Recentemente, o “New York Times” traçou um perfil da maneira como se trabalha na Amazon. Para fazê-lo, o repórter foi acompanhado por um gerente da Amazon. E o resultado foi um retrato bajulador de trabalho na Amazon do qual só um chefe poderia gostar.
por Marc Kagan
Durante trinta anos o repórter de relações trabalhistas do “New York Times” foi Steven Greenhouse. Ele não era radical, mas pelo menos demonstrou a crença de que os trabalhadores obtinham o mínimo, conforme está dito no título de seu livro, “The Big Squeeze: Tough Times for the American Worker” (“O Grande Aperto: Tempos Difíceis para o Trabalhador Americano”).
Quem fazia a cobertura trabalhista no “Times”, antes de Greenhouse, era William Serrin. Seu livro mais conhecido, “The Company and the Union: The ‘Civilized Relationship’ of the General Motors Corporation and the United Automobile Workers” (“A Empresa e o Sindicato: O ‘Relacionamento Civilizado’ da General Motors Corporation e da United Automobile Workers”) detalhou como a empresa e o sindicato colaboraram para aumentar a produtividade (e os salários) à custa das demandas dos trabalhadores, facilitando a brutalidade da linha de montagem.
Fábricas poderiam ser humanizadas, pensava Serrin. Mas isso exigia acreditar que os homens e mulheres que nelas trabalham não são idiotas, mas capazes de reimaginar seu trabalho de uma maneira mais satisfatória e menos brutal, e eram capazes de fazê-lo. Serrin não achava que eram idiotas, e lamentava os abusos a que eram submetidos.
Serrin morreu em 2018, e agora deve estar rolando no túmulo porque o atual responsável pela área trabalhista no “Times”, Noam Sheiber, acha que a melhor maneira de descobrir como é trabalhar em uma das mais importantes empresas do mundo, a Amazon, pode ser um passeio por suas instalações no Staten Island Center: “em meados de maio, passei algumas horas, com um gerente da empresa a reboque, observando os trabalhadores e perguntando sobre seus trbalhos. No final, concluí que os dois lados tinham razão”.
Como Sheiber tem olhos e não é idiota, não pôde deixar de ver que o trabalho é “repetitivo”, fazendo os trabalhadores “se assemelharem a robôs”. Ainda assim, ele insiste, “o problema pode ser menos com a Amazon do que com a própria tecnologia”. Magicamente, segundo Scheiber, a tecnologia existe de forma autônoma para o capitalista ou o engenheiro – ninguém assume nenhuma responsabilidade pelas condições de trabalho (e, portanto, ninguém pode ser responsabilizado por isso).
Além disso, os trabalhadores com quem Sheiber conversou – mais uma vez, “com um acompanhante da empresa a tiracolo” – pareciam alegres. Um “parecia ser um funcionário de ponta da Amazon”. O que realmente excitou Sheiber foi que esse trabalhador era alguém que via o mundo pelos olhos de um gerente… “Eu tento encontrar maneiras de me tornar mais eficiente”, disse. É claro que qualquer local de trabalho tem alguns stakhonovistas
Receba regularmente a nossa newsletter
Contorne a censura subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream. [/jaw_cta]