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Sábado, Dezembro 21, 2024

John Hughes: a alma da juventude da década de 1980

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

Dia 6 de agosto de 2019 marca os dez anos da morte do cineasta novaiorquino John Hughes, vítima de um ataque cardíaco aos 59 anos. Mas quem foi John Hughes? Seu nome pode não ser tão conhecido, mas seus filmes são.

Descobri esta efeméride (os dez anos de sua morte), por acaso, ao comentar com meu marido, João, sobre um filme que revi, depois de 30 anos: Gatinhas e Gatões.

Comentei que o filme é anterior ao “cult” A Garota de Rosa Shocking (que costumo cultuar no meu microcosmos social) e que segue roteiro semelhante. Entre o primeiro, de 1984, e o segundo, de 1986, o diretor ganhou alguma sofisticação. Enquanto A Garota de Rosa Shocking tem um ar cult, Gatinhas e Gatões é “toscão”. Foi o que disse ao João no café da manhã de domingo para convencê-lo a assistir comigo (risos). Aleguei que Hughes dirigiu diversos filmes que considero clássicos juvenis, como O Clube dos 5, Mulher Nota 1000 e Curtindo a Vida Adoidado.

Já mordido pela curiosidade, João googlou o diretor e descobrimos, desta forma, no dia 4 de agosto de 2019, que ele havia morrido em 6 de agosto de 2009. Descobrimos também que, além dos clássicos juvenis que cultuo há 30 anos, ele foi o rei da comédia juvenil, brindando-nos com filmes como: Férias frustradas, Beethoven e Esqueceram de mim. Quem nunca se aconchegou com um desses em alguma tarde vazia?

John Hughes

Voltando ao “toscão”. O filme foi, em sua época, uma comédia romântica banal. Hoje, entretanto, ele é bem estranho. Detectei, não como parte central da história, mas em situações laterais e comentários passageiros, discriminações que não passariam pelo crivo do politicamente correto. Certamente não detectei isso 30 anos atrás, mesmo porque eu tinha 12 anos. Mas duvido que algum adulto da época tenha detectado. Não da forma apurada com que nosso radar político é capaz hoje de detectar e julgar.

Outra coisa que achei interessantíssima foi a representação dos nerds do filme. Hoje os nerds estão tão em alta que o termo pejorativo os designava foi praticamente abolido. Hoje é cool ser nerd. Em 1984 não era. Os nerds eram os esquisitos da escola. Os rejeitados pelos caras legais e pelas garotas populares. Muitas comédias daquela época riram das esquisitices deles. Muitas de John Hughes. O que não se previa era que muitos daqueles esquisitos de ontem tornaram-se os milionários e bilionários da tecnologia de hoje, com seus sites e aplicativos que dominam o mundo. Vivemos a “Vingança dos Nerds”?

Em sua descrição no Wikipédia Hughes era, ele próprio, um tímido nerd. Talvez por isso, ele tenha retratado tão bem a alma da juventude da década de 1980 não apenas sendo toscão, mas também sendo sensível, sofisticado, divertido e até profundo como foi em O Clube dos 5. Ele extraiu graça, sensibilidade e reflexão de histórias simples e cotidianas. Dirigiu atores como ninguém.

John Hughes, de óculos, com o elenco de O Clube dos 5

Pode ser que, como o garoto esquecido em casa pela família que parte para uma viagem de férias, a efeméride de sua morte não seja devidamente lembrada. Esqueceram de John Hughes? Pode ser. Mas certamente nunca esqueceremos de seus filmes.

Assista o trailer de Gatinhas e Gatões


Texto em português do Brasil


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