A agência de “rating” DBRS alerta para riscos de “colapso do Reino Unido”, com a independência da Escócia, e regresso da violência na Irlanda do Norte, em caso de saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo.
“A DBRS considera que pontos de vista divergentes sobre o ‘Brexit’ entre os cidadãos do Reino Unido podem inadvertidamente levar ao colapso da União”, indica a agência canadense em nota analisando as implicações dos cenários de Brexit sem acordo e o seu potencial impacto na unidade do Reino Unido. A informação é do jornal Expresso.
“Num extremo está um ‘hard’ Brexit ‘severo’, no qual o Reino Unido sai permanentemente da União Europeia sem ‘airbags’ ou restrições quanto ao impacto da saída”, frisa a agência de ‘rating’, adiantando que tal ‘Brexit’ “pode rapidamente mudar o apoio à independência da Escócia e até, com o tempo, o apoio à unificação da Irlanda, aumentando o risco de ruptura do Reino Unido”.
A DBRS frisa que estas considerações “são exacerbadas pelo enfraquecimento do contexto econômico que intensifica as divisões dentro do Reino Unido”.
A agência alerta que um período acentuado e prolongado de perturbações nas relações com a UE (isto é, um Brexit sem acordo “severo”) teria consequências muito negativas, “incluindo um possível desmantelamento da União” do Reino Unido.
“A DBRS espera que um Brexit “grave” sem acordo seja política e economicamente doloroso e ameace a integridade da União”, sintetiza a agência, que adianta, na mesma nota, que uma ruptura do Reino Unido colocaria pressão negativa sobre o atual rating de ‘AAA’, com perspectiva estável.
A DBRS salienta que as dificuldades em preservar a unidade do Reino Unido num cenário de saída da UE foram evidentes nos resultados divergentes na votação do referendo, em 2016, entre os países que integram o Reino Unido, no qual Inglaterra (53,4%) e País de Gales (52,5%) votaram para sair e Irlanda do Norte (55,8%) e Escócia (62,0%) votaram para ficar na UE.
“A independência escocesa é a causa mais provável de uma ruptura do Reino Unido”, indica a DBRS, argumentando que, uma vez que quase dois terços dos eleitores escoceses votaram para permanecer na UE, no referendo do Brexit, “a questão da Escócia permanecer membro da UE continuou a ser um aspeto importante no debate sobre a independência escocesa”.
No caso de o Reino Unido deixar a UE, a DBRS antecipa que os pedidos de independência da Escócia se tornem ainda mais fortes, especialmente num cenário de saída sem acordo, adiantando que “um resultado mais remoto seria uma ruptura através da unificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda”.
Numa outra nota, a agência indica que um Brexit sem acordo aumenta igualmente os riscos para a República da Irlanda, nomeadamente em termos de segurança e política, para além dos riscos económicos.
“Um Brexit sem acordo representa um risco para o Acordo de Belfast que poderia despertar questões de segurança, incluindo a retoma da violência sectária”, indica a DBRS.
A agência de ‘rating’ frisa que os atuais impasses políticos entre o Reino Unido, a UE e a Irlanda do Norte tornam-se “ainda mais complicados num cenário de ‘Brexit’ sem acordo”, adiantando que a forma como a República da Irlanda navegaria pelas dificuldades do ‘Brexit’ também pode ter implicações na nota atribuída pela DRBS.
Jason Graffam, Vice-Presidente da DBRS, considera que “um retorno dos controlos fronteiriços e das restrições ao livre fluxo de pessoas e mercadorias entre as duas partes da Irlanda, provavelmente necessárias em caso de Brexit sem acordo, poderia minar os ganhos de segurança obtidos na Irlanda do Norte desde a assinatura do Acordo de Belfast”.
Será hoje debatido um projeto de lei para adiar o Brexit para evitar uma saída sem acordo em 31 de outubro, com o objetivo de concluir em poucas horas todas as etapas do processo na Câmara dos Comuns.
Uma moção aprovada na terça-feira à noite retirou ao Governo britânico o controlo sobre a agenda parlamentar de hoje e dá a este grupo de deputados a oportunidade para apresentar um projeto de lei e acelerar o processo de aprovação para que todas as etapas sejam concluídas até ao final da tarde.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, adiantou hoje que pretende realizar eleições antecipadas em 15 de outubro, desafiando o líder trabalhista a apoiar esta proposta, que vai ser votada esta noite.
Texto original em português do Brasil
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