O encontro do presidente Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur L. Ross Jr, para iniciar oficialmente as negociações de um acordo comercial escancara o entreguismo deste governo. De acordo com o ministro, o objetivo é fechar uma “aliança estratégica”, algo que seria mais profundo do que um acordo comercial. O presidente norte-americano, Donald Trump, ao elogiar o clã Bolsonaro já havia comentado o sinal verde para a “aliança”.
Ele fala pelos interesses econômicos da sua lógica geopolítica, obviamente. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2018, as exportações de produtos brasileiros ao país norte-americano representaram cerca de 12% do total, somando US$ 28,7 bilhões, informa a Agência Brasil. Entre os principais produtos exportados estão aviões, óleos brutos de petróleo e produtos semimanufaturados de ferro e aço. O Brasil importa principalmente combustível refinado, como gasolina e óleo diesel.
Os Estados Unidos já controlam quase 70% das importações brasileiras de gasolina, conforme dados do site Monitor Mercantil. Nos seis primeiros meses deste ano, as importações deste combustível vindas dos Estados Unidos somaram US$ 634 milhões. A situação é ainda mais grave no caso do óleo diesel – as refinarias norte-americanas foram responsáveis por 86% das compras brasileiras no período de 12 meses entre junho de 2018 e maio de 2019.
Guedes afirmou que Trump está pensando em uma aliança estratégica para toda a América Latina. Segundo ele, é possível conciliar o acordo comercial firmado entre Mercosul e União Europeia (UE) com as negociações com os Estados Unidos. O ministro também reafirmou que os norte-americanos prometeram apoiar a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – uma condição que impõe a renúncia às prerrogativas destinadas a países em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC).
São dados que aprofundam a precarização da economia brasileira, reforçados pelas declarações de Bolsonaro de que Brasil deve se preocupar apenas com as commodities, o setor primário da economia. Soma-se a essa declaração vassala a concessão de Trump ao Brasil do status de aliado da Organização do Tratado do Atlântico norte (Otan), aliança militar sob a hegemonia do Pentágono.
O resultado é a completa renúncia da política externa pautada pela multipolaridade, capaz de explorar os benefícios potenciais de um maior intercâmbio econômico e de uma presença maior do Brasil no mercado internacional. Em seu lugar entra a submissão às relações internacionais sob a hegemonia de um sistema que vê na América Latina uma abundante fonte de matérias-primas e de força de trabalho.
A região possui mais da metade dos recursos naturais do planeta. De cada cinco árvores que existem na terra, duas estão nesse espaço. A região possui o rio mais caudaloso, duas das maiores cidades do mundo e uma riqueza fabulosa de terras férteis. A América Latina sob a égide desse acordo seria o paraíso para os interesses econômicos da geopolítica de Trump, a implantação da proposta que no ciclo neoliberal que dominou a região ficou conhecida como Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que foi plenamente rejeitada pelo então presidente Lula em nome da soberania nacional.
Para preparar o terreno, o governo Bolsonaro atua para desmontar o Estado Nacional com sua política que tem como alvo a legislação democrática e social, além do sucateamento das estatais – os investimentos das empresas públicas caíram de 19,7% em 2016 para 6,7% – para entregá-las a preço vil. Em outra frente, Guedes ataca o que ele chamou de “social-democracia” para impor a sua agenda ultraliberal e neocolonial. Diante dessa realidade, a pauta econômica tende a ser um catalizador de unidade ampla contra o governo Bolsonaro.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado
Transferência Bancária
Nome: Quarto Poder Associação Cívica e Cultural
Banco: Montepio Geral
IBAN: PT50 0036 0039 9910 0321 080 93
SWIFT/BIC: MPIOPTPL
Pagamento de Serviços
Entidade: 21 312
Referência: 122 651 941
Valor: (desde €1)
Pagamento PayPal
Envie-nos o comprovativo para o seguinte endereço electrónico: [email protected]
Ao fazer o envio, indique o seu nome, número de contribuinte e morada, que oportunamente lhe enviaremos um recibo via e-mail.