Após massivos protestos, o presidente do Chile, Sebastán Piñera, anunciou neste sábado (19) a revogação do aumento da tarifa do metrô de Santiago. “Quero anunciar hoje que vamos suspender o aumento das passagens”, disse Piñera em mensagem no palácio presidencial de La Moneda. Ao longo do dia, houve confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Um pacífico panelaço, com milhares de pessoas em vários pontos de Santiago, foi reprimido com violência. Ao menos cinco ônibus foram queimados.
A capital passou a ser palco de protestos após a convocação de uma série de “evasões em massa” no metrô contra o aumento na passagem no horário de pico. Com base no aumento do preço do petróleo, no dólar e na modernização do sistema, o valor do bilhete do metrô de Santiago nos horários de pico (de manhã e à tarde) subiria de 800 (cerca de R$ 4,63) para 830 pesos (R$ 4,80), caso o presidente não tivesse recuado da decisão.
Na sexta, a ministra dos Transportes, Gloria Hutt, afirmou a jornalistas que o aumento na tarifa não seria revogado. Segundo ela, o governo subsidia quase a metade dos custos operacionais do metrô. Com o povo nas ruas, o governo recuou.
A manifestação de sexta, a princípio pacífico, prosseguiu pela noite, com ataques contra prédios da companhia de eletricidade Enel e do Banco do Chile. Na madrugada deste sábado, Piñera decretou estado de emergência no país para conter as manifestações. O presidente do Partido Comunista do Chile, o deputado Guilermo Teillier, condenou o decreto presidencial e afirmou que, se Piñera não pode governar, “o melhor seria que renunciasse e chamasse novas eleições”.
“O presidente deve suspender o estado de emergência agora, porque o povo já não acredita nele. Tenho a impressão de que o povo não tem medo, não teme a repressão”, declarou Teillier, desafiando Piñera. Segundo dados do governo, a repressão aos protestos já deixou mais de 160 pessoas feridas e 308 presos, além de 41 estações de metrô vandalizadas.
Ainda pela manhã, a coalizão oposicionista Frente Ampla, também declarou apoio ao povo chileno. Segundo sua porta-voz e ex-candidata à presidência, Beatriz Sánchez, “o governo renunciou à democracia” e as manifestações marcam “uma linha divisória” no país. “Nós, como Frente Ampla, dizemos claramente que estamos com o povo”, afirmou Sánchez. Segundo a opositora, “a tarifa do Metrô é só a ponta do iceberg que tem a ver com abusos muito mais profundos e que datam de muito tempo atrás”.
Diversas estações de metrô da capital foram ocupadas na sexta-feira por manifestantes, que foram reprimidos pela polícia. Cerca de 40 estações metroviárias ficaram afetadas por conta dos episódios de violência, o que fez o metrô suspender as atividades neste sábado. Neste sábado, apesar do estado de emergência, novos protestos tomaram as ruas de Santiago e foram alvos de mais repressão da polícia. Em Concepción, manifestantes montaram barricadas para se proteger da ação das forças de segurança. Um quartel da polícia foi apedrejado e diversos ônibus foram incendiados.
O general do Exército Javier Iturrita, encarregado da segurança de Santiago, ordenou toque de recolher. Ele já havia decretado estado de emergência horas antes, num claro sinal de incapacidade de lidar com a situação. Na sexta-feira, o governo já tinha invocado uma lei de segurança que estabelece penas mais duras contra quem causar danos ou impedir o funcionamento de serviços considerados essenciais.
A empresa responsável pela operação dos transportes informou que o metrô da capital – que transporta cerca de 3 milhões de passageiros por dia – deixou de operar. O fechamento será mantido durante o fim de semana.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado