O agravamento das desigualdades dos rendimentos em Portugal entre 2015 e 2017, a miséria crescente dos desempregados e o agravamento das desigualdades no acesso à saúde devido às dificuldades do SNSNeste estudo analiso, utilizando os dados que Autoridade Tributária e Aduaneira do Ministério das Finanças divulgou recentemente, a repartição dos rendimentos em Portugal mostrando que a desigualdade na sua distribuição se agravou entre 2015 e 2017, ou seja, mesmo com o actual governo. E que apesar do desemprego ter diminuído entre 2015 e 2019, a percentagem de desempregados a viver no limiar da pobreza aumentou devido à redução do numero de desempregados a receber o subsidio de desemprego (menos de 32 em cada 100).
As desigualdades no nosso país estão também a aumentar devido ao subfinanciamento crónico do SNS que reduziu drasticamente o investimento e promoveu a promiscuidade dos profissionais que trabalham simultaneamente no SNS e no sector privado porque o sector publico não lhes oferece nem remunerações nem carreiras dignas em troca da exclusividade. Tal facto está a causar a falta de profissionais no SNS e uma gestão ineficiente do SNS, o que acarreta desperdícios de meios e subutilização de equipamentos, e a determinar dificuldades crescentes aos portugueses no acesso a cuidados de saúde, fazendo explodir o negócio privado de saúde. Enquanto isto acontece, os partidos de esquerda no lugar de se unirem para resolver estes problemas graves do SNS que afectam os portugueses e estão a provocar a sua destruição e o florescimento do negócio privado de saúde, desentendem-se em relação às PPP e às taxas moderadoras, que são problemas mas menores em relação a estes.
Espero que este estudo, seja um contributo para um melhor conhecimento da situação vivida e sentida por muitas centenas de milhares de portugueses e para a reflexão.
Estudo
O agravamento das desigualdades dos rendimentos em Portugal entre 2015 e 2017, a miséria crescente dos desempregados e o agravamento das desigualdades no acesso à saúde devido às dificuldades do SNS
A Autoridade Tributária e Aduaneira acabou de publicar as estatísticas do IRS referentes ao período 2015-2017 (infelizmente o Ministério de Vieira da Silva continua a não publicar a Conta da Segurança Social – Parte II de 2017 e ninguém na Assembleia da República parece importar-se com esta falta de transparência e com esta intenção de ocultar a situação dos reformados). E essas estatísticas revelam que a desigualdade na repartição dos rendimentos em Portugal se agravou entre 2015 e 2017, com o actual governo, conforme mostra o quadro seguinte.
Quadro 1 – Rendimentos brutos declarados para efeitos de IRS e sua repartição por escalões
ESCALÕES DE RENDIMENTO EM EUROS | 2015 | 2016 | 2017 | ||||||
Número de agregados | Rendimento Bruto – Milhões€ | Rendimento médio anual do agregado | Número de agregados | Rendimento Bruto – Milhões€ | Rendimento médio anual do agregado | Número de agregados | Rendimento Bruto – Milhões€ | Rendimento médio anual do agregado | |
01 – [ 0 A 5.000 [ | 793 388 | 2 036 | 2 566 € | 744 923 | 1 868 | 2 507 € | 718 643 | 1 796 | 2 499 € |
02 – [ 5.000 A 10.000 [ | 1 544 012 | 11 603 | 7 515 € | 1 536 298 | 11 658 7 | 7 588 € | 1 534 136 | 11 794 | 7 688 € |
03 – [ 10.000 A 13.500 [ | 686 587 | 7 963 | 11 598 € | 713 129 | 8 271 | 11 598 € | 750 179 | 8 698 | 11 595 € |
04 – [ 13.500 A 19.000 [ | 666 016 | 10 650 | 15 990 € | 687 843 | 11 000 | 15 993 € | 708 246 | 11 336 | 16 006 € |
05 – [ 19.000 A 27.500 [ | 575 497 | 13 083 | 22 733 € | 602 145 | 13 704 | 22 758 € | 632 429 | 14 393 | 22 758 € |
06 – [ 27.500 A 32.500 [ | 181 129 | 5 404 | 29 833 € | 190 224 | 5 678 | 29 849 € | 204 196 | 6 090 | 29 825 € |
07 – [ 32.500 A 40.000 [ | 183 937 | 6 613 | 35 954 € | 191 700 | 6 898 | 35 985 € | 202 917 | 7 303 | 35 993 € |
08 – [ 40.000 A 50.000 [ | 143 604 | 6 385 | 44 461 € | 152 614 | 6 794 | 44 517 € | 162 417 | 7 236 | 44 551 € |
09 – [ 50.000 A 100.000 [ | 198 000 | 13 088 | 66 099 € | 211 279 | 14 003 | 66 276 € | 223 331 | 14 810 | 66 314 € |
10 – [ 100.000 A 250.000 [ | 34 030 | 4 556 | 133 877 € | 38 202 | 5 141 | 134 572 € | 40 932 | 5 538 | 135 305 € |
11 – [ 250.000 A *** [ | 2 452 | 1 096 | 447 162 € | 2 794 | 1 229 | 439 711 € | 3 217 | 1 436 | 446 294 € |
Nº vezes que rendimento do escalão mais elevados é superior ao do escalão mais baixo (coluna a amarelo, nas outras é a SOMA) | 5 008 652 | 82 475 | 174,3 | 5 071 151 | 86 243 | 175,4 | 5 180 643 | 90 430 | 178,6 |
No quadro anterior constam os rendimentos declarados pelos portugueses para efeitos de pagamento de IRS, que inclui as remunerações dos trabalhadores, as pensões dos reformados e aposentados, e todos os restantes rendimentos (prediais, de capitais, mais valias, etc.). Os rendimentos do trabalho mais o de pensões representam, segundo a AT, cerca de 90% dos rendimentos declarados para efeitos de IRS, o que mostra bem a dimensão da fuga ao pagamento de IRS pelas outras categorias ( do capital) assim como as isenções de que gozam os rendimentos de capitais e outros no nosso país.
A analise dos dados divulgados pela Autoridade Tributária revela que, em 2015, o rendimento médio dos agregados com rendimentos mais elevado (acima de 250.000€ por ano) era superior ao rendimento médio bruto dos agregados do escalão mais baixo (rendimento até 5000€ por ano) em 174,3 vezes e, em 2017, aumentou para 178,6 vezes (o do escalão mais elevado é 178,6 vezes superior ao do escalão mais baixo). É evidente o agravamento da distribuição dos rendimentos no nosso país revelado pelos próprios dados oficiais.
O aumento do IRS foi maior nos rendimentos mais baixos do que nos mais elevados
Outro agravamento da injustiça revelado pelos dados da Autoridade Tributária é o de um aumento maior, em termos percentuais, do IRS pago (liquidado) pelos rendimentos mais baixos.
Quadro 2 – Variação do IRS pago por escalões entre 2015 e 2017
ESCALÕES DE RENDIMENTO LIQUIDADO – Em euros | IRS médio liquidado/pago por escalão | Variação % 2015-2017 | ||
2015 | 2016 | 2017 | ||
01 – [ 0 A 5.000 [ | 900 € | 958 € | 1 053 € | 16,9% |
02 – [ 5.000 A 10.000 [ | 527 € | 506 € | 495 € | -6,2% |
03 – [ 10.000 A 13.500 [ | 722 € | 736 € | 732 € | 1,5% |
04 – [ 13.500 A 19.000 [ | 1 239 € | 1 297 € | 1 318 € | 6,4% |
05 – [ 19.000 A 27.500 [ | 2 243 € | 2 300 € | 2 300 € | 2,5% |
06 – [ 27.500 A 32.500 [ | 3 856 € | 3 847 € | 3 856 € | 0,0% |
07 – [ 32.500 A 40.000 [ | 5 683 € | 5 653 € | 5 631 € | -0,9% |
08 – [ 40.000 A 50.000 [ | 7 909 € | 7 925 € | 7 933 € | 0,3% |
09 – [ 50.000 A 100.000 [ | 14 947 € | 15 144 € | 15 247 € | 2,0% |
10 – [ 100.000 A 250.000 [ | 42 207 € | 42 451 € | 43 062 € | 2,0% |
11 – [ 250.000 A *** [ | 192 025 € | 189 550 € | 195 861 € | 2,0% |
Segundo os dados do Ministério das Finanças, entre 2015 e 2017, o IRS médio pago no escalão até 5000€/ ano aumentou em 16,9%, enquanto o IRS médio pago no escalão de valor mais alto, superior a 250.000€ a subida foi apenas de 2%. É mais um dado oficial que confirma o aumento das desigualdades na distribuição dos rendimentos no nosso país mesmo 2015/17.
O aumento da miséria dos desempregados: apenas 32 em cada 100 recebe subsídio
O governo e os seus defensores nos media têm-se multiplicado em afirmações sobre a redução do desemprego em Portugal, procurando assim esconder a dura realidade de centenas de milhares de desempregados que continuam a existir no nosso país, e da falta de apoio crescente dado aos desempregados, para assim obter a redução do défice orçamental com o qual Mário Centeno e António Costa têm “brilhado” em Bruxelas, ou seja, à custa de miséria de muitos portugueses. O quadro seguinte mostra o numero de desempregados existentes no nosso país, e o reduzido numero dos que recebem subsidio de desemprego.
Quadro 3- O total de desempregados e os que recebem subsidio de desemprego
PORTUGAL | Valor trimestral – Milhares | ||
1ºTrim.-2018 | 4ºTrim.-2018 | 1ºTrim.-2019 | |
1- Desempregados (nº oficial) | 410,1 | 349,1 | 353,6 |
2-Inactivos disponíveis mas que não procuram emprego (desempregados não considerados no nº oficial) | 199,6 | 178,7 | 177,0 |
3- DESEMPREGO REAL (1+2) | 609,7 | 527,8 | 530,6 |
4-DESEMPREGADOS E RECEBER SUBSIDIO | 188,2 | 173,8 | 168,9 |
TAXA COBERTURA SUB.DESEMPREGO (4 : 3) | 30,9% | 32,9% | 31,8% |
5-SUBSIDIO MÉDIO DE DESEMPREGO | 487,4 € | 496,7 € | 494,2 € |
Os dados do INE, contrariam a propaganda oficial, pois mais de meio milhão de portugueses – precisamente 530.600 – encontravam-se desempregados no fim do 1º Trimestre de 2019. E apenas 168.900, ou seja, menos de 32 em cada 100 é que recebiam o subsídio de desemprego. E o subsídio médio era apenas de 494,2€ pouco superior ao valor do IAS que é 435,76€. Tal facto determina que a percentagem de desempregados na miséria tenha aumentado mesmo com o actual governo como provam os dados do INE no quadro seguinte.
Quadro 4- Taxa de risco de pobreza após transferências sociais, segundo a condição perante o trabalho, Portugal, 2014-2017
Ano de referência | 2015 | 2016 | 2017 |
CAUSAS DA POBREZA EM PORTUGAL | Total | Total | Total |
Empregado | 10,9% | 10,8% | 9,7% |
Sem emprego | 25,4% | 25,1% | 24,8% |
Desempregado | 42,0% | 44,8% | 45,7% |
EU-SILC | 2016 | 2017 | 2018 |
Quando o actual governo tomou posse 42% dos desempregados (255,8 mil) viviam na pobreza; em 2017 aquela percentagem aumentou para 45,7% (242,5 mil). Portanto, apesar do desemprego ter diminuído os desempregados na miséria não diminuíram na mesma proporção.
As dificuldades crescentes do SNS estão a agravar ainda mais as desigualdades
As dificuldades crescentes que enfrenta o SNS, devido ao subfinanciamento crónico que reduziu drasticamente o investimento e promoveu a promiscuidade dos profissionais que trabalham simultaneamente no SNS e no sector privado porque o sector publico não lhes oferece nem remunerações nem carreiras dignas em troca da exclusividade que é urgente implementar para defender o SNS, está a causar a falta de profissionais no SNS que associada a uma gestão ineficiente do SNS acarreta desperdícios de meios e subutilização de equipamentos, e dificuldades crescentes aos portugueses no acesso a cuidados de saúde, fazendo explodir o negócio privado de saúde. Enquanto isto acontece, os partidos de esquerda no lugar de se unirem para resolver estes problemas graves do SNS que afectam os portugueses e estão a provocar a sua destruição e o florescimento do negócio privado de saúde, desentendem-se em relação às PPP e às taxas moderadoras que, embora sejam problemas, são menores para os portugueses em relação àqueles.
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