As instituições políticas internacionais estão assim a substituir o conhecimento científico nas ciências naturais por uma opaca modelização estatística, à imagem do que, com efeitos desastrosos, se fez na teoria económica, transformando-a em dogmas de escrutínio virtualmente impossível.
Nunca tive o prazer de conhecer pessoal ou profissionalmente o Professor Galopim de Carvalho, mas graças às redes sociais pude ler nos últimos dias alguns dos seus escritos que são da mais oportuna, mais didática e melhor fundamentada opinião sobre os desafios ambientais com que estamos confrontados.
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Leituras do Professor Galopim de Carvalho
São opiniões que não se encontram facilmente no espaço informativo ou de debate até porque não servem para municiar a nova guerra de religião em que se tornou o debate climático.
O eminente cientista saúda o poderoso movimento da juventude que se manifesta em defesa do ambiente, especialmente em ‘Não há planeta B (II)’, situa de forma assaz precisa o catastrofismo no plano científico, histórico e religioso e dá-nos uma espectacular lição em matéria de aquecimento global e ‘Não há planeta B’ (I) onde junta um acervo impressionante de conhecimento na matéria à sua opinião sobre a dinâmica climática do planeta.
O que prende mais a atenção no que ele nos diz é a espantosa dimensão das alterações climáticas a que assistimos nos últimos 18.000 anos (ou seja, 0,0004% da existência do planeta), que vão desde a subida do nível do mar de 140 metros, com períodos em que o nível subiu a um alucinante ritmo de 2 cm por ano, até a enormes variações de temperatura média, que vieram de um clima polar que chegava à latitude de Aveiro e passaram por temperaturas médias 3.° superiores às de hoje.
O que me parece essencial da sua mensagem é de que é preciso lutar pela preservação do meio ambiente, não deixando que este seja submergido por debates de mudanças climáticas ou especificamente sobre o aquecimento global.
É uma conclusão que partilho com ele, não necessariamente pelas mesmas razões – até porque naturalmente, não tenho competência científica na matéria para o poder fazer – mas a que penso poder chegar-se sem necessidade de entrar sequer no âmbito da dinâmica climática.
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Reequacionar os desafios ambientais
Desde a Cimeira do Rio de 1992 que, no quadro do direito internacional e do seu acompanhamento institucional, os impactos antrópicos no clima se autonomizaram de outras temáticas ambientais como a desertificação, as florestas ou os oceanos. Esse quadro institucional levou a que o debate do clima viesse a ocupar o espaço que era até aí ocupado pelo debate ambiental.
A inversão de prioridades interessou em primeiro plano à indústria que constitui a mais consistente ameaça de catástrofe ambiental, a indústria nuclear, que contra toda a evidência passou a ser considerada ‘verde’ e a toda uma série de actividades que atentam contra o ambiente.
Sem querer ser exaustivo, temos por exemplo a extração submarina de areias ou a mineração de água dos lençóis freáticos que levou já a impressionantes invasões do mar que foram escondidas pelos futuros efeitos da subida das águas ocasionada pelo aquecimento; a sobrepesca e a poluição que destroem os ecossistemas marinhos que são esquecidos em favor do mesmo aquecimento, ou a desertificação e destruição dos solos por via da intensificação insustentável da agricultura, ela também escondida por uma onda mediática sobre o aquecimento global.
O debate climático tem ainda a suprema vantagem para quem nada quer fazer em prol do ambiente de ser um debate sobre um fenómeno difuso de causas múltiplas em que dificilmente se identificam práticas e as suas consequências directas, pelo que dificilmente se avança.
Na Suécia, país que como sabemos está na crista da onda climática, a exportação de activismo climático serve para desvalorizar os problemas ambientais consubstanciados pela eutrofização do Báltico, pelos riscos de catástrofe da sua imensa indústria nuclear ou pela queima de resíduos que são apresentados como ‘reciclagem’.
Saber se são ou não são os factores antrópicos que irão ditar o essencial das mudanças climáticas que temos pela frente é um assunto que exige profundos conhecimentos científicos que não estão ao meu nível nem do da esmagadora maioria da população ou mesmo dos líderes de opinião. Mais importante que isso, não é algo determinante para avaliar a necessidade do combate ambiental, até porque as práticas necessárias para preservar o ambiente levam na sua maioria à diminuição da emissão atmosférica de gases com efeito de estufa.
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Recuperar em favor do ambiente o movimento juvenil de protesto
Não me causa qualquer impressão a arrogância e falta de respeito da jovem sueca que lidera o movimento climático mundial, mais que não fosse, porque com a idade dela, eu fiz pior, mas impressiona-me que o mundo institucional se disponha a colocá-la nos principais palcos mundiais para ela assim papaguear os seus chavões pseudo-científicos como o fez na Cimeira de Nova Iorque.
Por mais de 30 anos a ciência tem sido clara como cristal’ (…) ‘para termos 67% de possibilidades de ficarmos abaixo dos 1.5° de temperatura […] temos de emitir menos de 350 gigatoneladas de CO2 […] o que ao nível actual de emissões nos deixa menos de oito anos e meio’
As instituições políticas internacionais estão assim a substituir o conhecimento científico nas ciências naturais por uma opaca modelização estatística, à imagem do que, com efeitos desastrosos, se fez na teoria económica, transformando-a em dogmas de escrutínio virtualmente impossível.
É possível e necessário inverter este estado de coisas, e para isso, como muito bem diz o Professor Galopim de Carvalho, há que contar com a generosidade e vontade do movimento juvenil sabendo retirá-lo das lógicas e dos interesses estabelecidos para o transformar numa dinâmica em favor do ambiente.
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