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Quarta-feira, Julho 17, 2024

Moçambique e os velhos fantasmas que pairam

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

“Quem tem dúvidas e escrúpulos de consciência é estimulado por um desejo e por um apetite de procurar a verdade.”
Jacobus Acontius, 1565

“A esperança é uma bússola sem dono.”
DMG

A resolução dos obstáculos à paz definitiva num clima de verdadeiro espírito democrático e inclusivo ainda está longe de se alcançar.

Ainda não houve uma única presidência em que não tenham havido mortes de oposicionistas, de jornalistas  ou de simples cidadãos que procurem manter uma certa idoneidade, alguma sanidade mental, um espírito  incorruptível, por razões de consciência ou formação. Uns menos, outros mais, uns mais evidentes, outros menos, mas acontece; a história recente prova-o e confirma-o.

Normalmente, a história é a grande conselheira e professora dos protagonistas. Pelo menos deveria ser, mas parece não suceder.

Em pleno século XXI, continuam a ocorrer os raptos, as ameaças, a lei da rolha mais ou menos camuflada, o medo com a morte a pairar e hoje ainda mais grave é, quando agora nem amnistias para assassinatos políticos deveriam ser toleradas ou permitidas em pleno estado de direito constitucional e com um parlamento multipartidário.

É preciso não esquecer que ficaram muitas mortes e actos de violência por explicar e entender, muitos corpos desaparecidos, muitos funerais e cerimónias fúnebres por realizar, muitos pedidos de perdão e desculpa por pedir e sem dúvida a necessidade premente da formação e implementação de uma comissão de justiça, reconciliação e verdade. Pelo meio o Acordo Geral de Paz de Roma, memorandos de entendimento, implementação de cessar – fogo e pequenos compromissos – promessa  para implementação definitiva do acordo Geral de Paz.

Como poderíamos esquecer que entre as negociações, ainda foi morto um negociador da Renamo e deputado (Jeremias Pondeca) e um académico (Cistac) e baleado um Secretário-Geral da Renamo (Manuel Bissopo).

Há países africanos, incluindo a República da África do Sul, o Ghana, o Ruanda, a Serra Leoa e a Libéria que estiveram largamente envolvidos em sérios processos de reconciliação, perdão e paz. Porquê desprezar estes exemplos africanos?

O exemplo da República da África do Sul, país vizinho de Moçambique com a sua Comissão de Verdade e Reconciliação (TRC), é vista ainda hoje como um modelo para todas as sociedades que desejam viver em paz no mundo. Moçambique é um daqueles casos em que permanece alguma impunidade dos autores morais, materiais e ideológicos, juntando-se-lhes os mandantes dos crimes que se vão repetindo ao longo da história do jovem país com 44 anos.

Nunca houve na República de Moçambique uma genuína reconciliação nacional de toda a família moçambicana desde 1975. Muita gente têm morrido. E nunca será com a simples implementação de amnistias que se resolverá o problema.

Faz mesmo falta um genuíno processo de reconciliação e paz nacional entre todos os moçambicanos sem excepção.

É importante esconjurar a catástrofe, estancar a corrupção, exortar à vigilância ante o monstro, a tirania ou a sua tentação, contra os prevaricadores e porta-vozes da violência e do medo e pela paz, liberdade, democracia, reconciliação e desenvolvimento.

Temos vivido e seguido a sequência de um filme alternativo medíocre que descredibiliza o país, com violência nua, desrazão soberana e interesses obscuros. A instabilidade instalou-se.

Esperemos que este filme termine com um final feliz para todos os moçambicanos e isso só será possível com a mudança de guião, que passa necessariamente também por uma mudança de mentalidade.

A paz será sempre a resposta dos sábios.


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