Breve comentário a uma notícia publicada dia 22, no jornal online Observador.
- A reportagem do observador é exatamente o que parece- mais uma lamentável intriga oriunda da antiga casa civil do presidente Cavaco Silva.
- O objetivo é tentar ligar o meu nome – e a aprovação do decreto lei que criou o museu Berardo no CCB – aos empréstimos que lhe foram concedidos pela Caixa Geral de Depósitos. Mais uma vez, nada há de verdade nessa insinuação.
- Como é falsa também a chamada “ coincidência de timing” entre a aprovação do decreto lei e a concessão de créditos da caixa ao senhor José Berardo para comprar ações no BCP. A primeira é de 2006, o contrato de crédito é de 2007.
- É igualmente falso que fosse “normal” – como é referido no texto – que os pareceres internos da casa civil fossem entregues no meu gabinete. Os pareceres internos da casa civil servem para aconselhar o Presidente, não o Governo. O que aconteceu neste caso foi que o governo aprovou um decreto-lei que permitiu expor a melhor coleção de arte moderna existente no Pais, aumentando a oferta cultural. O Presidente decidiu promulgar esse decreto, podendo não o fazer.
- Finalmente não resisto a citar um breve trecho da reportagem. Diz o jornalista: “O desagrado de Cavaco Silva com o desequilíbrio do acordo negociado pelo Governo Sócrates era tal que, a propósito de uma capa que a revista norte americana fez na mesma altura com o multimilionário Warren Buffet chegou a desabafar para a sua equipe: “ Este sim, é que é um verdadeiro benemérito” , disse o Presidente enquanto pegava na revista.” Brevemente, porque o assunto não merece mais: o jornalista relata uma história que lhe foi contada por alguém, como se ele próprio a tivesse pessoalmente testemunhado, enganando maliciosamente os seus leitores. Enfim.
Ericeira, 23 de julho de 2019
José Sócrates
PS- envio também as respostas dadas a este propósito na Comissão de Inquérito da Caixa Geral de Depósitos. Eis o texto:
VI- Senhor José Berardo
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Nunca reuni com o senhor José Berardo em 2007. A única reunião de trabalho – a única – que tive com ele decorreu no meu gabinete, a pedido da então Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, para discutir a possibilidade de um acordo entre o Estado e a Fundação Berardo para que a sua coleção fosse exposta no Centro Cultural de Belém. Essa reunião aconteceu antes do acordo que foi assinado a 3 de Abril de 2006 e nunca mais tive qualquer outra reunião de trabalho nem acompanhei o desenrolar das negociações, que decorreram no respetivo Ministério da tutela. Quero reafirmar, como já fiz publicamente no dia da inquirição do Dr. Filipe Pinhal, que nunca discuti, conversei ou orientei o senhor José Berardo em qualquer investimento ( aliás, não tinha com ele qualquer relação que permitisse uma conversa desse tipo). Nunca tive conhecimento, fosse por quem fosse, do empréstimo que este negociou com a Caixa Geral de Depósitos para reforçar a sua posição acionista no Banco Comercial Português, assim como não tinha conhecimento que a Caixa ou o restante sector financeiro realizassem empréstimos tomando como garantias ações de bancos. Nunca sugeri a ninguém- acionista ou não acionista – que requeresse empréstimos na Caixa para tomar ou reforçar posições no banco comercial português. Tal assunto nunca foi discutido dentro do Governo nem o discuti com o Ministro da Finanças. Na verdade, só tive conhecimento desse financiamento exatamente no mesmo momento em que todos os portugueses souberam – no inicio dos trabalhos dessa Comissão Parlamentar.
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No entanto, a miséria moral chegou a tal ponto que nesta comissão o senhor Filipe Pinhal referiu uma pretensa conversa com o senhor Joe Berardo em que este lhe terá dito que “ ainda estou para saber como é que aquele homem me enfeitiçou, como é que aquele homem me deu a volta…” Para, então, a partir daqui, concluir que “aquele homem” só poderia o Dr. Teixeira Pinto ou eu próprio. E, acrescenta, só poderia ter sido eu já que a palavra daquele não teria peso suficiente para o influenciar. Este comportamento não tem outro objetivo que não seja senão procurar envolver o meu nome na história seja de que forma for, nem que seja preciso recorrer à forma mais abjeta de intriga e de insinuação. É uma tristeza.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
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