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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Estamos num buraco negro

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Um buraco negro é uma zona do espaço sideral  da qual nada, nem mesmo partículas  que se movem à velocidade da luz, podem escapar, pois a velocidade delas é inferior à força de aspiração de corpos celestes infinitamente densos e pesados. O centro deste buraco negro chama-se singularidade, e supõe-se que aí a noção espaço-tempo  deixa de existir.

O que a substituirá?

Boris Jonhson, Donald Trump, Emanuel Macron, Varoufakis, podem ser equiparados a fenómenos sociais complexos por interagirem entre si-mesmos e exibem propriedades coletivas emergentes.

Mas Macron e Varoufakis já foram exorbitados. Perderam o comboio que os colocaria em órbita na tiara da estátua da liberdade. Entraram para outro carrossel mais folclórico e bonacheirão. Embora eu deva confessar que, na minha muito desviante apreciação dos seres humanos, In illo tempore, ainda pensei que Varoufakis era um discípulo de Noam Chomsky.

Apesar de tudo Varoufakis nas eleições legislativas de 2019, com o MeRA25 foi o sexto partido mais votado, acumulando nove cadeiras no Parlamento Grego mas  já sem os timbales e cacofonias televisivas e radiofónicas do passado!

Restam-nos os dois loiraços.

Eles, por onde passam, são meteoros desestabilizadores.

Precisamos de Einstein, de Lorenz, de todo o corpo conceptual da física teórica para os enquadrar e apreciar. Não sei se será mais útil vê-los com um telescópio ou um microscópio. As tiradas e twitts de ambos abrangem o infinitamente grande e o infinitamente pequeno. Talvez Alexandre Kojeve (The Notion of Authority, 1940) pudesse dar luminosidade histórica e interpretativa a ambos.

Vamos fazer uma abordagem das personalidades dos loiros em questão, para tentar avaliar o quanto o nosso universo, mesmo que absurdo, está em perigo de colapso.

Assim,

E ainda na física atual, um atractor pode ser definido como o conjunto de comportamentos característicos para os quais evolui um sistema dinâmico, independentemente do ponto de partida. Ou seja um atractor é um ponto para o qual toda a órbita que passar por um ponto próximo converge, ficando indefinidamente  aí retido, e para isso acontecer basta esperar umas unidades de tempo suficientes.

No caso de um campo de vetores, um atractor é sempre uma singularidade: se o atractor for o estado inicial, ele será o estado atingido para todo tempo, passado e futuro. Um atractor estranho é aquele em que o sistema flutua para sempre entre vários estados de um modo que não é aleatório, nem é fixo, nem oscilatório, mas sim uma flutuação contínua, ou seja caótica.

Trump e Boris Jonhson são ambos singularidades cujos comportamentos caóticos o são porque, o que dizem, escrevem, twittam e fazem não é aleatório, nem é fixo, nem oscilatório, mas sim uma flutuação contínua, que invade a política internacional com uma força de aspiração destrutiva de corpos celestes infinitamente densos. Ambos são obesos, pesadíssimos.

Para eles a noção de espaço-tempo está distorcida. Distorcida e invisível. Eles querem hoje, e hoje faz-se. No circulo de homens de negócios, de empreendedores, de políticos, de conselheiros que orbita elipsoidalmente em torno deles ,quem discorda é atirado ao lixo sideral. E ficamos siderados, todos.

Os países satélites do UK e dos USA estão com um síndrome vertiginoso e sentem as náuseas, os vómitos e as dores de cabeça que compõem o respetivo quadro clínico.

Os respetivos media, de cabeçalhos perdidos, são mais úteis aos vendedores de amendoins do que aos leitores. Mas vendem. Toda a gente gosta de amendoins!

Televisões e telejornais soluçam apreciações destemperadas de acordo com a imaginação, conhecimentos e criatividade dos convidados dos mais variados institutos políticos.

Pergunto-me porque é que a BBC ou a Al-Jazeera, já para não falar do RT, nunca convidam politólogos portugueses para opinarem sobre questões nas quais, a minha gargalhada singular, soa tão bem!

Ilustração de Beatriz Lamas Oliveira


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90


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