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Quarta-feira, Julho 17, 2024

Viajem no Kerala

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Índia

Faz agora um ano que estávamos a regressar do estado do Kerala, por onde viajamos durante 16 dias. Apanhamos a pior e mais trágica monção dos últimos 100 anos.

Mesmo assim foi uma viagem inesquecível, aventurosa, com muitos riscos que conseguimos ultrapassar com paciência, mas sobretudo com o apoio do nosso motorista local, o Fahad Nkd, amigo de infância do meu colaborador e amigo, o Raghunath Kadavanoor. Éramos cinco pessoas, a Sara M, o Chris R , o Kadavanoor, eu e o motorista. Tínhamos para nós uma confortável carrinha Toyota e dentro do carro tínhamos internet!

O plano da viagem, os sítios que iríamos visitar, os hotéis e as reservas florestais onde íamos ficar, foram escolhidas pelo meu amigo Kadavanoor que nasceu no Kerala. Esta viagem começou ao sermos recebidos na aldeia natal dele, a aldeia de Nambazikad, perto da cidade de Guruvayor.

Chegamos pelo Aeroporto de Cochim, ficamos dois dias em Guruvayor, onde há um templo hindú famoso e um parque onde vivem elefantes com muita idade que já não podem trabalhar.

Nesses dois primeiros dias o centro de operações foi a casa de família do R. Kadavanoor. Estas casas chamam-se Nãlukettu e ficaram celebres depois de ter sido publicado o romance com o mesmo nome, do escritor M.T. Vasudevan Nair, que relata a história do matriarcado trágico a elas associado.


Casa do estado indiano de Kerala, Nãlukettu

Lá em casa foram-nos oferecidos dois jantares cozinhados pelo famoso Sadam, cozinheiro de mão cheia, que também é um amigo de infância. A mãe do meu colaborador, a irmã, o irmão, as duas sobrinhas, um camarada dirigente do Partido Comunista local, que eu já conhecia de outra viagem anterior, o Chefe da Policia distrital, também membro da família e muitas dezenas de amigos apareceram! Tivemos vodka laranja como aperitivo, cerveja para as refeições, e a comida preparada pelo Sadam era assim uma coisa do outro mundo! Todos animadíssimos, todo mundo falava, conversava! Penso que até falei malayalam! Foram duas grandes noites, que incluíram passeio noturno pelo coqueiral da casa!

No terceiro dia seguimos para uma plantação de chá dos Western Ghates. Curvas e contra curvas ao longo do desfiladeiro que à nossa esquerda nos fazia sentir a imensidão de um vazio densamente arborizado. Essa estrada que sobe pela montanha acima é um susto e mostrou a destreza do nosso motorista. A certa altura a estrada foi cortada por uma elefante fêmea, que no seu vagar, olhou para nós indiferente e lá seguiu desaparecendo tal como tinha surgido. Lá em cima a paisagem maravilhosa, o alojamento quase rudimentar mas confortável. E as sanguessugas ficaram felizes com a nossa chegada que coincidiu com um tremendo aguaceiro a pronunciar os dias de tempestade que lá vinham.

Passamos lá em cima 2 noites e continuou a chover torrencialmente. Tínhamos galochas, guarda-chuvas, capas de oleado e como fazia calor as sanguessugas estavam cada vez mais animadas. Quando descemos e chegamos ao fundo do vale, fazia parte do nosso plano recomeçar a subir por outra vertente da montanha. Aí surgiu, via rádio e via internet, a decisão governamental de abrir 26 barragens que já não suportavam mais água das chuvas. E as estradas foram ficando mais e mais alagadas e tivemos de mudar percursos, estadias e hotéis. Logo que foi dado o alarme já havia 30 mortos. No final o número de mortos subiu para 350.

Decidimos ir para a costa, mais a sul, para Cochim, onde passamos dois dias felizes com a beleza da paisagem, da cidade, alojados num hotel, o Old Courtyard, lindíssimo. Na cidade, restaurantes excelentes, quer os mais caros quer os baratíssimos!

Decidimos mantermo-nos na costa. Os noticiários iam mostrando situações de grandes inundações com milhares de desalojados. Passamos vários dias em resorts nas praias, cada um mais bonito do que o outro. Entretanto o aeroporto de Cochim, inundado, deixou de operar voos.

Tínhamos uma reserva para um passeio de barco de um dia e uma noite que, claro incluía a dormida. Decidimos arriscar depois de o Fahad e o Kadavanoor conferenciarem com o mestre. A tempestade, que já se tinha anunciado pelo céu de chumbo e pelo vento estranhíssimo, caiu-nos em cima, com violência, durante a noite! O barco foi obrigado a atracar numa margem, preso por cabos a umas quantas palmeiras e lá ficamos a ver a chuva, o vento, a corrida das nuvens, bebendo chá. Foram-nos servidas três refeições deliciosas_estes barcos tem cozinheiro além do mestre marinheiro. O cozinheiro subia as escadas e perguntava:

_ A que horas querem jantar?

Nós respondíamos:

_ Às 19.30, pode ser?

Ele abanava a cabeça e respondia com ar triste:

_ Impossível. Posso servir às 19.35!

E nós:

_ Combinado.

Quando saímos do barco, vinte e quatro horas depois, já as estradas em volta estavam inundadas!

Decidimos então seguir para sul, para a cidade de Trivanduram.

Nos últimos dias desistimos de subir e descer montanhas impraticáveis e ficamos em resorts nas praias do sul, em sítios muito bonitos, frente ao mar, onde alojamentos, comida e serviço eram impecáveis. O Travancore Heritage, o Turtle Beach, a Marari Amrita Villas e o Fragrant Nature & Resort. Todos sítios inesquecíveis. Cheios de saudades do sul da Índia comemoramos agora essa viagem aventurosa para a qual tínhamos todos partido para saborear a brisa suave do mar das Laquedivas que sopra na costa do Kerala e para visitar santuários de vida animal selvagem.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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