Numa corporação de bombeiros, quem mais sente os problemas de ordem operacional é o seu comandante. Por isso, na sessão solene dos 116 anos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras (AHBVTV), coube a Fernando Barão a exposição de algumas queixas sobre aquilo que entende estar a correr mal no sector.
O comandante prevê que os bombeiros torrienses irão ultrapassar este ano as dez mil saídas em emergência (já passam das oito mil deste janeiro), sendo a quarta mais activa do país com uma média de 900 ocorrências por mês. Os pagamentos pelas ocorrências têm três escalões, até 100 saídas por mês, de 100 a 250 e mais de 250. Mas Torres Vedras tem 900, o que, na opinião de Fernando Barão, “não devíamos receber o mesmo que quem faz 250 serviços”.
Outra preocupação é o facto de “90 por cento das ambulâncias do INEM serem operadas pelos bombeiros” e estamos a ser prejudicados, porque “o INEM está a servir-se de nós e não nos paga o que devia”. Sobre os equipamentos individuais de protecção, Fernando Barão também tem queixas, já que deviam ser no mínimo três por cada elemento e isso não se verifica. Tal como as despesas extraordinárias com os incêndios, que deviam ser pagas durante todo o ano e não apenas no Verão. A propósito, o comandante do corpo activo também lembrou que “necessitamos com alguma urgência de um novo carro de combate a fogos florestais, porque o mais novo já tem 12 anos e queremos substituir os dois mais antigos, um com 30 anos de serviço e outro com 47”.
Mas nem tudo é mau. Nos últimos três anos as ignições no concelho baixaram em cerca de 50 por cento, fruto de campanhas de esclarecimento nas freguesias. Este ano arderam 30 hectares de floresta em território torriense, o que é quase nada.
Da parte dos órgãos sociais da AHBVTV discursou José Correia, presidente da assembleia geral, que elogiou o corpo activo e a banda de música. Gonçalo Patrocínio, presidente da direcção, elogiou os “corajosos soldados da paz” por estarem sempre disponíveis no auxílio aos outros, sem reservas, e afirmou que os bombeiros voluntários são “a maior obra de empreendedorismo social do século XX, que perdura até hoje”. Também se referiu à banda de música, que “é um orgulho para todos nós”, e aproveitou para pedir à Câmara Municipal mais apoios à associação.
Laura Rodrigues, vice-presidente da Câmara, reconheceu que a autarquia tem uma ligação forte com os bombeiros e, da mesma forma, “uma responsabilidade financeira que é sempre escassa para as necessidades”. Destacou ainda a presença de muitos jovens no corpo activo, que são necessários par rejuvenescer os “heróis do impossível”.
Durante os discursos na sessão solene, usou também da palavra Rodeia Machado, vice-presidente da Liga, que também se queixou dos escassos apoios para as associações, sobretudo por parte do INEM, cujos pagamentos “nem chegam para cobrir as despesas com gasóleo”. Lamentou igualmente as mudanças no Governo anterior no que se refere ao secretário de Estado da Protecção Civil, que foi substituído sempre que as negociações estavam a chegar a um entendimento positivo.
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