para quarteto de cordas e a “Catfish Row Suite” de “Porgy and Bess”, um trabalho que é considerado como o último trabalho orquestral composto por Gershwin. Ira também colocou letras em músicas escritas nos cadernos de George, criando novos temas de Gershwin para os filmes “The Shocking Miss Pilgrim” (1947) e “Kiss Me, Stupid” (1964). Continuou ainda o trabalho de sucesso com outros compositores, incluindo Kurt Weill, Jerome Kern e Harold Arlen.

A música de Gershwin permanece um tema de debate entre importantes maestros internacionais, compositores e estudiosos da música, alguns dos quais acham que seus trabalhos para orquestra são ingenuamente estruturados, pouco mais do que melodias cativantes unidas pela mais simples das ligações musicais. Em 1954, Leonard Bernstein resumiu os sentimentos de muitos músicos clássicos, dizendo: 

Os temas são maravilhosos, inspirados quase que por Deus. Eu acho que desde Tchaikovsky ninguém compôs melodias tão belas como ele. Mas se quiser falar de estrutura da composição, isso é outro assunto”.

George e Ira Gershwin

Apesar das críticas, o trabalho de Gershwin é a todos os títulos notável: juntamente com Irving Berlin, Cole Porter e Richard Rodgers, foi um dos quatro maiores compositores do teatro musical americano. Foi igualmente o único compositor popular do século XX a ter feito uma incursão significativa e duradoura no mundo da música clássica. Gershwin tinha grandes admiradores no campo clássico, incluindo gente como Arturo Toscanini, Fritz Reiner, Arnold Schöenberg, Maurice Ravel, Sergey Prokofiev ou Alban Berg. Todos eles exaltaram o génio da melodia e da harmonia de Gershwin. As suas obras orquestrais, hoje apresentadas pelas mais prestigiadas orquestras sinfónicas do mundo, alcançaram um status pelo qual Gershwin ansiou durante a sua vida. Aaron Copland e Charles Ives podem rivalizar com Gershwin pelo título de “grande compositor norte-americano”, mas os seus trabalhos tendem a ser admirados, enquanto a música de Gershwin é verdadeiramente amada. Como observou o musicólogo austríaco Hans Keller:

Gershwin é verdadeiramente um génio, cujo estilo esconde a riqueza e a complexidade da sua música. Existem efetivamente pontos fracos, mas quem se importa com eles quando é tanta a grandeza?”

 

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Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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