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Sábado, Dezembro 21, 2024

A Amazônia é nossa!

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

O agravamento das queimadas na Amazônia causa alarme no mundo e será debatido na reunião do G7.

O Estado brasileiro, seu governo e suas Forças Armadas têm a obrigação legal de defender a Amazônia por uma razão muito simples: ela é parte do território brasileiro. Aliás a maior parte: são 65%, dois terços dos 8,5 milhões de quilômetros quadrados que formam o Brasil.

Existem várias razões para a defesa da Amazônia, mas esta é a principal – a proteção da integridade do território nacional, que cabe àquelas instituições e a todos os brasileiros.

“A Amazônia é nossa”: este clamor (que ecoa o slogan da grande campanha de defesa nacional nas décadas de1940 e 1950, “o petróleo é nosso”), volta a emergir com vigor nestes dias em que o governo de extrema direita do ex-capitão Jair Bolsonaro põe em risco a soberania brasileira sobre a Amazônia e também sua integridade. E, ao indicar o desrespeito à proteção ambiental, ameaça isolar ainda mais o Brasil no cenário mundial, com graves ameaças não só políticas – que decorrem do isolamento internacional do país – mas também econômicas pelo grave prejuízo ao comércio externo do país que essa marginalidade inconcebível pode acarretar.

Defender a Amazônia não se limita à grandiosa tarefa de proteger esta enorme parcela do território brasileiro contra a cobiça internacional, que é enorme e antiga, já podendo ser medida em séculos de investidas estrangeiras para ocupar a região ou partes dela.

Cobiça que, agora se manifesta novamente quando, a pretexto da agressão ambiental que resulta do enorme aumento das queimadas na floresta. A Amazônia será tema da reunião do G7 – os países mais ricos do mundo: Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido – que se realizará neste final de semana (dias 24 e 25) em Biarritz, na França.

Quem colocou o assunto na pauta foi o presidente francês Emmanuel Macron, alegando, de forma alarmista, que “Nossa casa queima. Literalmente. A Amazônia, o pulmão do nosso planeta que produz 20% do nosso oxigênio, está em chamas. É uma crise internacional. Membros do G7, vejo vocês em dois dias para falar sobre esta emergência”, escreveu no Twitter.

A alegação de Macron desrespeita a soberania brasileira, já enxovalhada pela própria ação do governo entreguista de Jair Bolsonaro que não só abre a porteira da região para a presença de empresas multinacionais, sobretudo dos EUA, mas dificulta e praticamente elimina a fiscalização das queimadas criminosas que ocorrem na região. Que aumentaram exponencialmente desde a posse de Jair Bolsonaro na presidência da República, em janeiro deste ano. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informa o registro de 74.155 incêndios na Amazônia desde o início do ano, ou seja, 85% a mais do que entre janeiro e agosto de 2018.

É um desastre enorme contra a parcela da humanidade que reside no Brasil e nos países vizinhos na América do Sul, antes de alcançar os demais países.

O desastre é maior do que as alegações do presidente francês, e cabe ao Brasil, a suas autoridades e a seu povo lutar contra ele.

A alegação de Macron – e de outros, induzidos pela propaganda na mídia – de que a Amazônia é o “pulmão do mundo” já foi desmentida pelos cientistas faz tempo: eles compararam a absorção de gás carbônico pela floresta e sua emissão de oxigênio e concluiram que elas se equilibram – as árvores da floresta usam praticamente todo o oxigênio que emitem, reduzindo assim em muito seu papel de “pulmão do mundo “.

A Amazônia deve ser defendida por outros motivos. Em primeiro lugar os climáticos, e a nuvem de fumaça das queimadas que escureceu São Paulo e outras cidades na segunda-feira (19), nas quais “anoiteceu” às 15 horas, em pleno dia, e a água da chuva estava tomada por suas partículas nocivas, é um sinal veemente das consequências climáticas da falta de proteção da Amazônia contra as queimadas. Que resulta do descaso do governo em fazer cumprir a lei de proteção ambiental.

A fumaça que escureceu São Paulo foi o sinal alarmante da incúria do governo da extrema direita, que não fiscaliza a ação ilegal e criminosa dos que queimam a flortesta. E, para piorar, o presidente acusou – sem nenhuma prova – ONGs e ambientalistas de responsáveis pelo desastre para, disse ele de maneira leviana e irresponsável, criar problemas para seu governo.

Se as queimadas destroem fisicamente a Amazônia e ameaçam regiões vizinhas, há outros motivos para a defesa da região.

A Amazônia tem a mais rica biodiversidade do planeta, com mais da metade das espécies vegetais e animais. É uma riqueza imensa, que faz parte do patrimônio da humanidade, e sua gestão e proteção cabem aos brasileiros, que podem ser beneficiados pelas riquezas que ela gera. Mas que desperta a ganância de empresas multinacionais que buscam o lucro que seu uso pode gerar.

Há também a riqueza mineiral do subsolo amazônico – que vai do minério de ferro, cobre, petróleo, até niquel, nióbio, e mesmo ouro e diamantes. A cobiça do capital, e de estrangeiros é grande e causa problemas graves pois, muitas vezes, estes minérios estão localizados em terras indígenas.

A lei exige que a mineração em terra indígena tenha legislação própria e a comunidade indígena seja consultada. Mas nem sempre isso acontece – e no governo de extrema direita, menos ainda. Um exemplo pode ser visto anos antes, em 2006, quando a Polícia Federal apurou, na Operação Carbono, a exportação ilegal de diamantes – muitos deles vindos da maior jazida do mundo, situada nas terras dos Cinta Larga, em Rondônia.

Depois do golpe de 2016, que afastou do governo a presidenta eleita Dilma Rousseff, esta situação com certeza se agravou em atenção ao verdadeiro clamor que surgiu, na extrema direita, contra o cumprimento da lei de proteção das florestas e de respeito à integridade das terras indígenas.

Há também a água doce, um recurso vital que hoje é escasso para cerca de 20% da população no mundo (1,4 bilhão de pessoas). E que, por isso, poderá causar disputas e mesmo guerras.

O grande depósito de água doce do mundo é a Amazônia – de cada dez 10 litros despejados no oceano, dois vêm do rio Amazonas. São 175 milhões de litros de água doce por segundo, o maior volume entre todos os rios do planeta. É quase nove mil vezes o conteúdo médio de uma piscina olímpica a desaguar no oceano por segundo.

É por estas razões que os brasileiros precisam defender a integridade da Amazônia – razões climáticas, econômicas, políticas e sociais.

“A Amazônia é nossa” – este slogan deve ser bradado ao mundo e também ao governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, cujo desprezo à lei e à ciência ameaça este patrimônio que, antes de pertencer à humanidade, é dos brasileiros.


Texto em português do Brasil


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